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Brasil/Japão

Brasil e Japão precisam renovar parceria, diz embaixador em Tóquio

O presidente Michel Temer chega ao Japão com a dupla missão de atrair novos investimentos japoneses nas áreas de infraestrutura, energia e logística no Brasil, e de relançar as bases de um relacionamento maduro de longa data, que, no entanto, não mudou na mesma velocidade que as economias dos dois países.

Embaixador André Corrêa do Lago
Embaixador André Corrêa do Lago Photograph(s) courtesy of IISD/Earth Negotiations Bulletin
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Pequim.

Esta será a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro ao Japão em 11 anos. Temer será recebido pelo imperador japonês Akihito e terá reunião com as 12 maiores lideranças empresariais do país, entre a federação da indústria japonesa, a Keidanren, a Nippon Steel, a Mitsui, a Toyota, a Sumitomo, a Nomura, a Mitsubishi e a IHI, além de almoço de trabalho com outros 130 executivos.

Em entrevista à Radio França Internacional (RFI), o embaixador do Brasil no Japão, André Corrêa do Lago, afirmou que os encontros criam a oportunidade de renovação da relação de modo a "ajustá-la ao verdadeiro potencial e às novas realidades que esses países representam".

“A relação é muito boa e já é muito dinâmica, mas não há dúvida de que, quando se olha a pauta de exportações brasileiras para o Japão, e vice-versa, vemos um modelo que se refere a uma Brasil que já foi superado. Isso talvez seja o reflexo do fato de que a nossa relação se fortaleceu muito nos anos 1970. Mas, de lá para cá, o Brasil mudou barbaramente. Aliás, o Japão também”, disse.

Desembarcam com o presidente na capital japonesa uma força-tarefa de ministros de três pastas estratégicas incluídas no Programa de Parceiras de Investimentos, o PPI. Eles terão outros encontros em separado com autoridades do Overseas Infrastructure Investment Corporation for Transports and Urban Development (JOIN), o único fundo do país patrocinado por governo e iniciativa privada especializado em investimentos em infraestrutura no exterior, do Japan Bank for International Cooperation (JBIC) e com o ministério de Infraestrutura do Japão.

O programa do PPI será apresentado e discutido com empresários em um seminário na Embaixada do Brasil no Japão, na véspera da chegada do presidente da República.

Novo perfil e rumo dos investimentos

Segundo o embaixador Corrêa do Lago, não é só a relação comercial que precisa mudar. O perfil dos investimentos japoneses também tem que acompanhar a evolução dos dois países e a sua importância no contexto internacional.

O Brasil era uma economia média, que ainda estava buscando um rumo nos 1970, quando passou a atrair mais recursos daquele país, enquanto hoje tornou-se uma das mais dinâmicas economias do mundo, que consegue fazer desde aviões a outros produtos de alta tecnologia. Ele destaca que a economia brasileira é a segunda maior do mundo em desenvolvimento e a japonesa, a segunda entre os países desenvolvidos.

“É altamente simbólico o fato de o presidente Temer estar vindo da reunião dos líderes dos BRICS (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que são símbolo dos países que estão cada vez mais relevantes na economia mundial, e, ao mesmo tempo, vem para um dos países que é um dos mais tradicionais investidores, muito desenvolvido e que tem essa relação muito madura com o Brasil. O Brasil tem todas essas dimensões que às vezes não são percebidas no Japão. E o Japão, às vezes, é percebido no Brasil como um país que já representou o que podia representar na economia

Priorizar um parceiro investidor

O embaixador afirmou que a visita presidencial deve reforçar aos japoneses a decisão de governo de priorizar um parceiro para investimentos e o PPI deve ser dar um novo impulso ao relacionamento entre os países. Ele reconhece que o país não foi muito atuante em processos de concessão e privatização anteriores no Brasil e que demora mais do que outras nações para fazer análises de investimentos. Segundo Corrêa do Lago, o Japão foi absolutamente central em dois setores que, de certa forma, tiveram impacto gigantesco na economia brasileira nos anos 1970: o minério de ferro, no Pará, e a agricultura, no Cerrado.

“Há uma tradição. O Japão continuou a investir em várias áreas no Brasil, principalmente naquela preocupação tradicional do japonês de ter acesso a produtos de base, que países como este aqui não têm no seu território. Mas essa relação foi se expandindo nos últimos anos, em várias outras áreas desde logística, serviços e na parte urbana, porque o Japão tem experiência em cidades eficientes, em transporte público, o que é extremamente importante para o Brasil, que hoje é um país de 80% urbano”,disse.

“O PPI está muito focado em todas essas áreas em que o Japão tem grande experiência. Por isso, é muito provável que o PPI seja uma fonte de novo impulso nos investimentos japoneses no Brasil”, acrescentou.

Olimpíadas podem servir de aproximação

Para Corrêa do Lago, há muitas áreas com grande potencial de crescimento entre os dois países e uma delas é da sustentabilidade. “O Brasil é um país que pode trabalhar com o Japão em várias outras áreas. O país é um símbolo de sustentabilidade, que é uma dimensão que podemos explorar juntos, e o Brasil já passou por certas etapas que já o habilitam a ir mais além. Um exemplo óbvio e muito próximo é o das Olimpíadas e Paralimpíadas. Também é uma coincidência feliz que, depois do Rio, os próximos jogos serão em Tóquio. Estamos aí com uma quantidade de áreas que se apresentam muito além das áreas originais de investimentos no Japão”.

Embaixador André Corrêa do Lago será o negociador-chefe da delegação brasileira na COP28.
Embaixador André Corrêa do Lago será o negociador-chefe da delegação brasileira na COP28. AgenciaBrasil170512VAC 6419 Valter Campanato/ABr

Entre os entendimentos que podem ser fechados no curto prazo estão de cooperação da área das Olimpíadas e de vigilância sanitária. O Brasil tem demandas históricas para a abertura da economia japonesa para a carne e as frutas brasileiras. De acordo com o embaixador, estão sendo feitos todos os esforços necessários para aproximar as áreas técnicas dos dois países, com missões frequentes do Ministério da Agricultura do Brasil. No médio prazo, há outros acordos em andamento, inclusive de vendas de aviões da Embraer ao Japão. Um representante da empresa brasileira participará dos encontros com empresários em Tóquio.

PEC do teto foi bem recebida pelas autoridades japonesas

Em briefing à imprensa brasileira em Tóquio, o embaixador afirmou que as autoridades japonesas receberam bem a PEC do teto de gastos aprovada recentemente pelo governo. Segundo ele, o país asiático acompanha de perto a política interna brasileira porque seu perfil é de fazer investimentos de longo prazo no país.

“Os japoneses são atentos à política interna brasileira, porque seus investimentos são de longo prazo. Para entrar em um investimento de vulto, em país longínquo, ele tem de ter confiança de que, no longo prazo, o país vai funcionar e de que haverá retorno. Essa percepção se fortalece muito com a noção de que o governo assumiu, de maneira muito firme, o compromisso com os cortes de gastos”, explicou.

Temer fará pronunciamento sobre as oportunidades de investimentos que se abrir no país com as mudanças que o governo está fazendo na área econômica.

Acompanham o presidente Michel Temer o secretário Executivo do PPI, Moreira Franco, o ministros dos Transportes, Maurício Quintella, de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, da Agricultura, Blairo Maggi, dos Esportes, Leonardo Picciani, e o secretário Geral do Itamaraty, Marcos Galvão, ex-embaixador do Brasil no Japão.

Dekasseguis

Outro tema da pauta do encontro em Tóquio é a população de origem japonesa no Brasil de quase dois milhões de pessoas e de brasileiros no Japão de cerca de 200 mil.

A primeira visita presidencial brasileira em mais de uma década também deve distensionar o ambiente diplomático entre os dois países. Em dezembro do ano passado, a ex-presidente Dilma Rousseff cancelou de última hora a viagem que faria ao Japão.

Os diplomatas daquele país souberam pela imprensa que a mandatária não iria mais. À época, foi necessário suspender a visita porque, sem aprovação do orçamento no Congresso, o governo estaria impedido de fazer qualquer despesa que não fosse essencial para o funcionamento da máquina.

Dilma já havia cancelado outra visita em 2013 poucos dias antes de embarcar. Na ocasião, o motivo foi a onda de protestos que tomou conta das ruas do país.

 

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