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“Quero nossa democracia de volta” pede cineasta brasileiro Fellipe Barbosa em Veneza

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O filme brasileiro “Domingo”, dirigido por Fellipe Barbosa e Clara Linhart, participa do Festival de cinema de Veneza que acontece neste momento. O longa, selecionado na secção Venice Days, mostra paralela do festival italiano, entra na competição neste final de semana. Em entrevista à RFI Fellipe Barbosa, que está na Itália, falou sobre seu filme que reflete o momento político brasileiro atual.

O cineasta Fellipe Barbosa.
O cineasta Fellipe Barbosa. Arquivo Pessoal
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“Domingo” é um filme político e esta temática acabou dominando a entrevista com o cineasta neste momento de muita indefinição no Brasil. O filme, o terceiro assinado por Fellipe Barbosa, é ambientado no dia primeiro de janeiro de 2003, dia da posse histórica do presidente Lula. “Domingo” narra uma festa extravagante de uma família burguesa do interior gaúcho e aborda os medos da elite brasileira com uma suposta revolução do proletariado.

A exibição no Festival de Veneza é a estreia internacional e o diretor está ansioso para descobrir, pela primeira vez, a reação do público: “Não dá para ter controle sobre os efeitos de um filme, ainda mais um filme como este que foi escrito em 2005, quando jamais poderíamos imaginar as mudanças que ocorreram no Brasil desde então. Tão pouco, poderíamos imaginar que o Lula estaria preso”, diz.

Ciclo de opressão

O roteiro de “Domingo”, assinado por Lucas Paraízo, estava pronto mais ou menos na mesma época que “Casa Grande”. O primeiro longa do diretor, de 2014, aborda a decadência de famílias de classe alta brasileira, mas em um momento em que as classes baixas conquistavam mais direitos, em consequência das políticas adotadas pelos governos do PT.

“Foi um pouco o destino. Acabamos deixando ‘Domingo’ por último. Não foi uma escolha consciente, mas acho peculiar que este filme esteja sendo lançado neste momento histórico. Ele fala de um momento anterior, em que não sabíamos o que aconteceria no Brasil, em que a burguesia projetava todos os seus medos de perder seus privilégios. Medo esse que se provou falso (na era Lula)”, explica.

O cineasta revela que seu filme fala muito sobre o “ciclo de opressão” no Brasil.

Fellipe Barbos e Clara Linhart, diretores de "Domingo".
Fellipe Barbos e Clara Linhart, diretores de "Domingo". Arquivo Pessoal

Democracia de volta

Fellipe Barbosa “não gostaria que o ex-presidente Lula estivesse preso”, apesar de ser incapaz de avaliar se ele deveria ou não ser candidato. “Acho que é muito perigoso também ele ganhar. Minha maior preocupação é que o vencedor das eleições tome posse, seja reconhecido e se torne presidente; que tenhamos nossa democracia de volta!”

O cineasta critica a “protelação infinita de quem será o candidato do PT. Ele teme que esta estratégia beneficie o segundo candidato nas pesquisas “cujo nome eu me recuso a falar. Esse é o grande medo que a gente tem. Me recuso a falar o nome dele porque a gente acaba contribuindo para a campanha dele.”

Prêmios em Cannes

O segundo longa de Fellipe Barbosa, “Gabriel e a montanha”, concorreu na Semana da Crítica de Cannes, em 2017, foi super elogiado, levou 3 prêmios e foi sucesso de público. Ele foi o segundo filme latino-americano mais visto na França no ano passado. O diretor espera que “Domingo”, que chega aos cinemas franceses em 10 de outubro, tenha a mesma recepção, mas sua maior preocupação “é que ele seja visto no Brasil, onde o cinema está bem estranho, com baixa frequentação e má distribuição.” O lançamento do filme nos cinemas brasileiros está previsto para 10 de janeiro de 2019, mas antes “Domingo” abre o Festival de Brasília, no próximo dia 14 de setembro.

Outros dois filmes brasileiros têm presença no festival: "Deslembro", de Flávia Castro, na mostra Horizontes; e o documentário "Humberto Mauro", sobre o pioneiro do cinema nacional, dirigido por André Di Mauro, na Venice Classics. Nenhum está na competição oficial pelo Leão de Ouro, mas essa participação de três longas no mais antigo festival de cinema do mundo reflete, apesar da crise, “um momento fantástico” da produção cinematográfica brasileira”.

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