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Antissemitismo do Brasil nos anos 40 ainda deixa vestígios no país

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O livro “Cidadão do Mundo - O Brasil Diante do Holocausto e Dos Judeus Refugiados do Nazifascismo (1933-1948)”, da historiadora brasileira Maria Luiza Tucci Carneiro, foi lançado este ano na França. A obra aborda um tema não muito conhecido do grande público: a política secreta de recusa dos judeus implementada pelos governos brasileiros nos anos 30 e 40.

A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro acaba de lançar um livro na França.
A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro acaba de lançar um livro na França. RFI
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Durante e após da Segunda Guerra mundial, centenas de milhares de judeus deixaram a Alemanha e os países europeus fugindo do nazismo. Alguns deles tentaram ir para o Brasil, mas poucos foram aceitos. Segundo estatísticas reveladas no livro "Cidadão do Mundo", mais de 16 mil vistos foram negados pelas autoridades brasileiras. “Mas esse número ainda está aberto, pois acredito que muito mais judeus foram classificados como ‘indesejáveis’ para compor a população brasileira”, conta Maria Luiza, que pesquisa o assunto há cerca de três décadas e que apresentou a versão francesa do livro durante uma conferência no Memorial da Shoah, em Paris. 

Publicada na França pela tradicional editora L'Harmattan, a obra, lançada no Brasil em 2010 e na Alemanha em 2014, revela os bastidores da política de recebimento de judeus refugiados do nazismo e sobreviventes do Holocausto. O livro mostra que houve nessa época “a produção de 26 circulares secretas orientando as missões diplomáticas brasileiras no exterior a negarem vistos aos judeus”, como relata Maria Luiza. Mas segundo a autora, “o Brasil tentava manter uma política de aparências, principalmente no momento em que ingressa na Segunda Guerra mundial ao lado dos aliados, e não ficaria bem para o país ter uma postura antissemita”.

A publicação também conta a história de brasileiros que desrespeitaram esse protocolo, atribuindo vistos a centenas de judeus. É o caso do então embaixador do Brasil em Paris, Luis Martins Souza Dantas, que autorizou a entrada de centenas de europeus considerados “indesejáveis” no Brasil, ou ainda da funcionária do consulado do Brasil na Alemanha, Aracy Carvalho, que se casou mais tarde com o então cônsul, o escritor Guimaraes Rosa. “Ela colocou seu cargo e sua vida em risco, ao ponto de, em vários momentos, retirar judeus dentro do porta-malas de seu carro”, conta a pesquisadora.

A historiadora, que coordena o Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação, na Universidade de São Paulo, chama a atenção para os resquícios desse episódio no Brasil contemporâneo, ondo os clichês sobre os judeus ainda são presentes. “Há uma persistência dos mitos antissemitas que continua e é muito visível nas mídias”, frisa a pesquisadora. E para ela, contar essa história traz um ensinamento  importante nos dias atuais. “Nós podemos aprender muito com esse passado, principalmente nesse momento em que vivemos o drama dos refugiados”, finaliza.

Para ouvir a entrevista completa, clique na foto acima ou assista o vídeo abaixo.

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