Zika provoca onda de boatos e histeria no Brasil, escreve Le Monde
O jornal Le Monde volta a publicar uma grande matéria sobre a epidemia do vírus zika que atinge a América Latina, e principalmente o Brasil. O artigo, disponível no site do diário na noite de segunda-feira (15), diz que as incertezas sobre as consequências da contaminação deixaram o caminho aberto para rumores, suspeitas e medo. Desde a descoberta do vírus no Brasil, na primavera de 2015, e a suposta relação do zika com a multiplicação de casos de microcefalia no país, uma parte da comunidade científica questiona os resultados apontados até agora.
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A correspondente do Le Monde em São Paulo, Claire Gatinois, aproveita a última polêmica envolvendo a responsabilidade do larvicida Pyriproxyfen na má-formação cerebral detectada em bebês para dizer que as teorias alternativas são também encorajadas pela desconfiança em relação às estatísticas brasileiras, ainda aproximativas, sobre os casos de microcefalia. O jornal diz que a hipótese do larvicida foi levantada pelo mesmo pediatra argentino, Ávila Vázquez, que já havia apontado um lote defeituoso de vacinas contra a rubéola, distribuído no nordeste do Brasil, como eventual culpado pela epidemia.
"Terrorismo puro", diz Artur Timerman, diretor da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, citado pelo artigo. Ele denuncia uma "espécie de histeria sobre essa nova doença, cujas causas ainda são desconhecidas." "Besteiras", completa o professor e biólogo da USP, Paolo Zanotto. Os dois pesquisadores estão irritados com esses boatos baseados em hipóteses infundadas.
Casos de microcefalia em regiões onde o larvicida não foi usado
Vários casos de microcefalia foram detectados em regiões do país onde o larvicida incriminado no relatório coordenado pelo pediatra argentino, especializado em neonatalogia, não foi utilizado. O artigo cita principalmente o caso de Recife, capital do estado que registra a maior incidência da doença.
O Brasil continua privilegiando a hipótese de que a infecção viral intrauterina seja a responsável pela má-formação dos cérebros dos recém-nascidos. O ministério da Saúde brasileiro tenta encerrar o debate ao afirmar que "não existe nenhum estudo epidemiológico que demonstre a associação entre o Pyriproxyfen e a microcefalia. O ministério da Saúde usa unicamente larvicidas recomendados pela OMS."
De qualquer maneira, muitas dúvidas existem, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) deve dar em breve uma primeira resposta clara provando, ou não, a ligação entre o vírus e a microcefalia que se tornou um grave problema de saúde pública no Brasil.
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