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Livro de jornalista suíço analisa legado de Olimpíadas no Rio

A 100 dias do início dos Jogos Olímpicos do Rio, o jornalista suíço Jean-Jacques Fontaine, residente na cidade há dez anos, faz um giro na Europa para promover o lançamento de seu livro "2016, Rio de Janeiro et les Jeux Olympiques − une cité reinventée" (editora L'Harmattan). Na publicação, além de analisar as transformações urbanísticas ocorridas por causa das Olimpíadas, Fontaine questiona o legado das obras para a população.

O jornalista e escritor suíço Jean-Jacques Fontaine.
O jornalista e escritor suíço Jean-Jacques Fontaine. DR
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"A cidade vai melhorar", afirma Fontaine. Porém, mais do que o aspecto esportivo, "a questão é saber de que maneira serão utilizados os novos equipamentos diante da grave crise econômica que o país atravessa", disse o autor em entrevista à RFI. Ele não tem dúvidas sobre o sucesso das provas esportivas, de 5 a 21 de agosto.

Fontaine prevê um repeteco da Copa do Mundo de 2014, quando apesar das críticas sobre os atrasos e os custos elevados das obras, a imprensa e o público estrangeiro deixaram o país maravilhados com o que viram. Na opinião do suíço radicado no Brasil, mesmo as promessas não cumpridas, como a despoluição da baía de Guanabara, já foram digeridas e adiadas. O que mais preocupa o jornalista e escritor é a provável falta de dinheiro para a gestão e manutenção das instalações convertidas em equipamentos para a população.

Em seu livro, Fontaine compara o legado dos Jogos do Rio com um exemplo de sucesso, as Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e um outro de fracasso, o caso de Atenas, em 2004. "Barcelona decolou depois dos Jogos e inspirou o projeto do Rio", recorda.

Poder público não está preparado para manutenção das instalações

"A dimensão das obras está se concretizando no Brasil. A transformação da zona portuária do Rio, as novas linhas de transporte público para permitir a circulação Norte-Sul (BRTs e a linha 4 do metrô), assim como os programas sociais Clínica da Família e Fábrica de Escolas do Amanhã são legados que vão ficar. A questão é como eles vão funcionar quando os subsídios acabarem, num contexto de crise econômica", destaca Fontaine. "Não será mais uma questão de investir para construir, mas de ter orçamento para a gestão e o funcionamento desses locais", argumenta. Na avaliação de Fontaine, o poder público não está preparado para enfrentar a escassez de recursos.

Os benefícios gerados pelo sistema de transporte rápido por ônibus (BRT) são ambíguos. "Algumas linhas foram criadas favorecendo novos usuários, mas nos bairros onde elas foram suprimidas, a população foi castigada pelos Jogos", pondera. Fontaine cita em seu livro o caso do bairro Vaz Lobo, na zona norte. "Havia um comércio local dinâmico. Mas com a chegada do BRT, as pessoas passaram a fazer as compras nos shoppings da Barra, e o comércio local está sofrendo", nota.

Comparando as Olimpíadas do Rio com os Jogos de Atenas, o projeto carioca leva a vantagem de ter sido concebido sem gerar tanto endividamento, diz o jornalista. "A maioria das obras no Rio são realizadas por meio de parcerias público-privadas, não vão gerar grandes dívidas", estima. "O problema é que eu não vejo as políticas públicas de uso das instalações a longo prazo", enfatiza. No caso da Grécia, o país nunca recuperou os investimentos realizados e carrega até hoje as consequências de um endividamento mal planejado.

Turismo pode ter ressaca

Não existe uma fórmula mágica para garantir retorno de longo prazo em todas as áreas relacionadas com grandes projetos esportivos. O segredo é justamente a adaptação. Em Pequim e Sydney houve, por exemplo, uma baixa importante do turismo depois dos Jogos, lembra Fontaine. "Sydney precisou fechar alguns hotéis por falta de clientes", constatou o jornalista. No caso de Barcelona, a cidade levou dez anos para recuperar a frequência turística do período das Olimpíadas, mas se consolidou como um destino mundial de turismo, "uma cidade até hoje na moda", observa.

O Rio de Janeiro corre o risco de ficar com um parque hoteleiro inchado. Além da ociosidade na ocupação, a formação do pessoal e o nível de qualidade no atendimento ainda estão aquém dos padrões internacionais, na opinião de Fontaine. "A imagem do Rio também passa por mais coerência no combate à violência", diz o suíço. Ele elogia a política de pacificação das favelas, que "deu certo por dois anos", mas nota que a violência aumentou novamente com a crise econômica.

Retorno da violência prejudica imagem da cidade no exterior

A organização Anistia Internacional divulgou nesta quarta-feira (27) um duro comunicado sobre a situação dos direitos humanos no Rio. O documento diz que a população das favelas está vivendo sob terror depois que 11 pessoas foram mortas pela polícia ao longo do último mês. A Anistia convoca o governo brasileiro a honrar sua promessa de criar um ambiente seguro para os Jogos Olímpicos. Apesar da promessa, diz a organização, as mortes causadas pela polícia aumentaram nos últimos anos no Brasil.

A versão em português do livro "2016, Rio de Janeiro e os Jogos Olímpicos − uma cidade reinventada", será lançada em junho no Brasil pela editora Prisma.

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