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Brasil-América Latina

Brasileiros na Venezuela contam por que continuam no país

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Enquanto muitos venezuelanos continuam saindo do país, alguns brasileiros resistem em deixar a Venezuela, país que passa por profundas crises. Para alguns, esta é a pior delas. Há escassez de alimentos e de remédios, alta criminalidade e uma complexa situação política. Mas por que continuar em um país assim, sobretudo quando se é estrangeiro?

O publicitário paulistano Bobby Coimbra se diz esperançoso quanto ao futuro da Venezuela.
O publicitário paulistano Bobby Coimbra se diz esperançoso quanto ao futuro da Venezuela. Elianah Jorge / RFI
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Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas.

A RFI Brasil foi em busca de respostas com alguns brasileiros que moram em Caracas. Foi com a chegada do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013) ao poder que começou a chamada “diáspora venezuelana”. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 606 mil venezuelanos saíram do país na última década.

De acordo com estimativas do Consulado do Brasil em Caracas, no país moram cerca de 32 mil brasileiros. A goiana Soraya Abou-Letaif chegou aqui em 2010 e viu chances que não encontrou em outros países nos quais morou antes. “Quando eu comecei a trabalhar no ramo de comida, já que é um café totalmente brasileiro, eu comecei a ver o panorama de outra forma: aqui tem oportunidades, só tem que saber aproveitar”, afirma a comerciante.

Dedicada ao ramo de alimentos, Soraya é sócia de uma lanchonete e, em breve, vai abrir outro restaurante, desta vez um negócio só dela. A brasileira vai na contramão da atual situação e contorna até mesmo a escassez de alimentos.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Venezuela deve fechar o ano com uma inflação de 700% e com uma queda de -10% na economia. “A margem de lucro agora é muito pequena justamente por causa do descontrole de preços pelo qual estamos passando neste momento”, relata a brasileira.

Na crise, crie!

Entre os venezuelanos, em geral, o ambiente é de pessimismo. A grande maioria fala mal da situação do país e muitos não têm perspectivas. Mas, como diz o ditado, “enquanto uns choram, outros vendem lenço”.

A comerciante brasileira vê oportunidade: “O Brasil agora não está tão bem economicamente. A Venezuela está pior, mas aqui há trabalho. Eu, sim, acredito que aqui ainda há oportunidade. Eu acredito na Venezuela, e todo mundo que eu conheço de classe alta está investindo na Venezuela, porque em épocas de crise a gente faz dinheiro e eu estou totalmente de acordo com isso”.

No Brasil, a família de Soraya também tem algumas lojas. Mas será que voltar está nos planos dela? “Eu ainda insisto em ficar aqui. Eu amo o meu país, amo o Brasil, só que eu não voltaria para o Brasil porque eu nunca vou ter essa facilidade que tenho aqui”, explica.

Um ditado comum na Venezuela diz que “nadie es rey en su tierra”, ninguém é rei em sua terra. Falar em publicidade na Venezuela é quase o mesmo que falar em Bobby Coimbra, um paulistano que chegou no país há 25 anos e se tornou uma referência. Para Bobby, sair daqui não é uma opção.

"Eu vejo muito mais uma terra de esperança que de oportunidades. Esperança porque brasileiro pessimista nasce morto, e eu acredito que essa situação vai mudar”, afirma o publicitário. “A Venezuela é um país com um grande potencial, está passando por um momento problemático, mas eu creio que isso vai mudar e essa é a nossa esperança. Por ser esperançoso não tenho intenção de sair do país", diz Coimbra.

Um aspecto é comum a todos e do qual quem mora aqui tenta ao máximo se proteger: a alta criminalidade. "A violência é bastante problemática. Hoje Caracas é considerada a segunda cidade mais perigosa do mundo, e isso marca uma grande diferença entre a Caracas que conheci e a Caracas que a gente conhece hoje. Caracas era uma cidade que não dormia, hoje dorme muito cedo. Às sete da noite você não vê mais ninguém na rua", relata o brasileiro.

De acordo com o Observatório Venezuelano da Violência, a taxa de assassinatos é de 90 para cada 100 mil habitantes. Ano passado foram registradas 27 mil mortes violentas em todo o país. Há contrastes, dificuldades e muito a explorar neste país. Tudo depende do ponto de vista.

 

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