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Brasil precisa tratar do preconceito contra portadores de HIV, diz ativista

O Brasil é citado como referência pela ONU no controle da propagação Aids. O país foi o primeiro a oferecer uma combinação de medicamentos para o vírus HIV e também é pioneiro na oferta do tratamento universal e gratuito. Além disso, já executa várias das medidas propostas pelas Nações Unidas para acabar com a epidemia da doença até 2030. No entanto, neste 27° Dia Mundial de Combate à Aids, a presidente de uma Ong brasileira ressalta que o combate ao preconceito contra os soropositivos é um dos principais desafios do país na luta contra a doença.

Desde 1988, o Dia Mundial de Combate à Aids é celebrado no dia 1° de dezembro.
Desde 1988, o Dia Mundial de Combate à Aids é celebrado no dia 1° de dezembro. REUTERS/Bobby Yip
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"De modo geral, as pessoas são mais compreensivas, mas continuam agindo de forma discriminatória", avalia Áurea Abade, presidente do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (Gapa). "Aceita-se o portador de HIV quando ele faz parte da família, mas fora do ambiente familiar ainda há muito preconceito", reitera.

Para ela, o maior problema é a falta de informação da população sobre a doença. "As pessoas dizem que sabem como a Aids é transmitida, que são solidários e não são preconceituosos, mas, na prática, as reações diante de um soropositivo são outras. No mercado do trabalho, por exemplo, muita gente acredita que um colega portador do vírus HIV estará constantemente doente e que ele será oneroso para a empresa", diz.

Outro grande desafio que Áurea aponta é a necessidade de uma política de prevenção contínua. "Precisamos de campanhas frequentes para educar a população constantemente, não apenas em determinados períodos", adverte. A ativista lembra que o importante trabalho realizado no início dos anos 2000 foi responsável pela queda gradual das contaminações até 2007. Mas, com a diminuição das campanhas, o número de infecções voltou a aumentar no final da década.

Brasil à beira de uma nova epidemia

Alguns especialistas apontam que o Brasil estaria na beira de uma nova epidemia que teria os jovens como principais vítimas. Com a intensa prevenção desde os anos 90, quando a doença começou a se propagar gravemente no Brasil, os indivíduos que eram sexualmente ativos foram alvo do trabalho de conscientização e dos tratamentos. Mas, com a diminuição da mortalidade da Aids, jovens nascidos a partir dos anos 90 passaram a subestimar o vírus. 

Recentemente, o Unicef alertou que o país precisa focalizar o trabalho de prevenção, diagnóstico, atendimento e tratamento aos adolescentes de 15 a 19 anos. De acordo com a organização, entre 2004 e 2013 a incidência da doença nesta faixa etária aumentou 53%.

"De fato, há um número crescente de contaminações de jovens de 15 a 19 anos. Por isso, desde o ano passado, o Ministério da Saúde voltou a intensificar o trabalho sobre esse problema", ressalta a presidente do Gapa.

Para Áurea Abade, o advento de medicamentos eficazes também contribuiu para a mudança de comportamento da população em relação à Aids. "As pessoas passaram a acreditar que os remédios curavam a doença de forma definitiva, que, ao se medicar, tudo estaria resolvido", diz. Por isso, a ativista ressalta que Ongs e associações reforçam os trabalhos de informação e prevenção em locais onde há maior concentração de soropositivos potenciais.

Maiores avanços do Brasil contra a Aids

A presidente da Gapa aponta vários avanços do país no combate à doença, como a gratuidade do tratamento e exames, distribuídos em postos de saúde. Segundo ela, testes para diagnósticos também estarão em breve à disposição dos usuários nas farmácias. Além disso, Áurea destaca a vigilância dos direitos dos soropositivos, um trabalho também intensificado com o apoio de Ongs e associações.

De acordo com dados do Ministério da Saúde do Brasil, nos quatro primeiros meses de 2015 2,1 milhões de testes para detectar o HIV foram realizados no país, sempre gratuitamente. Em apenas um ano, de 2013 a 2014, houve aumento de 30% dos tratamentos de antiretrovirais: o número de pacientes que têm acesso aos medicamentos passou de 57 mil a 74 mil. O Sistema Único de Saúde (SUS) distribui esses remédios para um total de 404 mil pessoas atualmente.

Outra boa notícia para o país na luta contra a propagação da Aids é a queda pela metade de contaminação de crianças com menos de 5 anos pelas mães no período de 1995 a 2013. Segundo o Unicef, em 2013, foram detectados apenas 374 casos de transmissão vertical da doença contra o dobro na década passada.

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