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O Mundo Agora

Macri e Temer podem salvar o Mercosul e formar aliança com México

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O presidente argentino, Mauricio Macri, foi visitar Michel Temer em Brasília com dois recados: ressuscitar o Mercosul e de tentar um acordo sério com o México, a segunda potência econômica da América Latina.

Macri defende o fortalcimento do Mercosul
Macri defende o fortalcimento do Mercosul (Foto: Divulgação)
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O argumento é que a administração Trump não quer saber do velho multilateralismo econômico e suas negociações civilizadas à beira do lago de Genebra. Os tempos estão para a lei da selva do bilateralismo selvagem, os fortes impondo descaradamente seus interesses aos fracos.

O México já levou a primeira bordoada dessa política de “primeiro os Estados Unidos”. E é mais do que evidente, de que o resto da América Latina também está ameaçado de ter que enfrentar uma explosão de barreiras comerciais americanas contra seus produtos industriais, num mercado absolutamente essencial para o seu crescimento econômico.

Macri sabe – como todo mundo – que numa tempestade a união faz a força. Faz sentido vitaminar o Mercosul, negociar um amplo acordo de cooperação econômica com o México e tentar se entender com os membros sul-americanos da Aliança do Pacífico. Primeiro, porque um grupo de países unidos tem muito mais peso nas negociações bilaterais do que um bloco do “eu-sozinho”. Segundo, porque todos vão precisar de um mercado latino-americano mais aberto e dinâmico.

Compensar futuras perdas nos Estados Unidos é praticamente impossível: em matéria de exportações industriais de maior valor agregado, o sub-continente não chega aos pés das oportunidades oferecidas pela terra do Tio Sam. Mas o objetivo é no mínimo sobreviver sem afundar no caso em que a bazófia de Donald Trump se transforme em realidade.

Mercosul está na UTI

Só que o Mercosul está na UTI há tanto tempo que não vai ser fácil. Nos seus primórdios, nos anos 1990, a ideia era parecida: unir forças para negociar melhor no âmbito multilateral e administrar uma abertura econômica regional controlada, vista como a primeira etapa para entrar na economia global. Não funcionou. O bloco não conseguiu se manter unido, nem na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, nem nas negociações comerciais intermináveis com a União Europeia. Pior ainda, o Brasil lulista e a Argentina peronista fizeram tudo para sabotar a conclusão da ALCA, o acordo de livre-comércio hemisférico com os Estados Unidos

Essa visão mercosulina cada vez mais fechada acabou criando anticorpos na América do Sul, com os países da costa do Pacífico criando a sua própria organização, aberta ao resto do mundo. Na verdade, os interesses dos membros do Mercosul eram demasiado divergentes. O bloco é oficialmente uma União Aduaneira, mas continua até mantendo tarifas internas e até hoje não conseguiu internalizar, nos âmbitos jurídicos nacionais, uma boa parte das regras e normas comuns já definidas.

Mas agora o carnaval acabou. Durante a primeira década do século XXI, Brasil e Argentina viveram na euforia de vender carne, soja, ferro ou petróleo a preços estratosféricos para a China e outros “emergentes”. E aproveitar parte dessa bonança para estimular o consumo interno. Mercados cativos para indústrias nacionais pouco competitivas que sobreviveram na base de políticas protecionistas e créditos públicos de mão beijada. Essa farra terminou: a nova economia global, não precisa mais de tanta matéria prima.

Preços mirabolantes não vão voltar

Os preços mirabolantes não vão voltar. Todos os países da América do Sul que dependem de produtos primários, vão ter que inventar um novo modelo sócio-econômico, para participar da nova economia digital global que está levando tudo de roldão. Os mexicanos e centro-americanos apostaram tudo na participação nas grandes cadeias de valor industriais norte-americanas. Também vão ter que rever o modelo se Trump realmente fechar o mercado dos Estados Unidos. A proposta de Mauricio Macri vai no bom sentido. Mas só se os governos dos países mercosulinos estiverem realmente dispostos a implementar pesadas reformas econômicas, administrativas e políticas internas. E pisar nos mesmos calos que durante mais de vinte anos impediram a construção de um Mercosul viável.

*Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica de política internacional às segundas-feiras para a RFI
 

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