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Brasil-Mundo

Brasileiros servem refeições gratuitas para pessoas carentes na Dinamarca

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Brasileiros residentes na Dinamarca estão trabalhando voluntariamente para servir refeições gratuitas a desabrigados e pessoas carentes de Copenhague. O trabalho é feito no convento da Ordem das Missionárias da Caridade, fundada pela Madre Teresa de Calcutá. O convento é uma das organizações humanitárias da cidade que oferecem alimentação gratuita a pessoas necessitadas.

Equipe de voluntários e freiras que atende a população carente em um convento na Dinamarca.
Equipe de voluntários e freiras que atende a população carente em um convento na Dinamarca. Foto: Maragareth Marmori
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Margareth Marmori, correspondente da RFI em Copenhague,

Todos os dias do ano, as quatro freiras do convento fazem almoço para um público de 40 a 70 pessoas que visitam o refeitório da instituição. Há mais de um ano, um grupo de 20 a 30 brasileiros vem se revezando para fazer o almoço no convento de dois em dois meses e desde novembro passado o trabalho passou a ser feito mensalmente.

O pontapé inicial para a participação dos brasileiros nas atividades do convento partiu do rondoniense Stélio Flávio Maloney, que tomou a iniciativa de procurar as freiras para saber como poderia ajudá-las.

“Eu fui visitá-las, me apresentei e expliquei a ideia; que eu tinha um grupo de brasileiros e que gostaríamos de tentar ajudá-las no trabalho social que elas prestam aqui na Dinamarca. As freiras foram muito receptivas porque elas precisam de ajudam. Elas trabalham o ano inteiro, 24 horas por dia, de sábado a domingo, elas não têm folga. Então elas falaram que se nós pudéssemos vir dar uma ajuda, iria beneficiar principalmente as pessoas que são atendidas, mas também porque elas poderiam executar outro tipo de trabalho. Elas poderiam ir para as ruas para atender as pessoas que não poderiam ir ao centro receber esse tipo de alimentação. Elas foram muito receptivas, tanto que hoje nós somos muito próximos e estamos tentando ainda mais ampliar esse tipo de atendimento. Está tudo indo bem, graças a Deus, e vamos trabalhar para que o ano de 2017 se amplie ainda mais. ”

Estrangeiros são maioria a buscar ajuda

Segundo Stélio, apenas 10% dos que o procuram o refeitório são dinamarqueses aposentados, que são mais frequentes no final do mês, quando o dinheiro da aposentadoria que recebem está no fim. “A maioria das pessoas que é atendida é do leste europeu, de países como a Polônia, ou do sul da Europa, de países como Portugal, Espanha e Grécia. No caso podemos falar que eles são refugiados econômicos. Foram atingidos pela grande crise econômica que aconteceu cinco anos atrás e vieram para a Dinamarca em busca de outras oportunidades. Infelizmente, por algum motivo, eles não se enquadraram bem na sociedade dinamarquesa e estão recebendo esse tipo de ajuda gratuita através das freiras e através da gente”, diz.

“Mas nós também atendemos dinamarqueses, nascidos e criados na Dinamarca, que são cerca de 10% desse grupo e que por algum motivo também não tem condições econômicas de pagar sua própria alimentação. No caso, é um grupo de dinamarqueses que tem uma aposentadoria muito baixa, o que é a minoria da população aqui, mas, por incrível que pareça, existe esse tipo de grupo. Outras pessoas ficaram doentes, outras por causa de álcool ou coisa similar“, acrescenta.

Stélio Flávio Maloney, voluntário brasileiro.
Stélio Flávio Maloney, voluntário brasileiro. Foto: Arquivo pessoal

Na conversa com os usuários do refeitório, Stélio descobriu que a grande parte deles vive na rua o ano inteiro.
“Essas pessoas não têm casa própria. Vivem e dormem em parques aqui na Dinamarca, em suas barraquinhas - eles têm barraquinhas móveis - ou em sacos de dormir, que são térmicos. Realmente elas não têm condições nenhuma de ter uma habitação. Eles vivem nas ruas e sobrevivem recolhendo garrafinhas. Aqui na Dinamarca você pode vender garrafas PET e também latas de guaraná. Eles vivem o dia todo catando latinhas que são encontradas nas ruas para vender anos supermercados para comprar o café da manhã ou algo assim. Mas ficam perambulando o dia inteiro no frio aqui da Dinamarca. Não tem higiene pessoal digna porque não tem condições para isso”.

Segundo ele, todos os dias as portas a partir das duas e meia da tarde as portas estão abertas no centro de atendimento das freiras. “Lá eles vão receber alimentação, recebem também ajuda emocional das freiras. Fora o almoço recebem também sobremesa, frutas e um pouquinho para levar para casa. E depois voltam para a rua para tentar encarar o resto do dia perambulando e dormem em condições desumanas. Principalmente agora que estamos no inverno e a temperatura na madrugada chega a 12, 13 graus abaixo de zero. Então não é uma situação boa você dormir numa realidade dessas. Alguns dinamarqueses ainda têm sua vivenda, são aposentados, moram em apartamento simples mas tem sua casinha, mas os outros 90% não tem residência e são moradores de rua. Esta é a realidade”, conta.

Tarefas variadas e doação

Quando os brasileiros assumem a refeição no convento, há várias tarefas que precisam ser executadas, como a limpeza da cozinha e do refeitório. Além disso, cada voluntário doa cerca de R$50 para a compra dos alimentos. As coordenadoras de todo o trabalho são a goiana Viviane Gomes e a baiana Selma Hansen.

Viviane Gomes e Selma Hansen fazem parte da equipe de brasileiros que atuam como voluntários.
Viviane Gomes e Selma Hansen fazem parte da equipe de brasileiros que atuam como voluntários. Foto: Margareth Marmori

Selma mora há 23 anos na Dinamarca e aqui sempre sentiu falta de uma oportunidade para trabalhar em atividades assistenciais. Viviane se mudou para o país há apenas três anos, depois de morar 20 anos em Portugal. Embora a Dinamarca seja considerada o quarto país mais desenvolvido do mundo, a quantidade de pessoas pobres em Copenhague não a surpreendeu.

“Na verdade, eu não me surpreendi muito porque, apesar, não só a Dinamarca, de todos os países da Europa serem bastante desenvolvidos e terem um nível de pobreza muito baixo, há sempre as pessoas que estão com problemas alcoólicos, com problemas de drogas e essas pessoas ficam à margem da sociedade. E mesmo que haja muitos centros onde elas possam viver, elas não querem viver lá porque lá elas não podem beber, não podem fumar seu cigarro, elas sempre escolhem estar na rua. Em Portugal eu já havia visto essa mesma situação e em outros países da Europa também”, afirma.
 

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