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Dilma faz apelo por “consciência” de senadores sobre impeachment

Depois de quase treze horas de depoimento no Senado, a presidente Dilma Rousseff encerrou sua fala com um alerta sobre os riscos do impeachment para a democracia do país e um apelo para os senadores analisarem e julgarem o pedido “com consciência”. A sessão de votação deve começar nesta terça-feira (30) às 10 horas da manhã.  

A presidente afastada, Dilma Rousseff, durante seu depoimento no Senado.
A presidente afastada, Dilma Rousseff, durante seu depoimento no Senado. REUTERS/Ueslei Marcelino
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“É muito grave afastar uma presidenta da República sem crime de responsabilidade, mesmo que o impeachment esteja previsto na nossa Constituição”, declarou Dilma na sua mensagem final depois de ter respondido a perguntas da acusação.

“Não se trata de um golpe como aquele em que pessoas da minha idade ou um pouco menos, ou um pouco mais, sofreram ao longo da juventude”, afirmou, em referência ao golpe militar no Brasil, em 1964. 

“Não é possível supor que quando se faz exceções, e se tirar um presidente eleito sem crime de responsabilidade, esse ferimento será muito difícil de ser curado. Por isso peço aos senadores que tenham consciência na hora de avaliar esse processo”, finalizou.

02:21

de Brasília, Elcio Ramalho

O apelo encerrou a longa jornada de compromisso no Senado, onde fez pela manhã um depoimento para denunciar a injustiça do qual é alvo devido a um pedido de impeachment orquestrado como vingança política de seus adversários, especialmente o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Dilma Rousseff também respondeu a perguntas de 48 senadores que se inscreveram para falar. Os favoráveis ao impeachment insistiram em questionamentos sobre os dois assuntos que servem de base para o pedido de impeachment: a abertura de créditos suplementares no orçamento sem o aval do Congresso e o atraso no repasse de recursos a bancos públicos controlados pela União, manobra conhecida como “pedaladas fiscais”.

Ela insistiu várias vezes durante seu discurso e nas respostas aos senadores e aos advogados de acusação que, se for condenada por um crime que diz não ter cometido, será vítima de um “golpe de Estado”, um “golpe parlamentar” e haverá no país uma “ruptura da democracia”.

“Os decretos respeitaram a Lei de Responsabilidade Fiscal”, garantiu.

Cunha e Temer

Dilma aproveitou várias ocasiões para se referir ao pedido de impeachment como uma “mancha”, um “pecado original”, que surgiu como “um desvio de poder” arquitetado por Eduardo Cunha. Segundo a presidente, ela se recusou a pactuar com o ex-presidente da Câmara que precisava de votos para se livrar de uma investigação e a acabou punindo com a abertura da investigação.

“Não foram as ruas que fizeram o impeachment. O (pedido) tem a marca e as digitais do Sr. Eduardo Cunha. Lamento que a origem do impeachment tenha tão grave origem”, destacou. A presidente insistiu que as pautas-bombas votadas pelos congressistas agravaram a situação econômica provocada também por um boicote sem precedentes por parte da Câmara para analisar projetos de interesse do governo.

Questionada sobre a escolha do vice Michel Temer, que agora chama de “usurpador do poder”, Dilma se referiu ao companheiro de chapa por acreditar que ele fazia parte de um “centro democrático”, núcleo oriundo de uma linha histórica do PMDB. “Acreditávamos que ele representava o melhor do PMDB. Mas foi mudando. Começou no final do meu mandato e se acelerou no segundo. O centro democrático passou a ser golpista. O Michel Temer era um coadjuvante e o líder era o Eduardo Cunha. Lamento que eu tenha, através dos meus gestos, construído essa hipótese de um vice que representava um centro democrático do país”, avaliou.

Por várias vezes, Dilma Rousseff sinalizou que, se voltar ao cargo, vai discutir a possibilidade de promover plebiscito para novas eleições.Em suas considerações finais, ela pediu maior compreensão da situação do país e estendeu a mão para fazer alianças.

“Não é possível que se tenha uma posição fundamentalista das contas públicas. Podemos ser capazes de fazer acordos e recuperar de forma mais rápida a economia brasileira”, disse. “Não podemos transformar a execução do gasto público em um espaço de disputa ideologia que não tem consequência para o bem do país. Temos que ter maturidade suficiente para superar esse processo”, completou.

Reações otimistas de aliados

O desempenho e a coragem da presidente, que teve o percurso político de resistência à ditadura saudado até pelos opositores, animou os aliados de Dilma Rousseff. Eles viram na decisão anunciada pelo senador Hélio José (PMDB -DF) de votar contra o pedido de impeachment a indicação de que ainda é possível inverter a tendência do Senado de votar pelo afastamento definitivo da chefe de Estado.

“Vamos continuar a luta, as articulações. É um jogo que existe até o fim. Vocês viram o voto do senador Hélio José que era certo contra o impeachment”, reagiu Lindberg Farias (PT-RJ). A senadora Regina Sousa (PT-PI) também saiu otimista com o depoimento de Dilma Rousseff. “Ela foi perfeita, segura, firme, esclareceu tudo. É difícil mas não impossível”, disse em referência à possibilidade de reverter o placar do impeachment.

“Não tenho a menor dúvida que se fosse um processo julgado com racionalidade, baseado nas provas dos autos, e amparado por uma visão de justiça, esse depoimento de hoje selaria tudo, resolveria tudo”, afirmou José Eduardo Cardozo, advogado da presidente.

Poucos senadores da base aliada do presidente Temer se expressaram ao final da audiência da presidente, mas não mostram preocupação. “As respostas delas eram feitas de acordo com sua conveniência, para quem perguntou ou quem tem um convencimento, de todos os fatos que aconteceram, não resta dúvida. Mas algumas pessoas ainda podem mudar o voto de acordo com suas conveniências”, declarou Ana Amélia (PP-RS), segura de que as aprovações de outros ritos durante o processo, com margem superior aos 54 votos necessários, afastariam eventuais surpresas no resultado final da votação.

 

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