No fim de semana em que o Brasil estava extasiado com a abertura dos Jogos Olímpicos, a imprensa brasileira publicou duas denúncias envolvendo o governo interino, originadas nas delações da empreiteira Odebrecht à Operação Lava Jato. Na opinião do cientista político Frédéric Louault, especialista em política brasileira da Universidade Livre de Bruxelas, o timing da divulgação sobre a ocorrência de financiamento ilegal de campanha de José Serra e Michel Temer “não foi por acaso” – o que, segundo ele, ajuda a explicar a fraca repercussão das acusações.
“Não tem acaso na agenda política brasileira”, afirma Louault, que também é pesquisador da Sciences Po, de Paris. “A divulgação dessas informações durante os Jogos pode ser uma estratégia para reduzir o efeito que as mesmas notícias teriam em setembro, depois das competições e logo antes das eleições municipais. O impacto também seria diferente se tivessem sido publicadas às vésperas da votação final do impeachment”, indica o professor.
Os vazamentos indicam que o chanceler interino, José Serra, recebeu R$ 23 milhões de caixa 2 da Odebrecht para a sua campanha à presidência em 2010 e que Michel Temer pediu "apoio financeiro" para o PMDB à empreiteira, num total de R$ 10 milhões em 2014.
O especialista avalia que, desde o afastamento da presidente Dilma Rousseff, há um acordo tácito entre o PMDB e o PSDB para blindar o governo interino. Mas, tão logo o impeachment se concretize, os dois partidos devem se armar “para a briga futura, nas eleições presidenciais”.
“Mas os brasileiros não são bobos, como mostram as pesquisas indicando a baixa popularidade do presidente interino”, ressalta Louault. “Acho que muitos brasileiros estão esperando a finalização do processo de impeachment para finalmente começar uma outra luta, a pelo direito de escolher o futuro do Brasil e dos futuros governantes, que seriam eleitos e legítimos.”
Para ouvir a entrevista completa, clique na foto acima.
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