Direita no Brasil pode se fortalecer em 2018, dizem cientistas políticos

Não é só na França e nos Estados Unidos. Políticos de direita também estão ganhando mais espaço no Brasil. Esse avanço, destacado nas eleições municipais deste ano, deve se repetir nacionalmente em 2018.  É o que prevê cientistas políticos e mesmo partidos de esquerda.  

Deputado Jair Bolsonaro(PSC-RJ) discute com a deputada Maria do Rosário (PT-RS) durante comissão geral, no plenário da Câmara.14/09/16 Marcelo Camargo / Agência Brasil

Luciana Marques, correspondente da RFI em Brasília

Para o cientista político e professor da Universidade de Brasília Flávio Britto, existe um fenômeno mundial em que as correntes de centro-direita estão em uma curva ascendente. “Os partidos de esquerda começaram a decepcionar seu eleitorado quando o discurso seguia num sentido e a prática era oposta”, afirmou.  

Segundo o cientista político Lucas de Aragão, a esquerda brasileira foi responsabilizada pela crise econômica e o discurso da direita surtiu efeito.

“Provavelmente um governo mais de direita, na figura do PSDB e do PMDB, deve vir a ganhar as eleições em 2018. Se a centro-direita não entregar resultados, talvez em outro ciclo de eleição a gente tenha um governo de esquerda e assim sucessivamente”, afirmou.

Para ele, quando o país está em crise, soluções mais agressivas e populistas tendem a ganhar força. Mas a extrema-direita não deve prosperar.

“Eu não acho que o deputado Bolsonaro vai ter protagonismo no Brasil”, disse Aragão. Já Britto tem uma visão mais ponderada: “A tendência que está se aproximando é que os governos têm que priorizar a geração de renda e emprego para seus cidadãos nacionais. Com isso, você tem um discurso de direita podendo descambar para um momento extremático”, afirmou o cientista político.

Envolto em polêmicas

Pesquisas mostram que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem cerca de 7% dos votos para a presidência da República. Envolto em polêmicas, ele vem rodando o Brasil para divulgar seu nome.

Já passou por estados como Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Roraima, Ceará, Paraíba, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “Estou andando o Brasil, sendo muito bem recebido”, afirmou em entrevista à RFI. O deputado deve deixar o PSC e buscar outro partido para se candidatar ao Palácio do Planalto.

Uma das inspirações de Bolsonaro é o presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump. “Se fosse cidadão americano, teria votado no Trump”, disse o deputado. “O que o Trump sofreu nos Estados Unidos das primárias até agora - chamado de racista, homofóbico, fascista, xenófobo -, eu venho sofrendo há três anos e nada tem colado contra mim, como não colou contra o Trump”. 

Defensor de militares, Bolsonaro disse ser contra o protesto realizado por manifestantes que invadiram o plenário da Câmara dos Deputados na semana passada, pedindo a intervenção militar. “Se os militares chegarem ao poder em 2018, será através dos votos”, afirmou.

Militantes da esquerda falam em “resistência”

Ferrenha opositora de Bolsonaro, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) disse que o crescimento da extrema-direita é preocupante. “Há uma onda extremamente conservadora no mundo e no Brasil isso vem desenvolvendo de forma muito negativa”, declarou.

“Cabe aos setores democráticos conseguir demonstrar que a direita e a extrema-direita não significam desenvolvimento, são na verdade autoritárias e corruptas. Vejo movimentos de resistência no país e internacionalmente. Mesmo com a vitória da direita, nós da esquerda preparamos movimentos de resistência”.

Uma das apostas de movimentos de esquerda é Ciro Gomes, do PDT. Ele foi candidato à Presidência em 1998 e 2002 e pode ser um “plano B”, caso o ex-presidente Lula não consiga se candidatar. “O Ciro Gomes ainda vai ter que nadar muito para construir uma aliança que envolva uma rede boa de prefeitos para que possa ter capilaridade política e tempo de televisão”, diz Aragão.