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"Flip está ficando intimista de novo": Olivier de Corta, francês que vive em Paraty

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O francês Olivier de Corta é dono de uma pousada em Paraty, onde se realiza a Festa Literária Internacional, a Flip, que está na 15ª edição (26 a 30 de julho). Leitor incondicional, ele nos fala sobre a evolução do evento, do início até os dias de hoje.

DR
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"Nos primeiros cinco anos a Flip era uma coisa meio intimista, familiar, com pouco público, e era ótimo porque a gente cruzava os autores na rua... a gente tem um restaurante aqui [na pousada], os editores faziam almoços com os autores, era uma coisa muito prazeirosa. Depois de cinco anos, começaram a montar uma estrutura mais comercial, e de um a dois anos pra cá, com a situação econômica do Brasil, os recursos minguaram. Então, está virando uma coisa mais tranquila, intimista, de fácil acesso", conta Olivier, recordando que nas primeiras edições eram montadas livrarias temporárias maravilhosas, e como não tinha livraria em Paraty, era uma ocasião para se fazer uma provisão de livros para o ano inteiro.

A Flip também tem um outro lado, menos midiático e mais social, que Olivier aprecia imensamente. Desde 2004 são organizadas atividades na Biblioteca Casa Azul. "São trabalhos educativos em parceria com a Flip que duram o ano inteiro, tanto de formação para as crianças, de socialização, de acompanhamento de estudo, oficinas de leitura, de introdução à literatura, além da biblioteca da Casa Azul, que é a mais linda que vi na minha vida porque todas as editoras que participam da Flip doam os livros que estão editando, então, não tem velharias (...), só livros geniais e recentes. A minha filha, que tem 17 anos, foi criada com a Flip e leu tudo da biblioteca infantil da Flip", diz Olivier, ressaltando que ainda existe uma biblioteca ambulante que leva a leitura para o povo.

"Uma cidade pequena como Paraty tem uma qualidade de cultura que não é oferecida em outras partes do Brasil, é uma grande chance, tem até aula de reforço escolar para preparar o Enem, aulas de inglês, oficinas de multimídias, tudo de graça, fazem cinema, documentários que tentam aproximar a cultura tradicional de Paraty com o moderno, e tudo feito pelas crianças de Paraty", relata o mais carioca dos franceses.

Quanto aos seus encontros com escritores famosos, Olivier de Corta observa, em primeiro lugar, que sua pousada fica a 16 km do centro de Paraty, e que tem muitos livros: "A gente lê muito, e tivemos muitos autores que passaram aqui na pousada. O inglês Julien Barnes achou na nossa biblioteca o livro dele, em francês, aqui no meio da selva, ele ficou abestalhado! Outro inglês, o Martin Amis, foi a mesma coisa, tenho todos os livros dele. Tivemos aqui também o autor americano Jonathan Franzen, que ficou hospedado aqui, ele gosta de passarinhos, então, ele levantava às cinco da manhã para se embrenhar na mata para ver os passarinhos...Foi muito enriquecedor, para quem ama os livros é muito legal ter os autores aqui, em volta. A chinesa Xinran também adorou minha filha e mandou muitos presentes para ela... São coisas que não têm muito um aspecto cultural, mas para nós é muito emocional ver essas pessoas por perto".

Nesta 15ª edição de 2017, Olivier sente que as coisas voltaram a ser como no começo. "Como eu disse, os recursos minguaram, então, o que era uma coisa espetacular, de primeiro mundo, com tendas, shows, livrarias, nesse ano está muito reduzido, não vai ter tenda, as palestras vão ser dentro da Igreja da Matriz, a capacidade que era para 800 pessoas passou para 400, e tem pouca divulgação. A gente já sente isso há alguns anos, o show de abertura, de graça para toda a população, era um show maravilhoso, com Luiz Melodia, Maria Betânia... de três anos para cá são mais os cirandeiros de Paraty, que não têm um impacto tão grande como um show do Gilberto Gil", analisa o francês, lembrando que hoje os patrocinadores estão "apertados", sem os mesmos recursos dos anos passados.

"Mas a Flip continua funcionando, este ano vêm uns autores ótimos, da França tem a africana Scholastique Mukusonga, sempre tem uns escritores ótimos passando por aqui", conclui Olivier de Carta, um apaixonado pela Festa Literária de Paraty.

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