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Brasil/Crise

Como analistas estrangeiros veem o Brasil daqui para a frente

Depois da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo (17) pela Câmara dos Deputados e o envio do processo para o Senado, um novo capítulo político se abre no país. Da prudência à incerteza ou ao otimismo, a opinião dos especialistas diverge quanto ao futuro do Brasil.  

Manifestantes em Brasília durante votação do impeachment.
Manifestantes em Brasília durante votação do impeachment. REUTERS/Adriano Machado
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"Crise no Brasil é um caldo grosso e muito deprimente", diz professor do Canadá

"População brasileira está cética em relação à classe política", diz Philippe Faucher.
"População brasileira está cética em relação à classe política", diz Philippe Faucher. DR

Philippe Faucher, especialista em Brasil na Universidade de Montreal, no Canadá, define a crise atual como "um enorme caldo muito deprimente que levanta dúvidas e deixa a população muito cética em relação à classe política".

Lembrando que Dilma Rousseff não é diretamente incriminada e que Lula é suspeito mas não foi indiciado, Faucher não se conforma que entre os 65 nomes que votaram a favor da destituição de Dilma, mais de 30 estão sendo investigados em escândalos de corrupção.

Ele cita como exemplo o próprio Michel Temer, presidente interino em caso de afastamento de Dilma por 180 dias: "É um fato preocupante, ele se apresenta como alternativa para dirigir um governo de união nacional, mas tem 3% de aprovação popular. Ora, substituir uma presidente com 8% de apoio por um novo com 3%... podemos perguntar quem é o melhor!", observa o analista.

"O Brasil sempre se sai bem", constata geógrafo francês que vive em São Paulo

Hervé Théry, pesquisador emérito do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França ) e professor convidado da USP, reconhece que o período de incerteza política vai durar bastante, ainda mais com as denúncias de corrupção contra Temer, mas analisa com otimismo o futuro do Brasil: "Eu costumo citar a frase dos anos 30 dita por meu orientador de tese que dizia que o Brasil cresce de noite enquanto os políticos dormem. Ou seja, esta situação não é de hoje, tem a 'espuma' do microcosmo político em Brasília e, enquanto isso, os produtores produzem, as pessoas vão e vêm e o Brasil continua; eu costumo ser muito mais otimista sobre o Brasil do que os próprios brasileiros considerando a economia real, que realmente funciona. Não é por acaso que chamei o meu último livro "O Brasil Emergido", não é mais emergente, já emergiu porque tem fatos concretos de recursos humanos, instituições sólidas", diz o professor.

Hervé Théry: "Cultura de debate democrático e passeata de rua ainda é nova no Brasil".
Hervé Théry: "Cultura de debate democrático e passeata de rua ainda é nova no Brasil". DR

Apesar desses problemas todos, ele observa que as instituições vão funcionando. "Comparado com a maior parte dos países do mundo, o Brasil irá bem, a médio prazo, daqui a uns anos. Tem que passar um período ruim, daqui a semanas ou meses não sei dizer o que vai acontecer, mas a população toma isso com certa tranquilidade, tem manifestações normais, eu diria que não é para ficar desesperado. Normalmente os brasileiros são otimistas. No momento, todo mundo com quem falo está ou na 'fossa" ou na perplexidade, mas tem que manter a calma e um certo recuo, com um pouco de tempo o Brasil sempre se sai bem", diz Théry.

Comentando as passeatas e o muro de ferro que separou os manifestantes no domingo (17), diante do Planalto, Hervé Théry lembra que na França, Inglaterra e Alemanha os enfrentamentos sempre foram violentos, pois na maior parte dos países desenvolvidos tem uma bipolarização, sem no entanto se chegar à violência física. "O que é novo é que desde junho de 2013 os brasileiros começaram a ir para as ruas e a protestar forte. Isso foi uma novidade, descobrindo-se o debate público, o debate de rua. Essa cultura do debate democrático e da passeata ainda tem que ser mais enquadrada, organizada. Se houvesse mortos e feridos nas ruas eu me preocuparia mas, por enquanto, tudo é democrático, com arranjos a serem feitos", reflete o analista.

Para analista francês, polarização no Brasil vai continuar 

Para o cientista político Gaspard Estrada, diretor do Observatório Político da América Latina e Caribe, o voto de

Para Gaspard Estrada, mercados já estão apostando no impeachment.
Para Gaspard Estrada, mercados já estão apostando no impeachment. DR

domingo não vai terminar com a disputa política em curso no Brasil.

"Com o envio do processo do impeachment para o Senado, o ex-presidente Lula da Silva deve liberar uma oposição ao futuro governo Temer, cobrando esse novo governo. Por outro lado, o próprio governo Temer vai tentar dar sinais de que vai trazer mudanças substanciais na política e sobretudo na economia, porque hoje em dia o principal problema para os brasileiros é a economia, o desemprego que está crescendo, a inflação, a queda do crescimento econômico. Se não houver uma reação rápida, que a meu ver não acontecerá porque os fundamentos da crise são estruturais, isso pode trazer um déficit de credibilidade a esse novo governo", afirma o especialista.

Para Estrada, os mercados já apostam que o impeachment acontecerá. "O fato é que os ganhos do mercado já estão sendo feitos agora. Caso o vice-presidente Temer assuma, o mercado vai pedir mais e vai pedir reformas no Congresso. Agora, toda a questão vai ser se Temer vai ter a força política para impor essas reformas no Congresso, onde continuarão as investigações da Operação Lava Jato, que também podem levar a novas apreensões causando prejuízo não só no PT como na base aliada do governo que inclui deputados e senadores de partidos como o PMDB, PP, que agora estão apoiando o impeachment da presidenta Dilma", constata.

Dilma: "Vou resistir até o último minuto"

Enquanto isso, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff se apronta para 180 dias de resistência caso o Senado confirme a abertura do impeachment. "Vou resistir até o último minuto", declarou.

 

 

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