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Atriz Julia Bernat estreia em Paris adaptação de Ulisses que realça crise de refugiados, #metoo e Brasil atual

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A atriz Julia Bernat está em Paris atuando na última montagem da diretora brasileira Christiane Jatahy. Ítaca, nossa odisseia, baseada na Odisseia de Homero, está em cartaz no prestigioso teatro de l’Odéon. Nessa entrevista à RFI, Julia Bernat diz que o texto clássico sobre a aventura de Ulisses é usado para pensar “as odisseias atuais.” Ela também lamentou o sucateamento da cultura no Brasil e se disse preocupada com o Rio de Janeiro sob intervenção militar.

A atriz Julia Bernat.
A atriz Julia Bernat. RFI
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Julia Bernat é apresentada pela crítica francesa como a atriz “fetiche” de Christiane Jatahy. Ítaca é a sua quarta colaboração com a renomada diretora carioca. A atriz já estrelou Julia, baseada na peça Senhorita Julia de Strindberg, e Se elas fossem para Moscou, baseada em Três irmãs de Tchekhov, e a Floresta que Anda, inspirada em Macbeth de Shakespeare. Essa triologia, que integra teatro e cinema em cena, foi apresentada com sucesso em Paris e em outras capitais europeias.

Christiane Jatahy, que é atualmente artista associada do teatro Odéon, usou nessa quarta montagem mais uma vez um texto clássico para questionar o tempo presente. A Odisseia de Homero narra a longa volta para casa de Ulisses depois da Guerra de Troia. Sua terra natal é Ítaca. Na peça, “existe uma tentativa de pensar quais são as odisseias de hoje em dia. A gente traz a questão dos refugiados que passam pelo mesmo mar que o Ulisses passou, que é o Mar Mediterrâneo. A ideia é falar sobre amor, guerra, conflitos políticos, pessoas”, revela Julia Bernat.

Na peça, encenada por seis atores, três brasileiras (Julia Bernat, Stelle Rabello e Isabel Teixeira) e três franceses (Karim Bel Kacem, Cédric Eeckhout e Mathieu Sampeur), as referências à violência contra as mulheres e à crise política atual no Brasil depois do impeachment de Dilma Rousseff são muitas. Português e francês são os idiomas usados em cena.

Fronteiras

O trabalho de Cristiane Jatahy questiona continuamente as fronteiras entre ator e público, teatro e cinema, ficção e realidade a tal ponto que desde a primeira colaboração da atriz com a diretora, na adaptação de Senhorita Júlia, em 2011, seu personagem em cena quase sempre também se chama Julia.

“Foi uma coincidência louca, engraçada, que acaba sendo aproveitada nesse lugar entre a realidade e a ficção. As peças vão sempre para este lugar um pouco mais performático que o público tem a impressão de ver uma coisa que está acontecendo realmente ali.”

Essa “coincidência” migrou até para o cinema. A personagem da atriz em Aquarius de Kleber Mendonça Filho também se chamava Julia: “quando fiz o casting, o nome do personagem já estava definido”, garante.

Experiência francesa

Julia está na França desde o ano passado, preparando e ensaiando a peça. Ela, que já encenou três peças de Jatahy em Paris, está achando essa experiência francesa incrível. “A França é um país que respeita o teatro como poucos no mundo. Para nós, que viemos de um país onde a cultura está sendo sucateada, onde os teatros estão abandonados e não tem dinheiro para nada, você chegar em um lugar que te recebe, que respeita o seu trabalho e te acolhe com uma estrutura incrível é magnífico.”

Depois dessa longa temporada na França e na Europa, Julia Bernat vai voltar para sua Ítaca, que é a cidade do Rio de Janeiro, hoje sob intervenção militar. A atriz acompanha a situação com tristeza e preocupação: “Estou muito preocupada. Tem vários cargos do governo Temer na mão de militares. É uma coisa muito estranha que está se construindo e que a gente não sabe muito bem para onde vai.”

Essa entrevista foi feita antes do assassinato de Marielle Franco e na pré-estreia da peça, no dia 15 de março, as atrizes brasileiras e os atores franceses fizeram no palco uma homenagem à vereadora, exibindo cartazes #mariellepresente.

A peça Ítaca, nossa odisseia, de Christiane Jatahy, fica em cartaz na sala Berthier, do teatro de l’Odéon em Paris, de 16 de março a 21 de abril.

 

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