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Brasil-América Latina

Vinho argentino vira atração para turistas brasileiros em Buenos Aires

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Uma experiência gastronômica com vinhos argentinos tornou-se ponto obrigatório no roteiro turístico de cerca de 500 mil brasileiros por ano. E os moram na cidade frequentam degustações nas principais enotecas do país.

Celestino Rodríguez, o histórico sommelier do Cabaña.
Celestino Rodríguez, o histórico sommelier do Cabaña. Márcio Resende
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O obelisco da Avenida 9 de Julho, a Praça de Maio, o Caminito, Puerto Madero, La Recoleta, Tango e agora vinho. O interesse dos brasileiros pelo vinho argentino é crescente, a ponto de a bebida ter se tornado uma espécie de ponto turístico, tanto para iniciantes quanto para conhecedores. Quase a metade dos cerca de um milhão de turistas brasileiros que vieram à Argentina em 2017 disse ter tido uma atividade relacionada a gastronomia e vinho.

O restaurante onde mais se reflete esse interesse brasileiro é o Cabaña Las Lilas, com a carta de vinhos há 11 anos consecutivos premiada como a mais completa do país pela revista norte-americana Wine Spectator, a mais influente no universo mundial da bebida.

O Las Lilas, no turístico bairro de Puerto Madero, é o templo da gastronomia para os brasileiros. Dos 190 mil clientes por ano, a metade é de brasileiros. São cerca de 300 por dia. Consomem metade das quatro mil garrafas de vinho vendidas por mês. Uma dessas foi para o paulista Jesse Segalla (52), sexta vez em Buenos Aires.

"Com o valor, por exemplo, de 200 reais, eu posso comprar vinhos argentinos excelentes no Brasil. Mas, com esse valor, se eu for comprar um vinho francês ou um italiano, vai ser um vinho médio. Por isso, considero o vinho argentino como o melhor custo-benefício. É o vinho que eu mais consumo", explica Segalla.

Ao lado dele, a esposa Marilis Bittar (45) revela que o casal chega a adaptar o ambiente de casa para desfrutar das características do vinho argentino. "Quando morávamos no Rio de janeiro, a gente ligava o ar condicionado para poder tomar o nosso Malbec ou o nosso Cabernet Sauvignon que era um vinho um pouco mais potente", confessa entre risos.

"Nós percebemos realmente esse interesse crescente do brasileiro pelos vinhos argentinos e o maior interesse ainda é pelo Malbec, mas percebemos que começa uma tendência por escolher os vinhos de corte. Ou seja: um Malbec com Cabernet Sauvignon ou com Syrah", indica Albino Garcia, diretor do Las Lilas.

Degustações

Já os brasileiros que moram em Buenos Aires são clientes frequentes das degustações em busca de novas etiquetas. "Além dos turistas brasileiros, também descobrimos o interesse dos brasileiros que moram aqui através das degustações. Mais da metade dos frequentadores é de brasileiros", aponta Albino.

No bairro de Palermo, o carioca Igor Ravasco (42), há 20 anos em Buenos Aires, frequenta o La Malbequería, outra referência portenha para os amantes do vinho argentino, especialmente do Malbec, a uva emblemática do país.

"Vou a degustações sempre que posso. Gosto de experimentar vinhos novos porque o vinho aqui realmente é maravilhoso. E quando viajo ao Brasil, levo mais vinho do que roupa na mala", brinca. "Meus amigos encomendam vinho sempre. Levo para amigos, parentes e até para mim porque eu sinto muita falta do vinho daqui", conta.

No Malbequería, metade dos clientes são estrangeiros. Desses, 60% são brasileiros. O restaurante oferece 350 opções de vinhos, das quais 220 são Malbec.

"Notamos um interesse crescente dos brasileiros pelo vinho argentino. Eles chegam muito interessados pelos emblemas: carne e vinho. Há uma afluência cada vez maior. Só em 2017, recebemos cerca de 15% a mais de brasileiros do que no ano passado", observa o gerente da Malbequería, Juan Pablo Caorsi.

Meio milhão de brasileiros

Segundo dados do Ministério do Turismo, até outubro, a Argentina recebeu 836 mil turistas brasileiros que ficaram, em média, uma semana no país. A cifra pode chegar a um milhão de brasileiros até o final do ano. A grande maioria veio a Buenos Aires: 61,5%. A Mendoza, principal região produtora de vinhos do país, foram 6,1% dos turistas brasileiros.

Do total, 47% dos brasileiros tiveram alguma atividade especial relacionada com a gastronomia e com o vinho argentino. Com um gasto médio de US$ 136 por dia, os brasileiros foram os que mais consumiram em 2017, depois dos uruguaios com US$ 143 diários.

Perfil do brasileiro diante do vinho

Na hora de escolher um vinho argentino, a grande maioria dos brasileiros prefere um tinto jovem frutado a um reserva estruturado. "Nós aprendemos a interpretar o turista brasileiro na sua forma de ser. Foi uma grande aprendizagem para nós", conta Celestino Rodríguez, a 21 anos sommelier do Cabaña Las Lilas, formado na primeira turma de sommelier do país em 2000.

"O brasileiro vem de um país com clima cálido, onde a fruta e o açúcar são uma manifestação natural. E chegam com o objetivo de provar um Malbec. A esse turista, eu ofereço um Malbec sedoso, elegante, frutado, fresco e não muito seco. Não lhe posso oferecer um Malbec estruturado", ensina. "Já os que voltam, querem se aprofundar, procurando uma nova experiência. Chegam pedindo os vinhos de Mendoza, mas eu os conduzo a conhecer também os do Norte argentino e até da Patagônia", aponta.

"Comigo aconteceu assim", confirma o turista Jesse Segalla. "Eu saí de um jovem e passei a um vinho reserva, mais elaborado", recorda.

"Como não sou um grande conhecedor de vinho, eu acho que o vinho jovem é mais fácil para sentir. O meu paladar casa bem com o vinho jovem", prefere Igor Ravasco.

Mudança de hábito

"Numa primeira fase, os brasileiros começam com um jovem, um vinho menos sofisticado. Experimentam um vinho argentino no Brasil e depois chegam aqui querendo aprofundar o conhecimento e provar coisas novas. À medida que vão conhecendo mais, ficam mais exigentes. Estão indo por esse caminho", avalia Juan Pablo Caorsi do Malbequería.

"O consumidor brasileiro está mudando. O brasileiro tem uma tendência a querer conhecer mais. Começou pelos vinhos tintos jovens e pelos espumantes, mas já há um público mais seleto de classe média e alta que cada vez conhece mais de vinho", observa Alejandra Bidaseca, diretora da escola de vinhos Winexpert, das Bodegas de Argentina, a câmara vinícola mais importante do país.

O Malbec argentino é considerado o melhor do mundo, mas o país tem aberto fronteiras também com Bonarda e vive atualmente uma moda de Cabernet Franc. Em uvas brancas, o carro-chefe é o Torrontés.

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