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Libération teme uma nova onda de motins nas prisões brasileiras

A guerra das facções criminosas nas prisões do Brasil e a eleição presidencial brasileira são analisadas pela imprensa francesa desta quarta-feira (3). Le Figaro diz que 2018 é um ano crucial para a América latina. Libération publica uma reportagem especial sobre as prisões brasileiras e diz que a situação continua explosiva.

Artigo sobre as prisões brasileiras publicado nesta quiarta-feira (3) pelo jornal Libération.
Artigo sobre as prisões brasileiras publicado nesta quiarta-feira (3) pelo jornal Libération. Reprodução
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A matéria do Libération é publicada dois dias depois da rebelião na cadeia de Goiás, que deixou nove mortos no primeiro dia do ano. O jornal afirma que as prisões brasileiras “estão sob a influência das facções”. A correspondente no Brasil, Chantal Rayes, visitou o complexo de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, um ano após as duas semanas de violência que deixaram 120 mortos em penitenciárias do país. As autoridades afirmam ter retomado o controle da situação, mas, segundo a correspondente, os problemas continuam.

A reportagem entrevistou a mulher de um dos presos decapitados em 14 janeiro de 2017. Ela reclama que não recebeu nem apoio, nem indenização do governo. "Meu marido entrou inteiro na prisão, ele deveria ter saído inteiro", deplora a viúva. O marido dela foi uma das vítimas do Primeiro Comando da Capital, PCC, principal organização criminosa do Brasil. O 14 de janeiro foi apenas um dia da sequência sinistra de rebeliões que começou em primeiro de janeiro de 2017 com a execução de 56 detentos, integrantes do PCC, pela facção rival Família do Norte em uma cadeia de Manaus.

Superpopulação carcerária

Em 2016, 379 homicídios e suicídios ocorreram nas penitenciárias brasileiras, em conflitos entre detentos ou acerto de contas entre facções rivais. A especialista Camila Nunes Dias, entrevistada por Libé, diz que o surgimento das organizações criminosas nas prisões é consequência da superpopulação carcerária no Brasil, que é a terceira maior do mundo.

O número de presos aumenta, 4% a mais em 2016, mas o número de vagas e de agentes penitenciários não. Apesar da violência, as facções “são vistas como uma forma de resistência contra as condições desumanas de detenção”, analisa a ativista Juliana Melo.

“Bandido bom é bandido morto”

As facções comandam os pavilhões e impõem suas leis aos detentos. “Uma política de prisão em massa dos pobres, o recurso à detenção provisória que deixa na prisão milhares de pessoas durante anos, sem julgamento e uma política retrógrada de luta contra as drogas” são denunciados pelos ativistas ouvidos pelo jornal. Sem esquecer o provérbio popular “um bandido bom é um bandido morto".

O conflito entre o PCC e seus grupos rivais deixou os muros das prisões e é responsável pela alta do número de homicídios no nordeste. Em Natal, as favelas são dominadas por uma ou outra facção. Desde o massacre de janeiro de 2017, a violência dobrou, e o acerto de contas nas prisões da região pode voltar a qualquer momento, teme Libération.

Eleição presidencial no Brasil

Brasil, Colômbia, México e Venezuela vão eleger novos presidentes neste ano em clima de corrupção e presidência Trump, informa Le Figaro. Ao todo, seis países latino-americanos terão eleições presidenciais neste ano. O jornal conservador destaca ainda que Raul Castro deve deixar o poder em Cuba, em abril. Os desafios em cada país são importantes após uma década marcada por regimes que se dizem progressistas, como o venezuelano. Mas esses governos “perderam seu vigor”.

Sobre o Brasil, o artigo salienta que as eleições de outubro acontecem em um contexto agitado. O texto generaliza e diz que a corrupção atinge toda a classe política do país. O escândalo Petrobras Odebrecht não para de trazer à tona novas revelações, cada uma mais surpreendente que a outra. O presidente Michel Temer, do partido de direita PMDB, chegou ao poder após a destituição de Dilma Rousseff, do PT, por um Parlamento composto por dois terços de deputados que são alvo de processos na Justiça, escreve Le Figaro. “E Temer só conseguiu escapar de um processo de destituição porque pressionou os parlamentares”. O favorito nas pesquisas, o ex-presidente Lula, está sendo julgado por corrupção, conclui lacônico o artigo.

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