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Para analista, população brasileira é muito focada no presidente e se esquece do Congresso na hora de votar

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“Se nós focarmos simplesmente na figura do presidente da República, não vamos provocar nenhuma mudança no quadro político brasileiro”. Esta é a opinião de Vinícius Mariano de Carvalho, professor de Estudos Brasileiros do Brazil Institute do King’s College de Londres. Carvalho falou à RFI sobre o quadro para as eleições de 2018 a partir do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva candidato que aparece à frente das pesquisas atualmente.

O professor de Estudos Brasileiros do King's College de Londres, Vinícius Mariano de Carvalho
O professor de Estudos Brasileiros do King's College de Londres, Vinícius Mariano de Carvalho Arquivo pessoal
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O julgamento de Lula foi marcado para o dia 24 de janeiro de 2018. “Já era de certa forma esperado que aconteceria este julgamento em segunda instância ainda antecedendo as marcações oficiais das candidaturas. É uma movimentação no jogo de xadrez da eleição que analistas e políticos já estavam prevendo”, disse.

“O que isso vai trazer de novidade é que, com a autorização de que condenados em segunda instância já poderiam cumprir pena com privação de liberdade, isso faria uma diferença muito grande caso o Lula seja condenado, pois ele estaria, desta forma, pronto para ser preso”, avalia.

Para ele, isso abre ao mesmo tempo abre uma série de incertezas, pois há sempre a possibilidade de outros recursos, principalmente no Supremo Tribunal Federal. “Mesmo se a condenação se confirmar no dia 24 de janeiro, ele ainda pode se registrar como candidato, esta candidatura pode ser barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral ou não, se não for barrada ele poderá concorrer… enfim, o julgamento é só mais um complicador do cenário, mais ainda não é um definidor do cenário”, acrescenta.

Ficha Limpa

De acordo com Carvalho, a lei da Ficha Limpa, que torna inelegíveis candidatos condenados por decisão de órgão colegiado, pode ser usada. “Mas há um precedente do TSE de que decisões monocráticas podem autorizar candidatos que ainda estejam recorrendo de condenações a se candidatar - e isso pode acontecer com o Lula também”, disse.

“Vamos ver, de fato, qual a capacidade da Lei da Ficha Limpa, caso se confirme a condenação do Lula na segunda instância, e ver como isso vai ser jogado: se como puramente um mecanismo jurídico ou se também como um mecanismo político-social”, acrescentou.

Legitimidade

Sobre os questionamentos acerca da legitimidade das eleições sem a participação de Lula, ele disse: “As eleições ainda estão longe, ainda estamos numa configuração deste quadro de candidaturas e representatividade. Obviamente, por parte do PT, há uma campanha de que a eleição sem Lula não é válida. Enfim, já há uma campanha para deslegitimizar a eleição caso o Lula não possa concorrer”.

“Atualmente, o Lula tem se apresentado com altas intenções de votos, mas ainda é cedo. Acho que a partir de março, com as definições de candidaturas, e principalmente com os desenvolvimentos da campanha que vem pela frente”, analisou.

Sobre o plano B do PT caso Lula seja declarado inelegível: “Há pessoas que ventilam que seja o Haddad. Curioso notar que o Haddad não se candidatou a nenhum dos cargos em São Paulo, nem ao Senado, nem ao governo, nem a deputado, portanto o Haddad estaria disponível para uma possível candidatura. Mas isso é uma decisão do PT, claro”.

Impacto das eleições de 2018

“Estas eleições serão muito complicadas, em diversos aspectos, um deles é dentro deste quadro político que estamos vivendo, de muitas incertezas e de muitas polarizações. Ou seja, ela é uma eleição que não esta apenas elegendo um presidente da República, mas ela de certa forma ela também será responsável por uma reconfiguração de o que que o Brasil entende por política e por maneiras de fazer política”, disse.

“É preciso lembrar que não são apenas eleições para presidente da República, mas também estaremos elegendo um Congresso Nacional. E este Congresso Nacional foi aquele mesmo que votou o impeachment da Dilma, é este mesmo que negocia agora todas as votações com o Temer… temos que pensar que vamos eleger os legisladores para os próximos 4 anos, no caso dos deputados, ou 8, no caso dos senadores”, acrescentou.

Não à cultura do grande líder

De acordo com ele, se nós focarmos simplesmente na figura do presidente da República, não vamos provocar nenhuma mudança no quadro político brasileiro.

“É importante trazer sempre à tona o debate sobre quem serão os candidatos e os eleitos para a Câmara dos Deputados, porque isso sim pode reconfigurar a maneira de se fazer política no Brasil. Não se pensando apenas na figura superpoderosa de um presidente da República, mas de um presidente da República que negocia constantemente com um Congresso Nacional”, disse.

“A situação que nós vivemos hoje no Brasil é um resultado muito claro disso, de uma população que vota pensando apenas num grande líder, mas se esquece do Congresso Nacional.”

BBB – Bíblia, boi e bala

O professor de Estudos Brasileiros diz que é bom lembrar que estas bancadas não começaram nesta legislatura, eles já vêm de outras legislaturas.

“São bancadas fortes, com grande poder econômico, que podem suportar suas candidaturas e garantir eleições. Efetivamente, eles terão a capacidade de continuar, e a decisão caberá ao eleitor, obviamente, na hora de votar.”

“Mas é sempre bom lembrar isso: nós não temos hoje um Congresso Nacional muito diferente dos anteriores”, complementa.

“A gente não pode deixar que estas eleições focalizem em questões pontuais e acreditar que candidatos virão com soluções mágicas para estes problemas, se não houver de fato uma grande discussão em torno de como queremos construir esta sociedade brasileira”, finaliza.

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