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BRASIL

Para especialistas, desafio de Temer é retomada do crescimento econômico

Michel Temer assumiu definitivamente como o novo chefe de Estado brasileiro após a destituição de Dilma Rousseff da Presidência, nesta quarta-feira (31). Entre os principais desafios do novo governo apontados pelos cientistas políticos ouvidos pela RFI, a contenção da crise econômica e do desemprego.

Michel Temer durante cerimônia da posse no Senado, em 31 de agosto de 2016.
Michel Temer durante cerimônia da posse no Senado, em 31 de agosto de 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Para o cientista político Gaspard Estrada, diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), o impeachment foi o desfecho de uma crise política.

"O governo muda, mas os problemas do Brasil não mudam. Ainda há os desdobramentos da Operação Lava Jato, e as consequência políticas disso não foram tratadas pela classe política. Por outro lado, a crise econômica também não foi tratada. Atualmente o país está em recessão. O desemprego continua aumentando. E, finalmente, a polarização social continuará porque uma parcela significativa considera Michel Temer um presidente ilegítimo. Cerca de 60% gostariam de novas eleições, e somente 14% aprovam a gestão dele”, analisa.

Sobre o novo papel de Dilma, Estrada opina que ela não tem condições de liderar a oposição. "Ela nunca teve relação de proximidade com o PT, ela foi imposta pelo Lula, à revelia do partido. Ela não tem capacidade política de aglutinação. Ela não gosta do jeito de fazer política no Brasil."

"Futuro do PT é complicado"

Segundo o cientista político, o futuro da esquerda e do PT no Brasil "vai ser difícil, complicado". "Haverá eleições municipais em outubro, e o mais provável é que o PT perca em cidades importantes, particularmente em São Paulo, que atualmente é governada pelo partido. Porém o PT conta com um ativo eleitoral, o ex-presidente Lula. Ele vai se tornar a principal liderança da oposição ao governo. Se as eleições presidenciais acontecessem hoje, cerca de 30% dos brasileiros votariam no Lula, segundo as últimas pesquisas", diz.

Sobre a recepção internacional ao novo presidente, Michel Temer, Estrada acha que, "como o rito foi cumprido, não haverá impacto no reconhecimento do Brasil". "Há algumas exceções na América Latina, de países que estão engajados em um apoio a Lula e a Dilma e que tomarão medidas diplomáticas. Foi o caso da Nicarágua. Pode ser o caso da Bolívia, pois o presidente Evo Morales falou de tirar o embaixador de Brasília."

E continua: "Mas a verdadeira questão é se o mercado e os investidores vão voltar a investir no Brasil. O principal desafio do governo Temer vai ser retomar o crescimento econômico e social, que é a grande preocupação dos brasileiros. E ele vai ser muito mais cobrado pelos aliados que o apoiaram nas sua ambição de destituir a presidente Dilma".

"Mensagem difícil de interpretar"

Para o professor Matthew Taylor, cientista político especializado em América Latina da Universidade Americana de Washington, a mensagem que o impeachment de Dilma Rousseff envia à comunidade internacional é “difícil de ser interpretada”. Segundo ele, “houve uma certa preocupação natural com a instabilidade da democracia brasileira, mas, de maneira geral, muitos esperavam um desfecho, qualquer que fosse ele, para poder reintegrar o Brasil à comunidade global”.

Para Taylor, a instabilidade doméstica do Brasil diminuiu claramente a possibilidade do Brasil de participar ativamente do cenário global. “Acho que o fim dessa incerteza talvez possa trazer uma volta do país aos diálogos internacionais”. Para o especialista, a situação econômica e política atual do Brasil forçará a coalização do governo Temer a buscar certas reformas para reverter “principalmente a situação econômica”.

“Já há notícias de reformas que serão propostas pelo governo Temer. Acho que muitas delas deverão esperar as eleições municipais de outubro, mas, a partir de novembro, haverá uma pequena janela de mais ou menos 14 meses, na qual o governo poderá trabalhar junto com o Congresso e com essa coalizão de partidos para tentar aprovar uma reforma fiscal e previdenciária”, finaliza.

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