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Manuela/Mourão

Manuela é menos radical que Mourão, aponta historiador

As duas chapas presidenciais à frente na disputa eleitoral de 2018, encabeçadas por Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), de acordo com as pesquisas de intenção de voto, têm como vices duas personalidades fortes e de perfil político antagônico: o general Hamilton Mourão, de 65 anos, e a “comunista” Manuela d’Ávila, de 37 anos.

Manuela D'Ávila em campanha com Fernando Haddad (14/9/18), na Rocinha.
Manuela D'Ávila em campanha com Fernando Haddad (14/9/18), na Rocinha. REUTERS/Pilar Olivares
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Enviada especial ao Rio de Janeiro

Mourão, general da reserva e vice da chapa de extrema direita, investia em sua carreira militar quando Manuela, a candidata a vice pelo PC do B, nasceu. Em comum, os dois têm apenas o local de nascimento: Porto Alegre (RS). No mais, eles representam um choque de gerações.

Pelo histórico de oito vice-presidentes que chegaram ao poder desde a Proclamação da República em 1889 – a temida “maldição do vice“ –, o eleitor brasileiro compreendeu a duras penas que também é preciso escolher bem o vice-presidente.

Formada em jornalismo, Manuela chegou ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) pela militância estudantil. Ela foi filiada à União da Juventude Socialista, braço do PC do B, e depois ingressou na vida partidária. Foi eleita vereadora, duas vezes deputada federal, deputada estadual, além de ter concorrido duas vezes à prefeitura de Porto Alegre. Suas plataformas são a defesa dos direitos das mulheres, da população LGBT, de uma sociedade diversa e mais justa socialmente. Ser uma mulher livre e com ambição política faz Manuela ser alvo de assédio e insultos machistas nas redes sociais.

Já o general Mourão, que teve uma carreira militar bem-sucedida no Brasil e no exterior, com passagens por Angola e Venezuela, permaneceu com uma mentalidade ultraconservadora. Suas declarações polêmicas na campanha, como a de que “casa só com avós e mães vira uma fábrica de desajustados” e que é “desonesto intelectualmente dizer que o Brasil teve uma ditadura militar” incomodaram Bolsonaro, que pediu ao vice para moderar a fala. Chamar os africanos de “mulambada” revelou seu viés discriminatório.

Entre os simpatizantes de Manuela e os adeptos do estilo linha dura de Mourão observa-se a mesma polaridade que está contaminando as discussões e impede e o debate programático tão importante perante a crise.

Temática feminina é chave nesta eleição

A questão da mulher está no centro da atual campanha política, destaca o historiador Américo Freire, da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (FVG). Dos 147,3 milhões de eleitores aptos a votar, 52,5% são mulheres e 47,5 homens.

A presença de mulheres nunca foi tão expressiva nas candidaturas: duas encabeçam chapas presidenciais, Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU), e três concorrem ao cargo de vice – Manuela d’Ávila (PT-PC do B); Ana Amélia, na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB-PP), e Kátia Abreu, vice de Ciro Gomes (ambos do PDT).

Historicamente, os candidatos a vice-presidente vinham sendo escolhidos como nomes de acomodação, de composição, diz o historiador. O poder do presidente no Brasil é tão grande, que o vice costuma ficar apagado; só em casos de crise, ele aparece”, explica o professor da FGV.

“O que está chamando a atenção nesta eleição é que o general Mourão veio da ala mais à direita do Exército e quer se colocar como um representante do Exército”, explica Freire. Para ele, é mais importante a presença militar no sistema político do que um partido. Já Manuela vem de um partido com tradição. Mas o PC do B não deve ser avaliado como um partido de extrema esquerda.

“Há muito tempo a sigla vem atuando na faixa mais à esquerda, compondo com o PT, com o PSB, fazendo parte de um bloco de esquerda. Extrema esquerda no espectro brasileiro é o PSTU, e o PCO. “O PC do B não tem esse perfil e Manuela também não”, ressalta Freire. “Manuela, assim como Haddad, têm uma identidade política parecida, com um perfil mais voltado à negociação. Tanto é que ela abriu mão de sua candidatura em prol de Haddad. Juntos, eles compõem uma chapa de esquerda que deve ter como plano estratégico chegar à centro-esquerda no segundo turno.

O historiador considera “explosiva” a chapa de Mourão e Bolsonaro, devido aos desentendimentos que já estão ocorrendo entre eles.

Mourão está querendo ocupar o centro do palco, o que não é comum em vice-presidentes. Um desautoriza o outro. É uma chapa muito problemática, que demonstra que será difícil o manejo dessa dupla, caso eles cheguem à presidência. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que estamos em uma fase da campanha em que há muito jogo de cena, muito espetáculo. A eleição de Bolsonaro não vai necessariamente representar o retorno da ditadura. Estamos celebrando os 30 anos da Constituição cidadã de 1988. Já existe um enraizamento dos valores democráticos no Brasil e sabemos o que representa o custo de implementação de um regime autoritário militar no país. Na minha opinião, há muito jogo de cena. O quadro de instabilidade existe. Mas as instituições vão conter os excessos. Eu espero que haja segundo turno porque será o tempo de buscar uma certa recomposição do cenário político brasileiro. A temperatura deve baixar.”  

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