Les Echos destaca a onda de demissões com reestruturação de estatais no Brasil

O “choque de austeridade” para as empresas públicas no Brasil é destaque no Les Echos desta quarta-feira (23). Decididamente, o jornal está de olho na economia brasileira e nas medidas adotadas pelo governo Temer. O artigo publicado hoje é o quarto sobre a situação do país em menos de uma semana.

Artigo do Les Echos, publicado nesta quarta-feira 23 de novembro de 2016: "Brasil: choque de austeridade para as empresas públicas"

O jornal econômico francês informa que a onda de redução de pessoal nas estatais atinge principalmente os setores de energia e finanças. O objetivo de evitar qualquer aumento de capital e reforçar a rentabilidade das empresas.

O correspondente do Les Echos em São Paulo, Thierry Ogier, dá a lista das estatais visadas pelo regime imposto pelo governo Temer: Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e Correios. Elas são as maiores empresas públicas do país, a maioria delas lidera seu setor, mas estão endividadas ou são consideradas ineficazes, julga o artigo.

Brasília tomou as medidas de impacto, após admitir que a recessão brasileira será maior do que o previsto. O PIB nacional irá recuar 3,5% este ano ao invés dos 3% previstos anteriormente. O crescimento volta em 2017, mas será de apenas 1%, de acordo com o governo.

Reduções no BB tiveram efeito de uma bomba

Uma das primeiras consequências dos cortes teve o efeito de uma bomba, escreve Les Echos: a decisão do conselho de administração do Banco do Brasil de criar um programa de incentivo à aposentadoria de 18 mil empregados e de fechar centenas de agências em todo o país. A instituição visa reduzir seus custos em R$ 750 milhões por ano e alinhar suas atividades às do setor privado.

Um responsável do banco Crédit Suisse, ouvido pelo jornal, acredita que a reestruturação pode aumentar a rentabilidade do Banco do Brasil em cerca de 10%.

Les Echos também dá detalhes dos cortes anunciados pela Petrobras em setembro para superar a grave crise na estatal, abalada pelo escândalo revelado pela operação Lava Jato. O texto diz ainda que o plano de reestruturação da Caixa Econômica Federal será revelado no ano que vem. Um anúncio que interessa de perto a França. A seguradora pública francesa, CNP, n°5 no Brasil, é acionista da Caixa Seguridade, que será introduzida na bolsa.

Enquanto isso, os primeiros cortes já seduziram os mercados, aponta o artigo. A ação da Petrobras, por exemplo, subiu quase 8% na segunda-feira (21).

Filiais de estatais podem ser privatizadas

O governo Temer acelera as reestruturações das estatais, que acontecem ao mesmo tempo que o programa de privatização e de concessões. Citada pelos Les Echos, a advogada Ana Cândido de Mello Carvalho, da consultoria TozziniFreire, afirma que "Brasília quer reduzir o raio de ação das empresas públicas e estuda até privatizar algumas de suas filiais". Mais de 50 mil funcionários podem parar de trabalhar com os programas de aposentadoria ou de demissões voluntárias propostos, calcula o correspondente.

Les Echos também entrevistou Wellington Moreira Franco, o secretário de Privatizações e Investimentos do governo Temer. Depois dos Estados Unidos, Japão e China, ele veio a Paris participar de um seminário e promover a atratividade das empresas brasileiras aos europeus.

Moreira Franco afirma que o plano de privatizações, anunciado em setembro, está apenas começando, mas que já há muitos candidatos interessados. Ele promete que as concessões não serão mais dadas como um privilégio e que os editais serão publicados segundo as regras do mercado.