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Brasil/Presidência

Personalidades femininas comentam desafios de Dilma Rousseff

Primeiro de Janeiro de 2011, dia histórico para o Brasil com a posse da primeira presidente mulher, Dilma Rousseff. Pelo mundo afora, outras mulheres de destaque estão atentas ao destino da dirigente. Entre elas, a socialista francesa Ségolène Royal, a advogada e juíza iraniana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz de 2003, e a socióloga brasileira e pesquisadora em Paris, Helena Hirata, especialista em gênero, trabalho e mobilidade.  

© REUTERS
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Ségolène Royal, socialista francesa.
Ségolène Royal, socialista francesa. Reuters / Regis Duvignau

Ségolène Royal foi a única mulher a concorrer ao segundo turno de uma eleição presidencial na França, no ano de 2007, contra o atual chefe de Estado, Nicolas Sarkozy. Atual presidente do Conselho Regional de Poitou-Charentes, região do centro-oeste da França, ela foi ministra do Meio Ambiente e vice-ministra das pastas da Educação, e da Família e da Infância; ela é conhecida por defender sua posição de mulher livre e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e também ganhou grande popularidade ao obter, em 1970, a inclusão da mãe na lei do Direito francês sobre a autoridade parental. Até então, a autoridade sobre a educação das crianças era exclusivamente do pai.

O desafio da educação

Com mais de trinta anos de carreira política, Ségolène tem grande admiração por Dilma, com quem esteve no Fórum Social de Belém, em 2009. Ela tem muito a dizer à nova presidente do Brasil: "Em primeiro lugar, eu agradeço a ela em nome de todas as mulheres que atuam na política, porque ainda há muito, muito machismo nesse meio, ainda é muito difícil para as mulheres conseguirem chegar ao poder, aos cargos de alta responsabilidade. Eu espero que sua vitória ajude outras mulheres a se engajarem e sairem vitoriosas a este nível. Em seguida, eu gostaria de desejar ao Brasil que seja bem sucedido no seu grande projeto, que é o projeto educativo, acho que há um trabalho considerável, um trabalho imenso nesse país muito jovem. Quando estive no Fórum de Belém, no ano passado, fiquei impressionada com a juventude do povo brasileiro, eu desejo de todo coração que ela vença este desafio extraordinário que é o de educar a juventude brasileira", diz Ségolène.

Quanto ao fato de Dilma suceder ao presidente mais popular que o Brasil já teve, a socialista francesa acha que a nova líder tem que se impor e dá um conselho: "É preciso que ela saiba, principalmente, que o tempo passa muito rápido quando temos responsabilidades; a cada dia é preciso fazer avançar sua causa, suas ideias, e é esta energia permanente que ela vai ter que empregar, mas eu sei que isso não lhe falta, pois eu estava no Brasil no lançamento de sua campanha. Eu creio também que sua equipe deve se unir ao seu redor para fazê-la avançar, pois é assim que o Brasil vai avançar também", afirma Ségolène.

Esperando que França e Brasil continuem alimentando os laços de amizade, Ségolène Royal diz que o ponto comum entre ela e Dilma Rousseff é a coragem.  "Ela é uma mulher extremamente corajosa, que superou muitas dificuldades; também me identifico com ela na vontade de agir", termina Ségolène Royal.

Nobel da Paz iraniana critica Lula e espera mais de Dilma

Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz de 2003.
Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz de 2003. Nobel Prize

Durante o governo Lula, o Brasil estreitou os laços com o Irã, intensificando o comércio e os investimentos e até mediando um acordo nuclear em maio de 2010. Mas, em uma República Islâmica com valores e práticas medievais, onde a mulher não tem nenhum direito e sofre injustiças inaceitáveis, essa relação também é alvo de críticas.

No caso da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério e assassinato do marido, e condenada à morte, o presidente Lula da Silva chegou a oferecer asilo à mulher, uma oferta definida como "ingênua" pelo presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. No entanto, o Brasil se absteve na votação da resolução da ONU que condenava o apedrejamento.

Nesse contexto, a presidente Dilma Rousseff, mais crítica, já declarou que pretende modificar a forma de votação do Brasil em resoluções ligadas às violações dos direitos humanos no Irã. A presidente considerou um erro a abstenção brasileira na resolução sobre o apedrejamento.

As relações entre Brasil e Irã são acompanhadas de perto pela advogada iraniana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz de 2003, primeira mulher a exercer as funções de juíza durante o regime do Xá Mohammed Reza Pahlavi, e destituída pelo aiatolá Khomeiny.

Shirin Ebadi ganhou o Nobel por sua ação em favor dos direitos humanos e da democracia e hoje vive exilada na Europa.

Ao contrário de Ségolène Royal, que acha para a paz progredir é preciso que os chefes de Estado dialoguem, e Lula foi um mediador, Shirin Ebadi desaprova totalmente a atitude do presidente brasileiro em relação ao Irã e tem uma mensagem sem equívocos para Dilma: dialogar, sim, mas sem nenhuma condescendência.

"Concordo que os temas ligados aos direitos humanos e à democracia sejam discutidos com o Irã. Sob esse ponto de vista, concordo que o Brasil pergunte ao governo iraniano por que razão 40 blogueiros estão presos; que indague também que tipo de tratamento recebem os prisioneiros políticos para que façam greves de fome para protestar contra sua situação; e, finalmente, porque 100 estudantes iranianos continuam presos. Espero, então, que além da questão nuclear, esses problemas também possam abordados entre os dois governos", espera a advogada.

Shirin Ebadi considera inadmissível que Lula da Silva não tenha se aproximado dos que sofrem no Irã. "O presidente Lula da Silva se apresenta como um defensor dos trabalhadores mas, durante sua visita a Teerã, ele se recusou a encontrar as famílias dos trabalhadores presos, especialmente Mansour Ossanlouh, que desafiou as autoridades criando o primeiro sindicato independente dos transportes coletivos do país e por isso está na cadeia há dois anos. Fiquei satisfeita em saber que a questão de Sakineh Ashtiani foi abordada pelos dirigentes estrangeiros e pelo presidente Lula, porém, espero que a questão dos direitos humanos não se reduza a esse caso em particular. Seria preciso que Lula tivesse perguntado porque os trabalhadores e estudantes iranianos estão detidos, porque os defensores dos direitos humanos e a ativista Nasrim Soutoudeh, cuja saúde está em estado desesperador, continuam na prisão ", observa Shirin Ebadi.

A Prêmio Nobel da Paz espera também que os defensores dos direitos humanos na sociedade civil brasileira possam chamar a atenção de sua nova presidente sobre o agravamento da situação no Irã nessa área.

Dilma vai encontrar resistência

Helena Hirata, socióloga e pesquisadora.
Helena Hirata, socióloga e pesquisadora. CNRS

Dilma Rousseff assume o cargo máximo em um mundo político majoritariamente masculino, como o do Brasil. Será que esse mundo político está preparado para apoiá-la?

"Creio que não", responde a socióloga Helena Hirata, pesquisadora do CNRS - Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França - especialista em gênero, trabalho e mobilidade. Para ela, os homens sempre têm interesses a defender, não apenas políticos, mas enquanto grupo social de homens e que certamente têm muito a perder se uma política do ponto de vista de valorização das mulheres for aplicada.

Para Helena Hirata, mesmo se Dilma foi eleita à sombra do presidente mais carismático que o Brasil já teve, ela tem competência técnica e responsabilidade política, com uma visão ampla dos problemas nacionais, para se afirmar. "Mas tudo depende do apoio que ela terá para realizar o conjunto do programa que ela se propõe a fazer", reflete a socióloga.

Nove mulheres entre 37 ministros na presidência de Dilma Rousseff, o número ainda é pequeno para um governo de paridade homem-mulher. Mas para Helena Hirata, a política de cotas de 30% é bem inferior à política de paridade institucionalizada na França, por exemplo. Ela lembra que durante o debate sobre o assunto no país, ela foi contra as cotas. "A paridade é um conceito numérico, o importante é ver quem são as mulheres eleitas. Aquelas mulheres que entraram via paridade não representam forçosamente o ponto de vista que atenda aos interesses das próprias mulheres. Claro que na história do Brasil, com tantos presidentes homens, ter uma mulher presidente é muito positivo, mas não acho, por exemplo, que a presidente Gloria Arroyos, das Filipinas, tenha feito uma política favorável às mulheres", conclui Helena Hirata.

14:58

Ouça o programa especial sobre os desafios de Dilma Rousseff

 

 

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