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“Nossa música não está mais conectada com o povo”, diz compositor André Mehmari

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O compositor, arranjador e pianista André Mehmari fez seu primeiro concerto em Paris neste fim de semana. Conhecido por misturar referências eruditas e populares, além de uma vasta produção, marcada por parcerias com grandes nomes da música e indicações para o Grammy, ele se apresentou com a Orquestra Regional da Normandia, antes de falar com a RFI.

O pianista e compositor André Mehmari nos estúdios da RFI em Paris.
O pianista e compositor André Mehmari nos estúdios da RFI em Paris. RFI
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Mehmari já havia se apresentado em outras cidades da França, além de já ter gravado discos na capital francesa. No entanto, o concerto deste sábado (9) na sala Gaveau, ao lado da também pianista Cristina Ortiz, foi especial. “Tocar na sala onde Villa-Lobos estreou suas obras em Paris é algo muito significativo”, conta o compositor, que trouxe ao público uma obra comissionada pela Orquestra francesa.

Músico precoce, que aos 10 anos de idade já improvisava e compunha, Mehmari sempre gostou das misturas. “A música sem fronteiras entrou muito cedo na minha vida”, relata o compositor, que desde a infância ouvia todas as sonoridades, graças a uma mãe que tocava piano antes mesmo dele nascer. Talvez por essa razão ele consiga passear tão bem entre os clássicos, seu trio de jazz e incursões no repertório popular brasileiro.

Sério e preciso na exposição de seu trabalho e sua carreira, que, aliás, ele afirma não planejar, Mehmari fala às vezes como alguém muito mais idoso que os seus 41 anos. Mas se engana quem pensa que o pianista parou nos tempos dos discos de vinil. “O músico de hoje tem que se interessar pelo aspecto da difusão da arte na era digital. O mundo mudou de uma forma muito veloz e radical. O músico tem que ser muito ágil para se adaptar a esses novos cenários que se impõem muito rapidamente. Não é mais uma escolha você participar ou não do Facebook ou do Youtube. Você tem que participar, senão você não existe”, afirma.

“Sociedade brasileira acha cultura algo superficial”

Talvez esse pragmatismo explique uma carreira tão diversificada. “Essa versatilidade é algo positivo no momento que vivemos no Brasil”, aponta o compositor, que constata “uma crise econômica, institucional e de identidade” no país. Mas para ele, essa fase também pode ser positiva, para “nos reinventarmos como brasileiros, lembrando do que nos honra, como a nossa música, valorizada no mundo inteiro”.

Apesar disso, Mehmari chama a atenção para o fato de a música brasileira “não estar conectada com seu povo como outrora. A música popular brasileira de grande qualidade já não é mais a música ‘popular’. Ela é uma música de nicho”, analisa.

“Espero que a gente saia mais maduro desse momento, que é uma fase difícil, principalmente para os artistas. Pois a cultura e a educação são as primeiras coisas que se corta quando há uma crise no Brasil. A própria sociedade acha a cultura algo superficial, o que é fruto de má educação, que não se corrige em uma geração”, finaliza o compositor.

Assista a entrevista completa no vídeo abaixo ou clique na foto acima para ouvir. 

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