Escândalo do mensalão é destaque do jornal Le Monde

O escândalo do mensalão é tratado em página inteira no jornal Le Monde de terça-feira. Um artigo, com a manchete “Em Brasília, a corrupção política em julgamento”, explica o processo. O Monde traz ainda uma entrevista exclusiva com o juiz Joaquim Barbosa, relator do processo e ministro do Supremo Tribunal Federal.

Jornal Le Monde traz página inteira sobre o escândalo do mensalão. DR

A foto de ilustração traz uma montagem dos principais acusados, vestidos de presidiários, em uma prisão diante do Palácio da Alvorada. Em primeiro plano, José Dirceu. A matéria traz um panorama do caso, com datas, nomes e acusações.

Na entrevista para o jornal francês, o ministro-relator Joaquim Barbosa, diz que o processo “vai marcar a ruptura de um modelo de corrupção no Brasil”. O Monde retrata Barbosa, 58 anos, com doutorado em Paris, como um jurista reconhecido pela sua independência.

Barbosa explica que a tradição que prevalece no Brasil é a de que um rico nunca comparece a um tribunal. E é nesse sentido que o processo do mensalão vai levar a uma conscientização, marcando a ruptura de um modelo enraizado de corrupção.

O juiz, que em breve assumirá o posto de presidente do Supremo Tribunal Federal, justifica a lentidão do processo devido aos trâmites de reexaminar os documentos e pegar o depoimento de 660 testemunhas. “Levei um ano e oito meses para juntar todos os elementos”, conta Barbosa.

O ministro também explica ao jornal francês que, apesar da sombra sobre o ex-presidente Lula, nenhuma informação ou dado liga o ex-presidente ao escândalo, nada justifica que sua convocação, nem mesmo como testemunha. Barbosa adianta que nenhum dos acusados deverá cumprir pena de cadeia, no máximo uma pena alternativa, como a de um trabalho de interesse geral, pois a lei brasileira assim determina.

Questionado por que, diante de tanta corrupção, nenhum grande partido propõe uma reforma eleitoral ou modificação das regras de financiamento dos partidos, Barbosa diz que esse é exatamente um assunto que ele pretende discutir com a presidente Dilma Rousseff quando ele assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal.