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“O melhor urbanismo incentiva as relações sociais, criando uma vida de bairro”, diz Elizabeth de Portzamparc

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Radicada há mais de trinta anos na França, a arquiteta e urbanista brasileira Elizabeth de Portzamparc coleciona homenagens e prêmios internacionais. Agora, seu escritório faz parte do grupo que vai transformar a capital, criando a Grande Paris.

A arquiteta brasileira Elizabeth de Portzamparc nos estúdios da RFI em 20/02/18.
A arquiteta brasileira Elizabeth de Portzamparc nos estúdios da RFI em 20/02/18. Foto: Elcio Ramalho/RFI Brasil
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Elizabeth chegou jovem à França, onde estudou sociologia e urbanismo. Antes mesmo de se formar, já trabalhava como profissional, desenvolvendo os seus próprios conceitos arquitetônicos.

“Na época eu fiz um estudo, uma crítica da arquitetura funcionalista, que me influencia até hoje. Essa crítica orientou a minha evolução profissional, como arquiteta e urbanista. Ela condicionou a minha prática, sempre muito ligada à qualidade dos espaços projetados e como eles serão vividos pelas pessoas”, conta Elizabeth.

A modernidade e as ruínas

Em junho deste ano, a prefeitura de Nîmes, no sul da França, vai inaugurar o Musée de la Romanité, um edifício moderníssimo, concebido por Elizabeth e construído, literalmente, ao lado de uma arena romana com mais quase dois mil anos.

“Estou muito orgulhosa desse museu. É o sonho de todo arquiteto viver esse desafio único. O desafio de confrontar a criação contemporânea com um monumento que foi construído há dois mil anos, e que está em ótimo estado de conservação, sendo considerado uma das mais belas ruínas romanas no mundo”, explica Elizabeth.

A Grande Paris

Há anos o governo francês cogita a criação da Grande Região Metropolitana de Paris, que romperia os limites municipais impostos pelo anel rodoviário, a famigerada Périphérique, uma espécie de Marginal Tietê ou Avenida Brasil dos franceses – ou, se você é de Belo Horizonte, uma gigantesca avenida do Contorno, com 35 quilômetros de extensão.

Desde a sua inauguração, em 1973, a Périphérique isola a Paris histórica, chamada “intramuros”, de todos os municípios vizinhos, hoje considerados bairros de subúrbio, uns, carentes, outros, abastados. O projeto da Grande Paris pretende, através do desenvolvimento de polos urbanos na periferia, desafogar a cidade velha, saturada sob todos os aspectos.

O escritório da carioca Elizabeth de Portzamparc, em parceria com seu marido, o também premiado arquiteto francês Christian de Portzamparc, tem papel destacado nesse projeto, desenvolvendo o polo de Massy, a Porta Sul da futura Metrópole Parisiense; a Grande Biblioteca do Campus Condorcet, em Aubervilliers; e a nova estação de trem de Le Bourget, na zona Norte da cidade.

“O polo de Massy foi construído com uma rapidez incrível”, explica Elizabeth. “Tem moradias, escolas, cinemas e um centro de convenções. O enfoque foi, sobretudo, humanístico. A ideia era criar, através do urbanismo, um polo onde a vida local pudesse se desenvolver. Assim, eu criei condições físicas e espaciais, arquitetônicas e urbanas, para que as relações sociais possam ser tecidas. Precisamos romper o anonimato, romper o individualismo, para criar, realmente, uma vida de bairro, pois é isso que precisamos encontrar nas cidades”.

No Oriente

Além do seu prestigiado trabalho na França, Elizabeth venceu, no ano passado, dois concursos importantes para a construção de um museu em Xangai, na China, e de um arranha-céu em Taiwan.

A construção do arranha-céu, conhecido como Taichung Intelligence Operation Center, concretizará as teorias arquitetônicas de Elizabeth, que o classifica como uma torre de 4ª geração.

“Essa torre vai ser a apoteose da minha teoria das conexões, a demonstração do meu método holístico de criar relações entre a cidade e as pessoas, entra a arquitetura e o lugar. Daqui a dez anos, 70% da população mundial será urbana. Vai ser muito importante encontrar soluções para que essa densidade urbana seja harmoniosa. (...) Por isso, a cada quatro andares da torre haverá uma praça pública, onde as pessoas poderão se encontrar, como num suporte de desenvolvimento de vida social. (...) Não se trata de empilhar as pessoas umas sobre as outras, como nos edifícios convencionais, mas, sim, de criar uma espécie de cidade vertical”, conclui Elizabeth.

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