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"Brasileiros querem coisas novas, mesmo que elas piorem para depois melhorar", diz Luiz Olavo Baptista

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O professor emérito de Direito Internacional da USP e fundador do think thank “Atelier Jurídico”, Luiz Olavo Baptista, acompanhou de longe a disputa eleitoral no primeiro turno do Brasil. De Paris, ele observou os resultados das urnas e considera difícil uma mudança de cenário durante a votação decisiva para a presidência da República disputada entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

Luiz Olavo Baptista, professor emérito da USP
Luiz Olavo Baptista, professor emérito da USP RFI
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"O 1° turno foi uma indicação do que será o 2° turno. A diferença é grande entre Bolsonaro e Haddad. Ele chegou a 49% dos votos e é muito difícil ultrapassar. E olhando os índices de rejeição de ambos, o dele é menor”, constata.  

Luiz Olavo ainda tem uma explicação sobre o pouco número de votos que faltou ao candidato do PSL para ter sido consagrado ainda no dia 7 de outubro.

“Os 2% que faltaram para ele ser eleito no 1° turno são os chamados eleitores envergonhados, que não querem dizer para ninguém que estão votando no Bolsonaro porque as ideias dele não são universalmente populares”, afirmou.

O especialista, de 80 anos, desenvolveu uma comparação do fenômeno Bolsonaro com dois líderes americanos, o ex-presidente democrata Barack Obama, e o atual, o republicano Donald Trump.

“Quando digo isso as pessoas se assustam. Mas Obama e Trump se elegeram respeitando um universo de indústrias e regiões em decadência. Eles representam o pensamento dessas pessoas. A adesão que eles têm é reciprocada pelo eleitorado que os elege. A política exterior de ambos é igual. A maneira como eles apresentam os Estados Unidos é igual. A fidelidade do candidato ao seu eleitorado é fundamental. O Bolsonaro tem isso. As pessoas que votam nele, acreditam nele”, argumenta.

Marketing político próprio

Reconhecendo que há eleitores “fanáticos” tanto para Bolsonaro quanto para Haddad, Luiz Olavo observa que o candidato do PSL representa o fato “novo” que a maioria do eleitorado busca e se diferencia do adversário também no âmbito da comunicação. Ele não precisa de profissionais de marketing político para divulgar suas ideias e projetos, lembra o professor emérito da USP.

“Não consigo me recordar de nenhuma peça publicitária, agência ou ‘marketeiro’ de Jair Bolsonaro. Ele mesmo é que faz isso. Do outro lado, Haddad tem peças de prepaganda bem feitas, profissionais de marketing. Até depois de Lula ter deixado a possibilidade de ser candidato o slogan dele mudou.  Nesse sentido, há uma diferença entre o novo e o antigo. E aí a população, no geral, quer um novo”, insiste.  

A ascensão do candidato Bolsonaro tem ainda um forte componente econômico, na análise de Luiz Olavo Baptista.  

“O Bolsonaro tem uma visão familiar de pai de família antigo. Ele representa uma camada importante da população brasileira, que é os que passaram da classe “D” para a classe “C”, que tinham até o ensino médio e conseguiram colocar os filhos para cima, no ensino superior. Essa camada é a que mais sofre com o desemprego, causado pela desordem econômica das últimas décadas”, diz, em referência ao período em que o governo foi comandado principalmente pelo PT.

Economia vai demorar para melhorar

Especialistas de Relações e Comércio Internacional, o professor Luiz Olavo, que também participou das discussões para criação do Mercosul, não arrisca dizer como seria a política externa de Jair Bolsonaro caso seja eleito presidente.

“Impossível saber, tenho a impressão que ele nunca pensou e nem falou sobre isso. Ele descobrirá alguém que será o guru dele nesta matéria, que ele confia, como ele buscou o Paulo Guedes para se seu economista”, diz.

“Ele está criando um ministério à moda antiga, com cada ministro responsável por um assunto e ele dá a orientação geral. Isso é da mentalidade militar, é uma delegação com autonomia relativa”, avalia.

Já sobre o candidato petista, o professor emérito da USP estima que não haverá muitas perspectivas de mudança.

“O Haddad já deixou muito claro que quer continuar com uma política bolivariana dos tempos do Lula e da Dilma e quer aprofundar. É um pensamento diferente, mas que também é antigo”, afirma.

“Globalmente o povo brasileiro quer alguma mudança, e não quer mais do mesmo. Ele quer ter esperança que as coisas mudem, mesmo que elas tenha que piorar para depois melhorar”, argumenta.

Mas o especialista avisa que não se pode ter a ilusão de que será possível melhorar a economia brasileira rapidamente. “Ela vai levar uns 15 anos para voltar a ser o que foi no final do governo de Fernando Henrique”, prevê.  

 

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