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Blogueiro Africano no Brasil

Os cinco pecados capitais do Brasil, segundo Serge Katembera

Serge Katembera é um jornalista do Congo que estuda na Universidade Federal da Paraíba. Desde 2013, ele revela suas impressões como um estrangeiro vivendo no Brasil para o projeto da RFI Mondo Blog, que reúne blogueiros do mundo todo escrevendo em francês. Alguns de seus artigos estão sendo publicados em português, aqui no site da RFI Brasil. (Leia os posts anteriores).

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1. A economia rentista

O Brasil navegou um bom tempo pelas ondas de seus recursos minerais, do petróleo e de sua diversidade biológica. Esse modelo apresenta, infelizmente, limitações que vão, cedo ou tarde, explodir. Primeiro, a recuperação dos Estados Unidos, que atraiu os investidores e deixou o Brasil sem a vantagem concorrencial que durou, mais ou menos, quatro anos (2008/2012).

Além disso, quando você tem uma elite corrompida, de políticos até as famílias mais ricas do agronegócio – não necessariamente preocupadas em reequilibrar a distribuição de renda, como observa o cientista político André Singer –, a tarefa se torna ainda mais difícil.

O "lulismo" não se mostrou capaz, até aqui, de ir além da utilização de brechas existentes na arquitetura neoliberal. Com condições globais favoráveis, ele utilizou, de forma justa, espaços sem conflitos para melhorar a vida dos pobres. No entanto, o passo para se tornar um país de classe média dependerá de um outro quadro, com uma outra correlação de forças. (Confira aqui uma análise comparativa da política agrícola do Brasil e da França).

2. O voto obrigatório

O voto obrigatório em um país como o Brasil não tem nenhum sentido. É a maneira mais simples de aumentar a corrupção, a impunidade e o sentimento de que “os políticos são todos iguais”. Na minha opinião, esta ideia é o primeiro passo para que um país se dê o direito a todas as excentricidades.

3. A mídia pouco plural

Se o voto obrigatório não tem nenhum sentido, é também porque o Brasil não tem um sistema midiático democrático e plural. A liberdade de imprensa é no mínimo tão essencial quanto a democracia ela mesma.

Gosto bastante desta análise de Serge July, para quem “a democracia depende do número elevado de jornais e outras mídias”. Uma análise baseada em Tocqueville. É esta pluralidade que garante um verdadeiro debate em uma sociedade. Mas, sobretudo, sem essa liberdade de imprensa e a diversidade que a acompanha, a população não tem as balisas necessárias para exercer livremente o seu deve de votar.

4. Educação atrasada

O slogan de campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 teve um gosto amargo para todos que perceberam o seu cinismo: “Brasil, pátria educadora”. Sério? Se é isso mesmo, como explicar que, em um momento de consenso sobre a necessidade de austeridade, seja sobre o orçamento da educação que o governo decida cortar 37% de investimento?

5. Partidos políticos sem liderança

Não há apenas um vazio político desde a partida de Lula – ora, mesmo nas melhores democracias, as pessoas querem um messias –, mas há principalmente a incapacidade de todos os partidos políticos de renovar seus quadros.

Até aqui, a fórmula é a do “fazer o novo usando os antigos” ou “os novos antigos”. Eu explico. A candidata da esquerda radical na última eleição presidencial foi Luciana Genro, filha de Tarso Genro, ex-ministro e governador do Rio Grande do Sul, peso pesado do Partido dos Trabalhadores. A campanha foi um pouco “Divina Comédia”. Dilma Rousseff se opondo à filha de seu amigo... não parece tudo a mesma coisa?

>> Leia todos os posts de Serge Katembera em português.

>> Acesse o blog de Serge Katembera em francês.

>> Siga o blogueiro no Twitter: @sk_serge

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