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“Temos que lutar para que não haja adiamento das eleições no Brasil”, diz Celso Amorim

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 Para ouvir a entrevista na íntegra, assista o vídeo abaixo.O ex-ministro brasileiro das Relações Exteriores Celso Amorim está em Paris para participar de uma conferência sobre o Brasil. De passagem pelos estúdios da RFI, o diplomata falou sobre o impacto da crise brasileira na imagem do país e defendeu a participação do ex-presidente Lula na eleição de outubro. Para ele, só assim “o próximo governo terá legitimidade”.

O ex-chanceler Celso Amorim nos estúdios da RFI em Paris
O ex-chanceler Celso Amorim nos estúdios da RFI em Paris RFI
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A visita de Amorim à capital francesa acontece em um momento em que as pesquisas de opinião continuam apontado a liderança de Lula na corrida presidencial de outubro, embora o ex-chefe de Estado permaneça na prisão, sem previsão de libertação. Uma situação surrealista vista de fora, que provoca questionamentos quando o ex-ministro, que representou o Brasil no exterior durante o governo Lula e comandou a pasta da Defesa no governo Dilma, desembarca no exterior. “Os políticos franceses me perguntam o que está acontecendo com o Brasil”, desabafa o diplomata, consciente da dificuldade de se explicar o complexo cenário político que enfrenta atualmente o país latino-americano.

Segundo Amorim, a crise tem isolado cada vez mais o Brasil. “Os presidentes não ligam de volta para as chamadas do presidente Temer”, comenta o ex-ministro, que continua em contato com lideranças políticas pelo mundo, herança dos tempos em que representava Brasília em negociações cruciais junta à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Apesar do golpe ter correspondido a certos interesses do capital financeiro internacional, os presidentes não querem se contaminar com um governo tão desacreditado e sem legitimidade como é o governo brasileiro atual”, sentencia.

Essa rejeição internacional se exprime também dentro do país, onde Temer goza de uma taxa de aprovação popular de apenas 3%, a menor já registrada por um presidente brasileiro, ainda que os protestos nas ruas sejam cada vez mais raros. Diante dessa constatação, Amorim confirma que os que se beneficiaram das políticas sociais implementadas durante o governo Lula, e que poderiam se manifestar, estão cada vez mais dispersos. “Porque que as pessoas que foram para as ruas e bateram panela não eram contra a corrupção. Essas pessoas, que se apropriaram indebitamente da camisa da Seleção brasileira, a tal ponto que as camisas agora estão encalhadas, eram contra o projeto progressista que Lula e a Dilma encarnaram”, analisa.

Direita no Brasil é meio enrustida

Para o ex-ministro, o Brasil vive atualmente uma reação a um “projeto progressista” marcado pela busca de mais justiça social e de menos subordinação aos interesses das potências hegemônicas. No entanto, aponta Amorim, “a combinação dessas duas dimensões incomodou muito e gerou as condições que levaram a um golpe”.

Isso teria contribuído para a consolidação de nomes como o de Jair Bolsonaro, que aparece como segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto. “A direita no Brasil sempre foi muito enrustida”, define. “Mas essa polarização, fruto de vários fatores, inclusive a própria crise econômica e o progresso social alcançado, despertou muito ódio e ressentimento das pessoas que não querem que haja progresso das camadas mais pobres. Não querem ver negros nas universidades, mulheres exercendo postos de poder, ou pessoas LGBT sendo aceitas e tendo uma presença normal na sociedade”, lista, antes de comparar com os movimentos de extrema-direita europeus: “O fascismo na Europa pelo menos é nacionalista – mesmo se isso não salve nada, nem melhore. Já no Brasil, o fascismo é neoliberal e entreguista”.

"Golpe militar está fora de cogitação"

Talvez por essa razão Amorim não leve à sério as teorias de uma possível intervenção das Forças Armadas no contexto político. “Um golpe militar está fora de cogitação”, comenta o diplomata, que diz ter boas relações com o Exército, grupo que esteve sob sua tutela quando detinha a pasta da Defesa. “Mas às vezes temo que haja uma conspiração civil, que tenta utilizar os militares para consolidar uma situação”, pondera.

“Uma das coisas que temos que lutar é para que não haja adiamento das eleições”, insiste Amorim. Além disso, prossegue, esse pleito deve ser “livre, justo e correto”. Algo que só será possível "se todas as forças políticas de peso estiverem representadas", frisa.  “E isso inclui naturalmente a possibilidade da candidatura do presidente Lula”.

O ex-chanceler, que já teve seu nome cogitado para ser vice de Lula na corrida presidencial – hipótese que ele descarta –, insiste na ideia do líder petista como único candidato crível na campanha. “Respeito o Ciro Gomes como personalidade política e acho que é um bom administrador, mas acho que o Lula também é. E Lula é o preferido do povo brasileiro. Eu sou muito a favor de uma frente de esquerda, mas não vejo porque o PT, que tem o candidato mais forte, tem que abrir mão para um outro candidato”, avalia.

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