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RFI Convida

"Não vai haver eleição no Brasil em 2018", diz Vladimir Safatle

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O RFI Convida nesta sexta-feira (27) o filósofo, professor da USP e colunista do jornal Folha de S. Paulo, Vladimir Safatle. Em Paris, ele deu uma série de aulas na universidade Paris VII, também conhecida como Paris-Diderot. Na entrevista, Safatle analisa o período pré-eleitoral no Brasil. 

O filósofo Vladimir Safatle.
O filósofo Vladimir Safatle. RFI/Élcio Ramalho
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* Para ouvir a entrevista na íntegra, clique na foto acima

Segundo Vladimir Safatle, a palavra que define politicamente o Brasil neste ano de eleições é desagregação. "O Brasil é um país em desagregação, sua experiência de constituição de uma democracia liberal minimamente sustentável foi um fracasso, eu diria que o pacto que produziu uma nova República mostrou completamente o seu esgotamento", analisa.

"O que nós vivemos agora é um momento de degradação institucional, dos atores políticos e de brutalização dos conflitos sociais, que tende, a meu ver, a piorar", acrescenta. Durante seu giro internacional, Safatle afirma que nota que a percepção geral das pessoas sobre o Brasil é de "espanto".

"É sempre bom lembrar que há cinco, seis anos atrás, o Brasil era considerado a bola da vez, era visto como uma potência emergente. As análises do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) diziam que em 2018 o Brasil seria a quinta economia do mundo", destaca. 

"De repente, este cenário se desagregou de maneira muito rápida. Todo mundo [fora do Brasil] se pergunta o que de fato aconteceu. Não era uma análise só do governo brasileiro, era uma análise partilhada por todos, de que a economia e o processo democrático brasileiros eram sólidos, e tudo isso se mostrou completamente ilusório", diz o filósofo.

"Isso coloca uma questão para mim muito interessante, qual o nível de autoengano, de autoilusão que o Brasil precisa para dar conta de enxergar o mais concreto da sua realidade, a sua própria fragilidade", afirma.

Golpe militar no Brasil

Vladimir Safatle acredita concretamente na possibilidade de um golpe militar no Brasil. "Sem sombra de dúvida, eu não teria a menor dúvida a esse respeito. Eu diria até um golpe militar mesmo clássico", avalia.

"Uma coisa é certa, as Forças Armadas saíram completamente de seu esquadro normal dentro de uma democracia liberal e se tornaram um ator fundamental da política brasileira", diz Safatle. 

"Você tem duas possibilidades: a primeira é que o Brasil se transforme numa espécie de Turquia soft, um país onde você tem um poder moderador que é o Exército. O jogo democrático é uma pantomima, as Forças Armadas definem os limites. E se o conflito social no Brasil entrar numa dinâmica muito mais dura, é possível um golpe militar no senso tradicional do termo", arrisca.

"O poder judiciário no Brasil é monárquico, é o único que opera sem nenhum tipo de intervenção da população, ninguém te escolha", diz o filósofo. "A partir do momento em que advogados de defesa do Lula foram grampeados pela Justiça, uma coisa absolutamente impensável, o Estado não pode grampear advogados, a partir do momento que as conversas dele com a presidente da República foram grampeadas e divulgadas no mesmo dia, horas depois, em cadeia nacional, o processo se transformou num processo simplesmente político", afirma.

Bolsonaro é "candidato feito para não ganhar eleição"

Não haverá eleições em 2018, segundo Safatle. "Existem várias maneiras de não haver eleição. O Brasil teve eleição até 1930, sem eleição. A gente criou essa figura: eleição sem eleição. (...) Uma eleição no interior da qual você tira os candidatos que vão contra o interesse de quem 'deve' ganhar", analisa.

"Bolsonaro é como a Marine Le Pen na França, é um candidato feito para nunca ganhar", analisa o filósofo. "A função dele não é ganhar. A função dele é outra. A função dele é jogar a pauta do debate à direita e, segundo, é criar uma situação na qual qualquer um que for com ele para o segundo turno, ganha", diz Safatle.

"Como no caso do Macron na França, alguém que não tinha base política nenhuma, passa para o segundo turno com uma anti-candidata [Marine Le Pen°, e ele ganha", conclui.

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