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Interesses na Rússia e Ucrânia dificultam posição do Brasil na crise

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Não faltam motivos para a diplomacia brasileira se manter em cima do muro na questão que opõe Rússia e Ucrânia. Uma combinação de uma nova política exterior mais tímida aliada a interesses econômicos com ambos os lados da contenda explicam a posição de cautela adotada pelo país em um momento em que a Europa brande sanções econômicas.

Encontro dos ministros Luiz Alberto Figueiredo e Laurent Fabius na quarta-feira (19)  em Paris.
Encontro dos ministros Luiz Alberto Figueiredo e Laurent Fabius na quarta-feira (19) em Paris. Bruno Chapiron/Ministère des Affaires étrangères
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O contraste entre os discursos dos chanceleres brasileiro e francês, que se pronunciaram lado a lado em Paris na manhã de quarta-feira, evidenciou o abismo entre as duas posições. Enquanto a França classificou a atuação russa de inaceitável, o ministro brasileiro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo fez questão de assegurar que o diálogo com a Rússia não está abalado, confirmando inclusive o encontro entre os dois países no próximo mês de julho: "Da nossa parte, nós não vamos confundir as coisas. Manteremos certamente o encontro dos BRICS após a Copa do Mundo e não temos por que fazer o contrário. A situação na Ucrânia é uma situação muito volátil. Seguimos a situação com muita atenção e, para nós, o importante é resolvê-la. E para resolvê-la, é preciso negociar e conversar".

A cautela adotada pelo Brasil se explica pela intensa cooperação com a Ucrânia no setor espacial que já dura mais de 10 anos. A crise poderia comprometer uma parceria estimada em US$ 1 bilhão, o valor do programa de desenvolvimento de foguetes dos dois países, que pretendia colocar em órbita satélites enviados a partir do Maranhão já em 2015.

Com a Rússia, o buraco é ainda mais embaixo. Não bastasse o poderio econômico do país de dimensões continentais, entrar em atrito com um dos BRICS não seria a melhor opção neste momento, como nos explica o professor de relações internacionais André Luiz Reis da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: ”É uma questão muito mais delicada para o Brasil porque a Rússia é um parceiro importante no contexto dos BRICS. A Ucrânia apoia o Brasil no Conselho de Segurança, assim como a Rússia. Do ponto de vista político, seria uma decisão difícil de tomar. No problema colocado na Crimeia, é quase uma situação de empate e o Brasil fica em uma posição delicada”.

Histórico conturbado

A boa relação entre Brasil e Rússia verificada nas últimas duas décadas foi precedida, no entanto, por uma diplomacia historicamente conturbada. A então Rússia czarista se recusou a reconhecer, por exemplo, a proclamação da república brasileira no final do século 19. Por sua vez, o Brasil só reconheceria a União Soviética ao final da Segunda Guerra Mundial, e ainda assim por um breve período. A retomada da diplomacia entre os dois países só se daria de forma definitiva no fim dos anos 60 e, curiosamente, jamais seria rompida pelo Regime Militar.

De volta aos anos 2010, a posição do Brasil na contenda da Crimeia reflete não apenas proteção dos interesses econômicos, mas também demonstra uma nova tendência de uma diplomacia mais tímida sob o governo Dilma Rousseff – para o bem e para o mal. Foi essa mesma política que fez o Brasil, por exemplo, se abster nas resoluções votadas contra a Síria em 2011.

O professor Reis da Silva nos explica por onde caminha a diplomacia brasileira: “Nos últimos anos, principalmente no governo Dilma, houve a ideia de o Brasil ter uma atuação mais discreta que nos anos Lula. Tivemos esse problema no fim dos anos 90, o Brasil deixou vários espaços abertos que poderiam ter sido ocupados, até por causa das dificuldades econômicas. Depois no governo Lula temos uma intensa agenda diplomática; entrando em áreas que tinham sido abandonadas, como Oriente Médio. A partir de 2008, com a crise econômica e a Primavera Árabe, o Brasil fica mais voltado para questões internas, o que tem a ver até com a personalidade da presidente”.

Equanto isso, na Europa, os líderes do bloco se reunirão hoje (20) e amanhã (21) em Bruxelas para discussões que podem resultar em ainda mais sanções ao governo russo.

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