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Bernardo Carvalho, escritor: "A literatura que importa é a literatura de dissenso, radical"

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Ganhador do prêmio Jabuti duas vezes, Bernardo Carvalho lançou no ano passado o seu décimo-primeiro romance, Simpatia pelo demônio, pela Companhia das Letras. De passagem por Paris, o escritor falou exclusivamente para a RFI Brasil sobre o papel da literatura na sociedade, os seus novos projetos e a situação política no Brasil.

Bernardo Carvalho: trabalhando em projeto que retoma temas de "Nove Noites".
Bernardo Carvalho: trabalhando em projeto que retoma temas de "Nove Noites". Captura de vídeo
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Escritor, jornalista e articulista, Bernardo Carvalho, 56 anos, lançou o seu primeiro romance, Onze, em 1995, depois de ter publicado uma coletânea de contos, Aberração, dois anos antes. Em 2004, ganhou o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio da literatura brasileira, com o seu oitavo livro, Mongólia. Dez anos depois, repetiu o feito, recebendo o Jabuti pelo romance Reprodução.

O livro Simpatia pelo demônio, sua obra mais recente, conta a história de um brasileiro que, trabalhando para uma agência humanitária internacional, é enviado para uma zona de conflito, onde deverá pagar o resgate de um refém de um grupo extremista islâmico. Enquanto espera pelo contato com os terroristas, o brasileiro se lembra em flashbacks da relação amorosa que, em plena crise da meia-idade, manteve com um estudante mexicano, desestabilizando toda a sua vida.

“A literatura que importa, a literatura que me agrada, é a literatura de dissenso. Dissenso radical”, explica Carvalho. “Não se trata de dissenso político contra um partido no poder. É a literatura com uma singularidade que vem atrapalhar os consensos, que vem perturbar as ideias consensuais em estética, em arte, em literatura, em política. É a ideia de uma voz que seja perturbadora da domesticação do consenso, em nome da inteligência, em nome da verdade”.

Com alguns personagens estrangeiros e tramas que se passam no exterior, a obra de Bernardo Carvalho investiga a condição humana indo muito além das fronteiras da literatura nacional.

“A realidade brasileira contesta, contradiz toda a vontade que se pode ter de identificação com a nação. Como é que você pode se identificar com uma nação que te dá tão pouco, que não te dá educação, não te dá saúde, não te dá trabalho, não te dá garantias básicas de sobrevivência. (...) A vontade de acreditar numa identidade nacional no Brasil demanda uma espécie de cegueira muito grande, uma teimosia muito grande”.

Depois de Simpatia pelo demônio, Carvalho aproveitou um período de descanso em Portugal para dar início a um novo projeto, no qual retoma alguns temas de Nove Noites, um dos seus romances mais bem-sucedidos.

“No Brasil, quando eu acordava pela manhã, eu lia o jornal, tinha um ataque de nervos, e isso estragava o meu dia. Não conseguia mais escrever, ficava totalmente disperso, distraído”, disse, quando perguntado sobre a atual crise política no Brasil. “A questão da verdade não importa mais. São campos de força lutando entre si para se estabelecer no poder ou para escapar da justiça. (...) Essa polarização (política) tem mais a ver com uma espécie de guerra, estratégica, retórica, do que com a inteligência e a verdade”, concluiu.

 

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