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Imprensa

Brasil "é mais violento do que o Iraque", diz Libération

O jornal Libération desta sexta-feira (23) traz uma coluna assinada pelo belga Frédéric Vandenberghe, professor de sociologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

O jornal Libération publica uma coluna assinada por Frédéric Vandenberghe, professor de sociologia da UERJ, sobre as consequências da violência política no Brasil.
O jornal Libération publica uma coluna assinada por Frédéric Vandenberghe, professor de sociologia da UERJ, sobre as consequências da violência política no Brasil. Fotomontagem RFI
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"Brasil: da violência criminal à violência política" é o título do artigo assinado por Vandenberghe. O texto lembra que, embora o Brasil registre 60 mil assassinatos por ano, sendo "um país mais violento do que o Iraque", crimes políticos eram até então raros. Mas, salienta, dia 14 de março, Marielle Franco, vereadora do Rio que "representava a nova geração de políticos" foi assassinada. 

Vandenberghe reproduz o percurso percorrido por Marielle, "garota da favela", "negra, bela, jovem e carismática", formada em sociologia e com mestrado em administração pública, feminista, lésbica, defensora dos direitos humanos, das mulheres e dos excluídos, integrante da Assembleia Municial do Rio de Janeiro. Foi "assassinada com quatro balas na cabeça, ao lado de seu motorista Anderson Pedro Gomes", salienta.

O sociólogo belga escreve que no Brasil, apesar das ameaças constantes aos defensores dos direitos humanos, assassinatos políticos não são comuns. Segundo ele, o assassinato de Marielle foi, "sem dúvida, perpetrado pela polícia militar ou milícias paramilitares, ou os dois". Com a morte de Marielle e seu motorista Anderson Pedro Gomes, a mensagem foi clara, diz Vandenberghe: "não se metam conosco". Afinal, ressalta, "todos aqueles e aquelas que denunciam publicamente a violação dos direitos humanos e defendem o povo das favelas e das periferias podem ser executados, torturados ou desaparecer".  

Marielle morreu porque lutava 

Para o sociólogo, Marielle foi morta porque "lutava contra a tradicional política oligárquica e patrimonial do país" e "se opunha frontalmente a um sistema político gangrenado pela corrupção". Dois anos antes, foi a vez de Dilma Rousseff sofrer um golpe de Estado, diz o professor, com o objetivo de "terminar com as investigações sobre a corrupção sistêmica que chegou ao nível mais alto do Estado". Vandenberghe lembra que recentemente Michel Temer - que assumiu a presidência após a destituição de Dilma - foi acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e  participação em organização criminosa, mas foi livrado de um impeachment porque senadores e deputados "envolvidos como ele em casos de corrupção, foram comprados para votar contra seu indiciamento". 

De acordo com o professor da UERJ, a política brasileira virou uma máfia: "criminosos de colarinho branco dirigem o país", enquanto traficantes, milícias, esquadrões da morte e a polícia aterrorizam os moradores das favelas e periferias. Em um país que viveu uma brutal ditadura militar, a militarização da política brasileira também é preocupante, avalia, salientando que pela primeira vez desde a volta à democracia, os militares estão a cargo do Ministério da Defesa, do Interior, e dos serviços secretos. 

"A 'Nova República' ainda é uma democracia, mas por quanto tempo?", questiona Vandenberghe que, reitera: "as instituições entram em colapso, uma após a outra. A separação dos poderes executivos, legislativo e judiciário se tornou uma ilusão. Existe um Estado dentro de um Estado", escreve. Por isso, para ele, a execução de Marielle não deve ser um pretexto para a continuação da militarização do país. E a denúcia que a própria vereadora fazia deve ser perpetuada por todos, conclui, reproduzindo um dos últimos tuítes de Marielle: "quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?". 

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