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“Maio de 68 no Brasil começou em março de 68”, diz historiadora

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O Instituto de Altos Estudos da América Latina (IHEAL), em Paris, organiza nesta quinta-feira (29), um colóquio a respeito do ano de 1968 na América Latina. O objetivo é debater se houve a influência do Maio de 68 francês na região.

A historiadora Angélica Muller fala sobre 1968 no Brasil.
A historiadora Angélica Muller fala sobre 1968 no Brasil. RFI
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Para a historiadora Angélica Müller, da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, e professora convidada do IHEAL, o encontro vai justamente mostrar “que a América Latina tem conjuntura e causas próprias, levando à eclosão de diversos movimentos, que são inclusive encampados pela juventude, como nos casos argentino, chileno e brasileiro”.

“Existe uma visão muito francesa de que Maio de 68 influenciou o restante do mundo, quando na verdade, e o próprio caso brasileiro demonstra, o nosso maio não acontece em maio, o nosso maio acontece em março”, explica a historiadora. “A ditadura vinha desde 1964 colocando o movimento estudantil organizado na ilegalidade, os estudantes vinham demonstrando uma resistência ao governo militar, isso já cresce em 1967, mas é em março de 1968, com a morte de um estudante secundarista, Edson Luís, pela polícia, no restaurante Calabouço, no Rio, que vão começar as grandes manifestações do 68 brasileiro”, acrescenta Müller.

Desdobramentos

Para a professora da UFF, o contexto político na América Latina era muito mais grave do que que os detonadores da rebelião estudantil na França. “Os desdobramentos culturais vieram a posteriori. O evento abre uma certa perspectiva. No caso latino-americano, as guerras de libertação nacional têm muita importância, incluindo a interferência americana no Vietnã, mas principalmente o impacto da revolução cubana de 1959”, explica Angélica.

“A França tinha um contexto próprio. Em questão de libertação nacional, havia o caso da Argélia, que estava fervendo. Há leituras que colocam o maio francês muito mais para uma onda de mudanças culturais, o que não é verdade, pois havia toda uma questão da era gaullista que estava em jogo. Havia aumento do desemprego e os estudantes estavam insatisfeitos com a maneira como estavam sendo encaminhadas as questões universitárias. Havia sem dúvida uma questão pela liberdade, pela autogestão, que é a grande bandeira francesa”, opina a historiadora.

Calendário diferente

Para Angélica Müller, o “momento 68” na América Latina, sobretudo no Brasil, “veio de maneira diferente”. Ela fala também em “anos 68”, que extrapolam o ano calendário: “No Brasil, 1968 é um ano calendário com uma pauta extremamente politizada, por conta da ditadura. E o AI 5 termina 1968 impondo a censura, o fim do habeas corpus, provocando uma modificação das ideias de resistência que vinham se pensando até aquele momento”.

“A agenda cultural, ou de modos, como a questão do feminismo, dos novos movimentos sociais, não estavam necessariamente na pauta do movimento estudantil” no Brasil, relata Angélica. “Basta pensar em alguns grupos guerrilheiros, que eram machistas e homofóbicos – período que vai até o início dos anos 1970, quando entra em cena esses novos movimentos sociais e uma nova esquerda”, conclui.

 

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