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Brasil

“CGU tem muitos inimigos”, declara ex-ministro de órgão contra corrupção extinto

“Desaparece CGU? Por quê? Para quê?”, declarou ex-ministro da extinta Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, em entrevista exclusiva à RFI. Ele desconhece a intenção do governo com a substituição do órgão pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle."Acho extremamente infeliz essa medida e ainda estamos curiosos para saber qual a real motivação. É, no mínimo, muito esquisito”, declarou.

O ex-ministro da extinta Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, em foto de arquivo.
O ex-ministro da extinta Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, em foto de arquivo. Antonio Cruz/Agência Brasil
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Luciana Marques, correspondente da RFI em Brasília

Por mais de oito anos à frente da CGU, Hage foi o ministro que permaneceu mais tempo no cargo. Ele deixou a pasta em 2014. O ex-ministro acredita que políticos estão insatisfeitos com a atuação do órgão não só em ministérios, mas também em prefeituras. A instituição atua principalmente na fiscalização e combate à corrupção. “Tem muita gente que tem horror pelo nome da CGU, pelo que ela representa, porque já expulsou da administração federal mais de 5,5 mil agentes públicos. A CGU tem muitos inimigos, essa que é a verdade”, disse.

Para Hage, o motivo para mudança não pode ser um esforço de enxugamento nos gastos públicos. “Isso não traz nenhuma economia, pelo contrário, traz um pequeno aumento de custos, porque a estrutura dos ministérios é por padrão maior que a estrutura da CGU”. Servidores avaliam que só a confecção de novos crachás com o nome do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle traria um gasto de mais de R$ 1 milhão.

Segundo Hage, outro grande prejuízo é a perda de identidade da instituição. “O sentimento geral de toda a categoria é de perda, porque construíram a instituição com muito esforço, levaram o nome da CGU até os rincões mais distantes do interior do Brasil, fazendo auditorias e acompanhando verbas federais transferidas aos municípios menores e mais distantes. Todo esse trabalho de construção de uma marca é jogado fora simplesmente?”, questionou.

Preocupação internacional

O nome CGU é hoje conhecido não só no Brasil, mas também no exterior. Hage conta que recebeu telefonemas e e-mails de organismos internacionais, como a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e a OGP (Parceria para Governo Aberto), preocupados com a extinção da CGU e questionando o motivo da medida.

Além disso, sem a vinculação à Presidência da República, o órgão perde força, por se tornar apenas um ministério a mais. “Do ponto de vista simbólico, um órgão vinculado à Presidência dava um diferencial em relação aos outros ministérios”, afirmou Hage.

Mobilização nacional

Os chefes de todas as unidades regionais do órgão pediram ao governo federal que reconsidere a extinção da CGU e a criação do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle. No documento direcionado ao ministro da pasta, Fabiano Silveira, eles lembraram que a Controladoria-Geral da União é signatária de diversos termos de parceria e acordos de cooperação vigentes no Brasil e no exterior, que poderiam ficar prejudicados.

Em todo o país, na sexta-feira (20), houve assembleias de entidades que defendem a manutenção do órgão. Os servidores sinalizam por greve geral. "É um movimento em defesa da identidade e da missão institucional da CGU. Portanto, é um ato em defesa da sociedade brasileira e da correta aplicação do dinheiro público", disse o presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle, Rudinei Marques.

Contra mudanças propostas pelo governo Temer

A servidora Anjuli Tostes conta que boa parte dos representantes do órgão são contra as mudanças impostas pelo governo interino. "Recolhemos 1,2 mil assinaturas de servidores da CGU em todo o país em apenas um dia. Um número bastante expressivo, considerando que o órgão tem pouco mais de dois mil servidores e que boa parte destes estão fora da CGU nesse período do ano, em auditoria de contas”, declarou.

Segundo a servidora, a troca de nome vai dificultar a fiscalização. "A imagem da instituição foi construída a duras penas por mais de uma década, nacional e internacionalmente. Qual é a referência que o cidadão vai ter para denunciar se, a cada troca de governo, extinguir-se a identidade do órgão de controle do Executivo? Não aceitaremos retrocessos”, disse.

No Congresso Nacional, já foram apresentadas três emendas contra a extinção da CGU: do deputado Ivan Valente (PSOL-SP) e dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e José Pimentel (PT-PI).

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