Cunha nega manobra política ao adiar reunião da comissão do impeachment
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O plenário da Câmara dos Deputados se reunirá nesta terça-feira (8) para eleger 65 integrantes da Comissão Especial que vai analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A lista com os nomes deveria ter saído na segunda-feira à noite. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o apoio da oposição, adiou a decisão para hoje.
Luciana Marques, correspondente da RFI em Brasília
A eleição dos integrantes da Comissão Especial é realizada no mesmo dia em que o Conselho de Ética reúne para tratar do processo de cassação do próprio Eduardo Cunha. O problema é que, em Brasília, nenhuma comissão pode funcionar ao mesmo tempo que a ordem do dia do plenário da Câmara. Cunha nega que a decisão tenha sido uma manobra política e alega que os horários dos dois eventos serão distintos, possibilitando o trabalho dos dois grupos.
Um dos motivos do adiamento seria a divisão dentro do PMDB. Alguns parlamentares do partido não gostaram nem um pouco da lista de deputados da legenda para compor a Comissão indicada pelo líder Leonardo Picciani, do Rio de Janeiro. E querem apresentar uma lista paralela. Lembrando que Picciani é contra o impeachment.
Temer voltou às pressas à Brasília
Quem teve que voltar às pressas para Brasília para resolver o impasse foi o vice-presidente Michel Temer, que chegou a cancelar sua agenda em São Paulo. Ele marcou encontro ontem à noite com integrantes do PMDB no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.
O braço direito de Temer, que acabou de pedir demissão da secretaria de aviação civil, o ex-ministro Eliseu Padilha participou do encontro. Outros parlamentares com influência no congresso, como o senador Romero Jucá, foram convocados, mas não compareceram.
Relação entre Temer e Dilma
Dilma vem cobrando publicamente uma postura mais incisiva do vice em seu favor. Mas Temer continua apelando para a discrição: escreveu apenas uma carta para a presidente sobre o momento político atual. E com conteúdo nada positivo para o governo.
Por meio de uma rede social, Temer afirmou que a carta era pessoal, mas diante do vazamento, revelou seu conteúdo. No documento encaminhado a Dilma, ele apontou fatos de desconfiança que o governo teve em relação a ele e ao PMDB nos últimos cinco anos, mas não propôs o rompimento entre partidos ou com o governo. Em um discurso muito político, o vice falou em reunificação do país.
Carta pode mudar o tabuleiro do jogo no processo do impeachment
O vice Michel Temer acabou declarando em alto e bom som que não vai colocar sua mão no fogo por Dilma Rousseff. E tem se encontrado com empresários para mostrar sua posição diante da crise econômica: uma verdadeira agenda de eventual sucessor na cadeira presidencial, caso Dilma deixe o cargo.
Temer também deu um sinal para o partido sobre as indicações na Comissão Especial. Para ele, Dilma não pode cobrar confiança do PMDB agora que está com a faca no pescoço se nunca confiou no partido.
Enquanto isso, a presidente quer um desfecho sobre o impeachment o mais rápido possível, para evitar que a população ganhe as ruas. Até porque em período de festas de fim de ano e férias em janeiro, a mobilização poderia fracassar. O recesso parlamentar vai de 23 de dezembro a 2 de fevereiro. No fim das contas, o PMDB, que tem maioria tanto no Senado quanto na Câmara, vai ter um peso considerável para decidir sobre o cancelamento do recesso – e também se mantém ou não no poder a presidente que ajudou a eleger.
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