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"Brasil vive processo de desconstrução da classe política corrupta", diz professor da King's College

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O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o presidente Michel Temer na segunda-feira (26) por corrupção passiva ao Supremo Tribunal Federal (STF). Temer entrou assim para a história do país como o primeiro chefe de Estado acusado de corrupção. Para Vinicius Mariano de Carvalho, professor associado de Estudos Brasileiros no Brazil Institute, do King's College London, esse é mais um capítulo de um momento inédito de instabilidade e complexidade no país, em que a classe política, "historicamente corrupta", está sendo desconstruída.

Vinicius Mariano de Carvalho, professor associado de Estudos Brasileiros no Brazil Institute, do King's College London.
Vinicius Mariano de Carvalho, professor associado de Estudos Brasileiros no Brazil Institute, do King's College London. Arquivo Pessoal
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"Essa classe política perdeu credibilidade diante da população brasileira como um todo", afirma. O problema, segundo ele, é que esse desgosto generalizado afeta até mesmo a capacidade de mobilização popular. "Vamos nos mobilizar em favor do quê? Em favor da saída do Temer? E o que vem logo em seguida?", diz, ao resumir o sentimento da população.

Segundo o professor, apesar do enorme descontentamento, a população não sabe como reagir diante do processo de desconstrução da classe política brasileira. "Talvez essa seja a razão dessa apatia. Não estamos sabendo ser construtivos e trazer alternativas e respostas para isso", analisa.

Irônica legitimidade

Segundo pesquisas recentes, Temer tem apenas 7% de aprovação popular. Além disso, denúncias similares impulsionaram o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. "É quase irônico falar em legitimidade do presidente" diante deste quadro, diz o professor. "O que é muito prejudicial para a democracia brasileira", reitera.

Mas, como prometido por Temer em diversas ocasiões, a renúncia não é uma possibilidade. Ao contrário, os próximos dias serão de intensa articulação no Congresso para que o presidente permaneça no cargo.

Para que a denúncia de Janot seja formalmente aceita, é preciso o aval de dois terços dos deputados, ou seja 342 dos 513 e, posteriormente, da maioria dos onze ministros do STF. "Não podemos esquecer que Temer é um constitucionalista e um advogado, que domina muito bem os mecanismos e os meandros da lei. Portanto, um dos aspectos de sua defesa será a atenção a qualquer detalhe da formatação da acusação do Janot", prevê.

Estratégias a serem utilizadas

De acordo com o especialista, nesses próximos dias, o presidente utilizará toda a sua "capacidade de convencimento" no Congresso, "diretamente relacionada à liberação de recursos", para que não seja votada a autorização para abertura do processo. Além disso, Carvalho prevê que outra estratégia a ser utilizada é que a Comissão de Constituição e Justiça seja integrada por seus aliados, principalmente o relator deste grupo. "Essa será uma etapa bastante curiosa, quando nós vamos ver como será a capacidade de articulação de Temer dentro do Congresso", diz.

Segundo o especialista, o desenrolar da situação mostrará também "a dimensão do espectro anticorrupção no Brasil". "Imagino que todos os deputados estão se olhando no espelho e percebendo que há um julgamento também em torno deles neste momento."

A maior ameaça para Temer é se a denúncia for aceita pelos deputados. Para não correr esse risco, Carvalho acredita que Temer abra a mão de muitas facilidades no Congresso para obter maioria e impedir que o processo siga para o STF, "onde a situação seria mais complicada para o presidente, já que o Supremo tem dado mostras de maior independência e isonomia nessas votações".

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