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Amor de senhora de escravos e abolicionista inspira livro de Eneida Queiroz

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A historiadora e escritora Eneida Queiroz trabalha no Instituto de Museus Brasileiros (IBRAM). No dia 30 de maio, na Casa da América Latina, em Paris, ela lança o seu livro "A Mulher e a Casa", sobre a história de um amor improvável, em pleno século XIX: o de uma senhora de escravos, Eufrásia Teixeira Leite, e Joaquim Nabuco, um dos grandes abolicionistas brasileiros. 

A historiadora Eneida Queiroz com o seu livro "A Mulher e a Casa"
A historiadora Eneida Queiroz com o seu livro "A Mulher e a Casa" RFI
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 Por que Eneida Queiroz decidiu contar a história desse romance que se passa em Vassouras, nas serras do Rio de Janeiro? Tudo começou quando o IBRAM, onde ela trabalha, pediu que escrevesse um texto sobre o Museu Casa da Hera que, no passado, foi a residência de Eufrásia Teixeira Leite. "Pesquisando sobre ela, descobri que foi uma grande financista, uma mulher importante para a época, a primeira a entrar para a Bolsa de Valores. Ela  conseguiu multiplicar dez vezes a fortuna que o pai lhe deixou, era rica e morreu milionária. E no meio desse processo, descobri que foi noiva de Joaquim Nabuco, um famoso abolicionista", conta Eneida, ressaltando que achou surpreendente o fato que, segundo se dizia, ela teria pedido para que, quando morresse, seu caixão fosse forrado com as cartas que Nabuco escreveu para ela. "Isso me chocou demais, e eu me disse: preciso saber quem foi esse casal, preciso contar essa história".

A história do Brasil através de uma história de amor

Ao longo do romance, pode-se entender a luta pela abolição da escravatura e o período imperial brasileiro. "Meu grande interesse ao escrever o livro, era escrever um romance que contasse a história do Brasil de uma forma mais lúdica, sem que fosse um texto didático. Então, as pessoas se aproximam dessa parte da história do Brasil por um romance, por uma história de amor verídica. Joaquim Nabuco foi um deputado que lutou muito pela abolição da escravatura".

O noivado de Eufrásia e Nabuco foi marcado por uma intensa correspondência e a razão dos dois não terem se casado desperta muita curiosidade. "Existem muitas discussões sobre o motivo do noivado não ter dado certo. Uma delas é o contexto familiar. Ela vinha de uma família conservadora, com muitos barões, todos escravagistas. Ele vinha de uma família de membros do Partido Liberal, o pai foi senador, ministro, o próprio Nabuco foi deputado, seu avô também, e eles eram abolicionistas", explica a historiadora, afirmando que a diferença de renda também pode ter sido um elemento importante, pois Eufrásia vinha de uma família riquíssima, e ele, era apenas "bem de vida".

Eneida Queiroz também reflete que, além desses fatores materiais, havia também as personalidades fortes de cada um deles. "Eufrásia era uma mulher diferente, fora do seu tempo, e naquela época as mulheres abaixavam a cabeça para o marido, inclusive, a infidelidade do homem era aceita. Um dos primeiros rompimentos que tiveram foi uma provável infidelidade dele quando eram noivos, e isso foi provado em uma correspondência entre ele e seu pai, que respondeu a Nabuco que "suas infidelidades fizeram com que ela rompesse com você".

Em resumo, podemos dizer que Eufrásia Teixeira Leite foi uma das primeiras feministas brasileiras, inclusive conquistando a independência financeira e multiplicando sua fortuna, numa época em que as mulheres não trabalhavam.

A França também fez parte da vida da heroína, que viveu 50 anos em Paris em um palacete perto do Arco do Triunfo, vestia-se com o criador de alta costura Charles Worth e foi retratada pelo pintor Carolus-Duran.

Toda a fortuna de Eufrásia, que não casou nem teve filhos, foi doada a instituições de caridade em Vassouras e à construção de duas escolas e um hospital na cidade.

 

 

 

 

 

 

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