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Berlinale exibe documentário sobre impeachment de Dilma

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A cineasta brasileira Maria Augusta Ramos acompanhou durante meses os bastidores do processo de impeachment da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff. O resultado de horas de filmagem virou o documentário O Processo, apresentado nesta quarta-feira (21), na mostra “Panorama” do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Pouco antes da projeção para o público da Berlinale, a diretora conversou com a reportagem da RFI.

A diretora Maria Augusta Ramos é conhecida e premiada por documentários sobre o sistema judiciário.
A diretora Maria Augusta Ramos é conhecida e premiada por documentários sobre o sistema judiciário. © nofoco film
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Enviado especial a Berlim

Ela é conhecida por filmar o sistema judiciário. Sua trilogia de premiados documentários formada por Justiça, Juízo e Morro dos Prazeres é respeitada pelos críticos por mostrar, de maneira quase cirúrgica, temas complexos. Mas com O Processo, Maria Augusta Ramos se lançou em um desafio ambicioso: expor, inclusive para um olhar estrangeiro, já que o filme é projetado pela primeira vez na Berlinale, os meandros do impeachment que sacudiu o Brasil em 2016.

Ao falar sobre o projeto, a diretora dá a impressão de que, apesar da experiência, esse filme foi mais desafiador que os demais. “Como brasileira e como ser social que sou, foi muito difícil viver esse processo. Mas ao mesmo tempo, foi comovente ver a defesa da presidenta de perto, ver o trabalho do José Eduardo Cardozo (advogado de Dilma), dos assessores e senadores que estavam na comissão, apesar de saberem que iam perder.”

Câmeras até no carro de Gleisi Hoffmann

As filmagens começam no dia do voto na Câmara dos Deputados, em abril de 2016, ritual que expôs para as televisões do mundo todo um Brasil dividido – inclusive por uma enorme cerca na Esplanada do Planalto –, mas também uma classe política febril. Maria Augusta filma tudo, desde as manifestações de rua até os senadores e deputados sendo fotografados como celebridades nos corredores de Brasília, além de inúmeras reuniões e intermináveis sessões de debates na alta cúpula do governo.

Sua câmera está nos lugares menos esperados, inclusive dentro do carro da senadora e atual presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann. Ou no momento, quase cômico, em que o senador Raimundo Lyra (PMDB) interrompe uma sessão para trocar o alarme que marca o final das intervenções, alegando que “essa campainha não está à altura do momento histórico do Brasil”.

Para a diretora, o objetivo é documentar esses instantes que determinavam o rumo do país. “Eu faço filmes para tentar compreender uma situação e uma sociedade. Fiz esse documentário para entender o impeachment e o que estava por trás disso. Quis olhar para o discurso político-jurídico e, através dele, descobrir esse momento histórico brasileiro”, explica Maria Augusta.

Não existe documentário imparcial

Mesmo se mostra muitas imagens da jurista Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment (junto com Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo), O Processo é construído claramente do prisma da defesa da ex-presidente, o que não preocupa a cineasta. “Como nos meus filmes anteriores, esse projeto se propõe a uma reflexão. Mas claro que tem um ponto de vista. Eu sou um ser humano e o filme é parcial. Não existe documentário imparcial”, defende.

Mesmo assim, a diretora prefere não comentar os anúncios de que a projeção de seu filme em Berlim será seguida de uma manifestação contra o atual presidente Michel Temer nas ruas da capital alemã. “Eu trabalhei dois anos arduamente para mostrar nesse filme o que eu tenho a dizer. Essas 2h15 são a minha visão e o meu statement sobre o que aconteceu”, responde a cineasta ao ser interrogada sobre sua possível participação no protesto.

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