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Com ou sem impeachment, situação do Brasil não é nada boa

O início do procedimento de impeachment lançado contra a presidente brasileira Dilma Rousseff na quarta-feira (2) repercutiu no mundo todo. Independentemente do resultado político, já se questiona sobre as consequências econômicas do episódio diante dos investidores estrangeiros. Mesmo se alguns empresários apostam na saída da chefe de Estado para melhorar seus negócios, economistas ouvidos pela RFI são bem mais pessimistas.

Possível queda de Dilma Rousseff "não vai mudar o país da noite para o dia", comenta especialista.
Possível queda de Dilma Rousseff "não vai mudar o país da noite para o dia", comenta especialista. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Após meses de impasse político no Brasil, o possível processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff coloca o país diante de um contexto que pode ter impacto nas relações econômicas externas. A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, eleva ainda mais a incerteza do ambiente político, “com reflexos na continuidade do programa de ajuste fiscal”, como ressalta Shelly Shetty, analista-chefe de riscos soberanos para América Latina da Fitch Ratings. “Continuaremos acompanhando a evolução dos fatos e avaliando como os recentes acontecimentos vão ter impacto sobre a ação política, a trajetória fiscal do Brasil, o desempenho econômico e qualidade de crédito soberano”, informou.

Já para o economista Alex Agostini, da agência de classificação de riscos Austin, uma das primeiras a rebaixar a nota do Brasil, no mês de julho, a situação é bem mais preocupante. “As medidas que são necessárias hoje para o Brasil desatar esse entrave econômico são as reformas fiscais que têm que passar pelo parlamento. E se a Dilma sair, quem assume é Michel Temer, da base aliada, que está em conflito com o governo”, o que bloquearia o processo de ajuste, explica.

Reforma fiscal não é o único problema

No entanto, para o economista e professor da Universidade da Picardie, na França, Jaime Marques Pereira, a esperada reforma não é o único problema atual do Brasil. “Estamos diante de uma falta de confiança no futuro e isso não é apenas uma questão fiscal e sim uma questão de transição para um modelo de desenvolvimento que permita conciliar a competitividade e o crescimento do mercado interno, algo mais estrutural, que não foi conseguido nos anos 2000”.

Mas segundo ele, a crise política também impede que se tenha um debate econômico mais claro. “A perspectiva de futuro no Brasil não é brilhante, pois o país não pode crescer depois da desindustrialização. Se cresce, tem mais demanda de importação e tem mais déficit. E isso que gera mais dívida para pagar esse déficit externo”, criando um efeito de espiral de estagnação, explica o economista.

Alguns empresários estão otimistas

Mas será que o possível processo de impeachment poderia destravar o impasse no país? Essa é a opinião de alguns empresários, que veem na expectativa de destituição um eventual desfecho para a fase de turbulência econômica. “Foi um período de instabilidade muito difícil para nós, pois estávamos sem data. Agora ficou mais claro. Sem perspectivas era muito difícil convencer os estrangeiros a voltar a investir no Brasil”, comenta Abdallah Hitti, que administra o banco Hipay na Bélgica, onde opera a cooperação financeira entre França, Bélgica e Brasil. “Na minha área, de internet e inovação, nenhum projeto novo entrou no Brasil entre julho e dezembro de 2015”, alerta.

Hitti, que dirigiu a Associação Comercial Brasileira na França, aposta no eventual impeachment. “A saída da presidente vai acelerar o processo de transição democrática. E lembro que a destituição do ex-presidente Collor durou apenas 28 dias, então esperamos, com otimismo, que essa operação seja concluída em pouco tempo”, argumenta. “Como empresários, chegamos ao limite da nossa paciência e agora está na hora de mudar esse país e criar novas perspectivas.”

Mas o economista da Austin contesta essa visão positiva. “Não vai mudar o país da noite para o dia porque saiu a presidente. O processo não é tão simples assim. A situação vai piorar muito, antes de melhorar. Há dúvidas muitos piores no futuro do que as certezas que temos no presente. A ruptura, nesse momento delicado, vai sem dúvidas deixar uma fissura profunda na economia do país”, alerta Agostini.

 

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