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Bolsonaro é produto de "avacalhação" da democracia brasileira, diz analista

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O cientista político Jorge Zaverucha vê a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência como o resultado de um longo processo de degeneração da democracia brasileira, agravado nos últimos anos, em sua visão, pelos governos petistas.

O cientista poítico pernambucano Jorge Zaverucha.
O cientista poítico pernambucano Jorge Zaverucha. Arquivo Pessoal
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Em entrevista à RFI, o professor titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado na Universidade Hebraica de Jerusalém e doutorado pela Universidade de Chicago, critica a falta de seriedade das instituições brasileiras, na origem do fenômeno Bolsonaro.

Para Zaverucha, há décadas as instituições brasileiras atuam de forma antirrepublicana, especialmente a cúpula do Judiciário, sob influência do Executivo. Ele cita, por exemplo, a posse recente do ministro Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). "Ele trabalhou com José Dirceu na Casa Civil e foi advogado do PT; em lugar nenhum sério do mundo, este cidadão poderia ser presidente da Suprema Corte Federal", afirma. A indicação de Gilmar Mendes para o STF, depois de trabalhar diretamente na Advocacia Geral da União com Fernando Henrique Cardoso, é outro caso condenado pelo analista.

A indignação de Zaverucha remonta até o "nascedouro da nossa democracia", a Constituinte de 1987-1988. "Terminada o que viria a ser a versão final da Constituição de 1988, entre a gráfica e a sala de reuniões, Nelson Jobim [então deputado Constituinte pelo PMDB gaúcho] inseriu dois artigos clandestinos no texto sem submetê-los ao Plenário", recorda. "Em vez de Jobim ser afastado da vida pública pela gravidade do que aconteceu, ou ser cassado pela Ordem dos Advogados do Brasil por ser um advogado, o que poderia ter acontecido, ele foi premiado com os cargos de ministro da Justiça de Fernando Henrique, depois foi presidente do STF e ainda ministro da Defesa do governo Lula", recorda Zaverucha.

Em 2003, Jobim revelou que um dos artigos clandestinos era sobre a independência dos poderes (artigo 2°). Sobre o outro artigo, o ex-líder do PMDB prometeu escrever um livro com explicações, mas não o fez até hoje. De acordo com uma investigação realizada por dois professores da Universidade de Brasília (UnB), em 2006, publicada no artigo “Anatomia de uma Fraude à Constituição”, Jobim e o líder do PTB na época, Gastone Righi (SP), teriam enxertado dispositivos no artigo 166 que beneficiaram os credores da dívida externa brasileira.

"Este é o Brasil, esses são exemplos de como as instituições são avacalhadas neste país", reprova Zaverucha.

Mulheres devem fazer a diferença

Enfático nas críticas aos quadros do PT e do PSDB, Zaverucha é tolerante quando fala da chapa formada pelo presidenciável Jair Bolsonaro e seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão. Um dia depois de Bolsonaro ser ferido à faca em Juiz de Fora (MG), Mourão declarou que, em situação hipotética de anarquia, poderia haver um autogolpe por parte do presidente com o apoio das Forças Armadas. "Ele é um militar que de repente foi guindado a uma posição de destaque e tem falado sobre assuntos que não domina. Muitas vezes ele é infeliz na frase ou sua fala é retirada do contexto, e termina por contribuir para a situação de insegurança democrática que existe hoje no país", justifica o professor da UFPE.

Quando o assunto são as declarações homofóbicas, misóginas e preconceituosas de Bolsonaro contra indígenas e negros, Zaverucha julga serem "lamentáveis". "Ele está colhendo o que plantou", diz, lançando uma advertência para que Bolsonaro tenha mais cuidado depois da mobilização das mulheres no último sábado (29). "Eu nunca vi na história do Brasil uma mobilização como essa, acho que ele deveria tomar mais cuidado", aconselha.

Estratégia é vencer no primeiro turno

Sobre as dificuldades de Bolsonaro para construir uma futura base de apoio no Congresso, caso venha a ser eleito, depois do trabalho que teve para encontrar um vice, Zaverucha antevê uma tática.

"Esta é uma pergunta em aberto tanto para Bolsonaro quanto para Fernando Haddad (PT). Principalmente para Bolsonaro, que tem um discurso antiestablishment e critica [Geraldo] Alckmin (PSDB) por estar apoiado pelos partidos de centro. O que ele acredita – e se isso vai funcionar, nós veremos – é que, com a possível força de sua vitória no primeiro turno, ele chegue ao Congresso com poder de barganha."

Tem sido uma constante entre os simpatizantes de Bolsonaro o apelo por uma vitória no primeiro turno, já que as pesquisas mostram que o candidato da extrema direita seria derrotado no segundo turno por Haddad, Ciro ou Alckmin, os três principais adversários na disputa.

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