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"O reino de Deus se instala no Rio", diz Libération sobre Crivella

A edição do Libération desta sexta-feira (6) traz uma reportagem sobre o novo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Com o título "O reino de Deus se instala no Rio", o jornal francês de esquerda mostra que a influência dos evangélicos sobre as classes populares não para de crescer no Brasil.

O jornal Libération publica matéria sobre Marcelo Crivella
O jornal Libération publica matéria sobre Marcelo Crivella RFI/ Libération.fr
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"Bispo de uma seita evangélica, Crivella dirige a cidade brasileira desde 1° de janeiro", informa o diário. Apesar de o Brasil ser considerado o maior país católico do mundo, o Libération nota que "os cultos evangélicos não se contentam mais com o proselitismo".

"A presença deles na vida política progrediu mesmo durante os governos de esquerda dos ex-presidentes Lula e Dilma", constata o diário.

Para entender esse fenômeno, o jornal francês entrevista três especialistas. O sociólogo de religiões Ricardo Mariano, professor da Universidade de São Paulo (USP), afirma que um dos principais objetivos dos evangélicos é "a defesa de uma moral sexual conservadora e dos valores da família tradicional".

Para alcançar esse objetivo, eles empregam uma linguagem bíblica contra os adversários. "Defensores do aborto e dos direitos de homossexuais são apontados como a encarnação do mal e do demônio", relata o Libération, acrescentando que esse discurso é convincente.

"Graças ao império midiático construído por essas igrejas, elas hoje têm um bloco parlamentar de 88 deputados e três senadores, incluindo Crivella", diz o texto.

Forte imaginário religioso

A reportagem mostra que a bancada evangélica tenta bloquear no Congresso Nacional projetos a favor de mulheres e homossexuais, além de buscar confiscar direitos adquiridos, como o aborto em caso de estupro.

Os 43 milhões de fiéis de igrejas pentecostais, que representam 22,2% da população, são na maioria "pobres e de cor", indica Maria das Dores Campos Machado, coordenadora do Centro de Estudos sobre Temas da Religião, Ação Social e Política, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para a pesquisadora, os políticos evangélicos atraem as camadas mais pobres da população porque elas são dotadas de um forte imaginário religioso e foram abandonadas pelo Estado. "A esquerda não consegue mais sensibilizar essas pessoas. Nos bairros onde falta tudo, os fiéis, principalmente as mulheres, encontram forças para lutar contra as adversidades ouvindo esse discurso", explica.

Segundo o sociólogo e cientista político Rudá Ricci, a diminuição da pobreza durante os 13 anos de governos do PT acabou por endossar as promessas de prosperidade que os fiéis ouvem nos cultos evangélicos. "Os bispos prometem a riqueza como recompensa àqueles que pagam o dízimo. Muitos fiéis atribuem a melhora de suas condições de vida não às políticas públicas, mas ao bom Deus", destaca Ricci.

Os especialistas divergem sobre a capacidade dos evangélicos de dominar o Congresso, o Judiciário e até a presidência da República. As igrejas pentecostais são influentes, mas continuam minoritárias e necessitam de alianças.

Maria das Dores Campos Machado nota, no entanto, que, para enfrentar essa concorrência, a Igreja Católica brasileira, marcada pelo progressismo durante e após a ditadura militar, tende a se tornar cada vez mais conservadora.

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