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O Mundo Agora

Clichês sobre o Brasil dominam cobertura da Olimpíada no exterior

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Às vezes é irritante. Quando sai uma notícia do Brasil, boa ou ruim, a reação na Europa e nos Estados Unidos é sempre repleta de chavões e preconceitos. Vide as manchetes alarmistas sobre Jogos Olímpicos. E não é só povão local que nunca pôs os pés no Pindorama. Até os jornais e TVs ditos “sérios” continuam enfiando clichês um atrás do outro.

Mulher posa ao lado de escultura de areia do mascote da Olimpíada, Vinícius, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Mulher posa ao lado de escultura de areia do mascote da Olimpíada, Vinícius, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. REUTERS/Ueslei Marcelino
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A verdade é que o Brasil é muito pouco conhecido aqui fora. São poucos os “brasilianistas" nos centros acadêmicos. As universidades e think tanks europeus e norte-americanos contam com mais especialistas em América espanhola (muitos, aliás, atraídos por outro estereótipo que é estudar só as populações e culturas indígenas). É sempre difícil encontrar participantes mais sofisticados quando se organizam seminários sobre a economia ou a sociedade brasileiras.

Claro, não é só culpa dos “gringos”. Governo, empresas e boa parte dos acadêmicos brasileiros parecem matutos do interior. Desconfiados, detestam participar de encontros internacionais onde têm de debater e entrar em choque com idéias e culturas diferentes, e não fazem nenhum esforço para mostrar ao mundo uma imagem do país mais complexa e refinada.

Um exemplo trivial: existem vários exímios cozinheiros brasileiros, como o Alex Atala ou a Helena Rizzo, mas na hora de promover alguma faceta do Brasil no exterior, a única ideia é organizar um enorme churrasco. Gringo gosta, mas a cozinha brasileira não é só um montão de carne em rodízio regada a chope.

Apego aos clichês

O problema é que samba, praia, bunda, favela, criança de rua, violência policial, queimadas na Amazônia, alegria do povo e calor tropical, tudo isso é verdadeiro. Aliás, todos os países do mundo também têm os seus clichês. Mas no caso do Brasil, fica só nisso.

Quando o governo Lula conseguiu emplacar os Jogos Olímpicos, o Brasil era o queridinho da mídia e dos analistas do Primeiro Mundo. Pois não era um dos poucos países pobres que haviam descoberto o caminho das pedras para virar uma potência global – e ainda por cima com um presidente operário e popular? Europeus e americanos adoram este tipo de narrativa e ninguém olhava para o outro lado da moeda.

Agora que o país afundou numa das piores crises políticas e econômicas de sua história, e que o “herói do povo” virou réu, o estereótipo se inverteu. Voltou a velha foto de um país mambembe, incapaz de sair do atoleiro.

“O Brasil não é um pais sério”, teria dito o general de Gaulle. Se a frase é apócrifa, aquela que diz que “o Brasil é o país do futuro e sempre será”, não é. Qualquer incidente na organização da Olimpíada no Rio virou prova de que não temos jeito. As únicas notícias agora são a poluição da baía da Guanabara, a falta de encanadores e o incêndio no prédio da Austrália na Vila Olímpica, ou a greve dos policiais no Galeão.

Acertos do Brasil não

Claro que não dá para tapar o sol com peneira. Todos esses percalços são insuportáveis e vergonhosos, mas todas as cidades que organizaram os jogos também tiveram problemas. A questão é que ninguém fala mais no que está dando certo e a piada de brindar um canguru aos australianos para acalmar os ânimos só fez nos passar por debochados.

Mas a coisa mais deprimente é que num programa da Arte, um canal de televisão franco-alemão, o âncora, depois de comentar fartamente toda essa bagunça, decidiu passar um filminho do carnaval de 1968 onde o comentarista dizia que, afinal de contas, no Brasil tudo acabava em alegria e carnaval onde os ricos iam pular na rua com os pobres. Tudo bem, e até bem intencionado, mas é de chorar de tanto paternalismo.

Mas não adianta espernear, se o resto do mundo continua com seus preconceitos, a culpa é nossa que continuamos a chafurdar nos nossos velhos problemas sem solução e não buscamos seriamente dar outra imagem do Brasil no exterior. O chavão é nosso!

Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, publica sua crônica semanal às segundas-feiras na RFI

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