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Brasil/Marisa Letícia

Corpo de Marisa Letícia é velado em São Bernardo do Campo

O corpo da ex-primeira dama Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está sendo velado neste sábado (4) na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), onde ela e Lula se conheceram.

Marisa Letícia, fotografada ao lado de Lula em outubro de 2016
Marisa Letícia, fotografada ao lado de Lula em outubro de 2016 REUTERS/Paulo Whitaker
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O velório da ex-primeira-dama é realizado entre 9h e 15h. Em seguida, haverá no cemitério Jardim da Colina, também em São Bernardo  do Campo, uma cerimônia de cremação reservada à família.

Desde o início da manhã deste sábado, centenas de simpatizantes do ex-presidente formavam uma fila do lado de fora do sindicato, a maioria deles com camisetas vermelhas do Partido dos Trabalhadores (PT) e cartazes que diziam "Lula Presidente". Cabisbaixo e vestido de preto, o líder petista recebeu os pêsames de seus colegas de partido.

Os detalhes da cerimônia fúnebre foram divulgados poucos minutos depois de o Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, emitir um comunicado oficial sobre a morte cerebral de Marisa, na quinta-feira (2). Com isso, deu-se início ao processo para a doação de seus órgãos, como foi autorizado pelos parentes da ex-primeira-dama.

Vítima de perseguição política

Marisa Letícia Lula da Silva faleceu na sexta-feira (3), aos 66 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, depois de ter sofrido um AVC em 24 de janeiro. Representantes do PT alegam que a ex-primeira-dama adoeceu por ser vítima de perseguição política. Lula enfrenta cinco acusações ligadas ao escândalo de corrupção na Petrobras, algumas das quais envolviam sua esposa.

"Não é exagero dizer que mataram a dona Marisa, ela foi vítima de uma perseguição gigantesca e não aguentou", disse a jornalistas o senador do PT Lindbergh Farias.

"Há um ano dona Marisa não tinha nenhuma alegria, vivia sob ameaças de prisão, de prisão dos filhos. Tenho convicção de que sua partida prematura está muito ligada a esse clima de ódio", disse Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete de Lula e ex-ministro de Dilma.

Luto de três dias

O presidente Michel Temer, que já havia visitado Lula no hospital, emitiu uma nota de condolências, decretando luto oficial de três dias pela morte da ex-primeira-dama.

"Neste momento de profunda dor e pesar na família do ex-presidente Lula, eu e Marcela transmitimos a ele, a seus filhos e a familiares e amigos as mais sinceras condolências", diz a nota.

Em viagem pela Europa, a ex-presidente Dilma Rousseff antecipou seu retorno e chegou ao hospital na manhã de sexta-feira para dar pessoalmente seus pêsames a Lula. 

Filha de agricultores

Filha de agricultores de ascendência italiana, Marisa nasceu em uma casa de pau-a-pique, na periferia de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Na infância se mudou com a família para o centro da cidade. Aos 9 anos, foi babá das sobrinhas do pintor Candido Portinari. Depois, aos 13 anos, trabalhou embalando bombons Alpino na fábrica de chocolates Dulcora.

Ela deixou o emprego para se casar, aos 19 anos. Seis meses depois, o marido, taxista, foi assassinado a tiros em uma tentativa de assalto, deixando a jovem viúva grávida de quatro meses do seu primeiro filho, Marcos.

Ela conheceu Lula, também viúvo, em 1973, no Sindicato dos Metalúrgicos. Ele trabalhava no Serviço de Assistência Social do sindicato quando Marisa foi buscar um carimbo para recolher a sua pensão como viúva. Os dois começaram a namorar e se casaram menos de um ano depois.

Ao lado de Lula nas greves dos anos 1970

Marisa acompanhou Lula desde o início de sua vida política, durante as greves de operários no ABC paulista no fim dos anos 1970. Ele se tornou presidente do sindicato um ano depois do casamento, em 1975.

Ela foi costurou a primeira bandeira do Partido dos Trabalhadores. "Eu tinha um tecido vermelho, italiano, um recorte guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca no fundo vermelho. Ficou lindo", contou em uma entrevista.

Na época, ela estampava camisetas com a estrela símbolo da sigla para arrecadar fundos para o partido e chegou a cadastrar as pessoas na rua, buscando convencê-las da importância de montar um partido dos trabalhadores.

Em 1980, em plena ditadura, quando Lula e diversos sindicalistas foram detidos no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) devido às greves, liderou uma marcha só com mulheres em protesto contra as prisões políticas.

"Hoje parece loucura. Fizemos uma passeata das mulheres em 1980, quando os dirigentes sindicais estavam presos. Encheu de polícia. Os homens queriam dar apoio, mas dissemos não. Fizemos só com as mulheres, eu de mãos dadas com meus filhos à frente", lembrou em entrevista à Fundação Perseu Abramo, em 2002.

Primeira-dama

Em 1º de janeiro de 2003, tornou-se primeira-dama após o marido concorrer à Presidência quatro vezes, em 1989, 1994 e 1998. Passou a aparecer mais em palanques ao lado de Lula durante a campanha de 2002.

Marisa Letícia da Silva e Luiz Inácio Lula da Silva se casaram em 1974, em um cartório. Era o segundo casamento de ambos. Na época, Lula era metalúrgico e, no ano seguinte, se tornaria presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Junto com o crescimento do PT, Marisa passou por um processo de mudança, sob a orientação do publicitário Duda Mendonça. Ganhou um guarda-roupa novo, em que terninhos ganharam espaço, e um corte de cabelo mais curto.

Enquanto ocupou o Palácio da Alvorada, adotou um comportamento discreto. Uma vez ao ano, organizava festas juninas na Granja do Torto, de propriedade da Presidência, quando participava das danças de quadrilha ao lado do ex-presidente.

Causou polêmica ao ordenar que fossem plantados canteiros de flores vermelhas, em formato de estrela, nos jardins do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto.

Lula a chamava de "galega"

Nascida Marisa Letícia Casa, assumiu o sobrenome Silva ao se casar com Lula. Quando o ex-presidente incorporou o apelido a sua assinatura, passou também a assinar Marisa Letícia Lula da Silva. Para o ex-presidente, no entanto, a mulher era apenas "galega", apelido pelo qual a chamava desde que começaram a namorar nos anos 1970.

Costumava dizer que foi pai e mãe dos filhos, a quem se dedicou enquanto o marido avançava na vida pública. Cuidava sozinha do apartamento em que a família vivia em São Bernardo.

"É ela quem manda. E ele obedece. Dona Marisa se dedica a Lula e à família inteira. É o alicerce de Lula", definiu o cardiologista e amigo da família, Roberto Kalil, médico de Lula há 30 anos, em entrevista ao jornal O Globo em 2011, quando o ex-presidente teve a cabeça raspada pela mulher durante o tratamento de câncer contra a laringe a que se submeteu.
 

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