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O Mundo Agora

Falta coragem política na Europa para combater o terrorismo

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Os atentados de Bruxelas mostraram mais uma vez as dificuldades para enfrentar o terrorismo jihadista. É sempre fácil, depois da tragédia, acusar os serviços de inteligência e as autoridades políticas de serem incompetentes. Só que os acusadores esquecem que antes de cada atentado haviam centenas, senão milhares, de indícios cuja grande maioria não tinha nada a ver com o caso.

Policiamento é reforçado em Bruxelas depois dos ataques
Policiamento é reforçado em Bruxelas depois dos ataques (Foto: Reuters)
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Saber quais são os bons ou falsos indícios e hierarquizar as possíveis ameaças é sempre o principal problema dos analistas dos serviços de segurança. E com o extremismo islamista a questão é ainda mais complexa, tratando-se de pessoas ou células terroristas compostas de jovens nacionais, muitas vezes membros da mesma família e grupo de amigos, sem nenhum passado religioso. Alguns, jovens delinqüentes, só pensavam em dinheiro fácil, outros, até de cultura cristã, se convertem de repente ao radicalismo islamista.

Na Europa, não há portanto serviços onisciente capazes de mapear todas as redes de terror implantadas clandestinamente nos subúrbios pobres das grandes cidades, muitas vezes verdadeiros guetos de populações muçulmanas discriminadas e com falta de qualquer perspectiva de sair do buraco.

Os políticos mais responsáveis e os próprios serviços de segurança, falam cada vez mais de prevenção e de políticas sociais e culturais para empoderar a grande maioria dos membros das comunidades muçulmanas que têm horror ao terrorismo e que vive angustiada de ver filhos ingressarem nas fileiras do grupo Estado Islâmico na Síria ou explodir com um colete de dinamite no meio da cidade onde moram.

Prevenção é trabalho de muitos anos

O problema é que prevenção leva anos antes de funcionar e alguma coisa tem que ser feita já para proteger os cidadãos. E não há dúvida de que os dirigentes europeus estão que nem barata tonta. Eles sabem o que tem que ser feito, mas falta coragem política. Para todos os especialistas que entendem de terrorismo e inteligência, é evidente que não haverá resposta eficaz enquanto a Europa não construir uma união européia da segurança.

Hoje já existem organismos como a Europol e a Eurojust contra a criminalidade transnacional ou a Frontex para controlar as fronteiras externas da União. Mas são instituições cuja missão é tentar coordenar ações específicas dos distintos serviços de segurança de cada país membro. A Europa não é um estado federal. Nenhum de seus governos quer ceder soberania em matéria de segurança ou entregar o controle de suas fronteiras a um órgão europeu.

Soberania europeia pode ser empecilho para criação de serviço de inteligência

Como é de praxe no mundo da inteligência, nenhum serviço gosta de compartilhar informações com colegas estrangeiros e nem mesmo com outros serviços nacionais. Muitos “furos” recentes na luta contra o terrorismo vêm dessa incrível falta de coordenação e de base de dados comuns alimentadas por todos e acessíveis a todos. E também da incapacidade de intervenção militar contra o núcleo duro do grupo Estado Islâmico na Síria.

A questão central continua sendo a soberania. A Europa já construiu muitas políticas comuns: nos âmbitos do comércio, ou das regulamentações sociais, econômicas e ambientais. Mas agora estamos chegando no osso: a política fiscal e as políticas de segurança. A Europa ainda é riquíssima e possui meios extremamente sofisticados.

Países europeus devem ser capazes de criar serviço de inteligência comum

Se os países europeus fossem capazes de criar um serviço de inteligência e forças armadas comuns, o Velho Continente seria realmente senão a primeira no mínimo a segunda potência mundial depois dos Estados Unidos. A França, a Grã-Bretanha e a Alemanha, possuem importantes capacidades nesses domínios, mas cada uma no seu canto não basta para combater a ameaça transnacional do jihadismo. Abandonar esses últimos símbolos da soberania nacional não é fácil para as elites de cada país, sobretudo nesse momento em que os movimentos chauvinistas e xenófobos andam de vento em popa. Mas ou bem a Europa se junta para combater seriamente o terrorismo islamista em todas as suas dimensões, ou então vai acabar perdendo muito mais do que a soberania de cada um dos seus Estados membros.

Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica semanal às segundas-feiras para a RFI

 

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