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Brasil/crise

Brasil vive teste democrático, diz cientista político

A imprensa francesa acompanha de perto a crise no Brasil. Neste domingo (17), o jornal Le Monde publica um artigo assinado pelo cientista político Frédéric Louault, vice-presidente do Observatório Político da América Latina e do Caribe, da universidade francesa Sciences Po.

Muro que separa manifestantes pró e contra governo em Brasília.
Muro que separa manifestantes pró e contra governo em Brasília. REUTERS/Paulo Whitaker
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De acordo com o cientista político, a presidente Dilma Rousseff é vítima de instituições políticas ultrapassadas que o PT, no poder desde 2003, não soube reformar. A corrupção acabou favorecendo a oposição e seu projeto de afastar a presidente, sem que houvesse a necessidade de falar em golpe de estado, estima o especialista.

Louault questiona se o Brasil estaria em um processo de degradação democrática acelerado. “Os dois lados justificam suas ações em nome da preservação da democracia”, diz o texto. “Os partidários do impeachment denunciam a corrupção e a má-gestão dos recursos públicos. Os defensores da presidente falam em legitimidade eleitoral e manutenção da ordem constitucional. A democracia está presente em todos os discursos”, escreve o cientista política.

Mas, na prática, segundo ele, governo e oposição não parecem se preocupar com a qualidade da democracia. “As manobras políticas que acontecem há vários meses escondem mal as estratégias destinadas antes de tudo a servir interesses individuais”, defende Frédéric Louault.

“O Estado de direito estaria sendo ameaçado pelas mesmas pessoas que pretendem defendê-lo?”, questiona o cientista político. Para ele, entretanto, apresentar a democracia brasileira como um “navio à deriva” é um discurso reducionista. Segundo Louault, os acontecimentos recentes revelam até mesmo sinais de maturidade democrática: respeito à liberdade de expressão, manifestações que não são reprimidas pelo poder, reforço das instituições judiciárias e redução do sentimento de impunidade.

Crise evidencia esclerose do PT

“A crise atual evidencia a esclerose do PT, no poder há 14 anos. O calvário de Dilma Rousseff é a consequência direta das escolhas políticas feitas pelo PT a médio prazo. Suas raízes estão no sistema político kafkiano instaurado nos anos 80 que nunca foi reformado, apesar do PT reconhecer suas incoerências. Os defensores do partido dizem nunca ter tido margem de manobra para colocar em prática a reforma política", escreve.

Os escândalos de corrupção, diz o especialista, evidenciam um problema muito mais amplo, que não envolve somente o PT, mas toda a classe política. E com ou sem impeachment, afirma, as elites brasileiras já provaram mais de uma vez terem uma capacidade de resistência surpreendente, até mesmo de “regeneração”. “Elas poderiam mais uma vez se adaptar à uma transformação das regras do jogo, atuando para limitar o alcance de uma eventual reforma e preservar seus interesses fundamentais.”

PMDB é "sanguessuga democrático"

Para o cientista político, o PMDB é o exemplo perfeito. “Esses ogros democráticos se beneficiam de um sistema político capenga que eles mesmos ajudaram a instaurar e que se recusam com obstinação a mudar. Desde o retorno da democracia, o PMDB participou de todos os governos. Sanguessuga democrático, esse partido controla hoje a Câmara e o Senado, e prepara uma emboscada para tomar o poder”, diz. “Ironia do destino, são esses democratas hostis à reforma política que tentam hoje derrubar Dilma, a acusando de manter esse sistema, que hoje está engolindo a esquerda governamental no Brasil”, conclui.
 

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