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Um pulo em Paris

Franceses se preparam para julgamento histórico dos atentados de 13 de novembro em Paris

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Os franceses aguardam com grande expectativa o início do julgamento dos envolvidos nos atentados terroristas de 13 de novembro de 2015 em Paris. A partir de quarta-feira, 8 de setembro, 20 acusados que tiveram participação direta ou indireta na série de ataques coordenados contra o portão D do estádio de futebol Stade de France, em Saint-Denis, cafés e restaurantes de dois bairros da capital e a sala de espetáculos Bataclan serão julgados no Palácio da Justiça de Paris.

Vista geral da sala principal onde ocorrerá o julgamento dos 20 envolvidos nos atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris.
Vista geral da sala principal onde ocorrerá o julgamento dos 20 envolvidos nos atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris. © Captura de tela
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A França se prepara para reviver momentos dolorosos e de uma violência considerada até hoje indescritível. Os atentados mais sangrentos da história do país, executados por dez terroristas, nove deles suicidas, deixaram 130 mortos e mais de 400 feridos naquela trágica noite de sexta-feira do outono de 2015. Posteriormente, mais uma vítima veio se somar à lista de mortos: um sobrevivente do Bataclan de 31 anos, que se suicidou em 2017 atormentado por pesadelos com o massacre ocorrido durante o show da banda de rock americana Eagles of Death Metal. O julgamento será uma forma de levar algum consolo aos familiares das vítimas e a toda a nação.

A maioria dos terroristas tinha vinte e poucos anos. Eles foram criados na França e na Bélgica e tinham retornado de campos de treinamento do grupo Estado Islâmico no Iraque e na Síria, que reivindicou a série de ataques. Do total de 20 acusados, 14 estarão presentes no tribunal – 11 deles estão presos e três vão responder em liberdade. Seis são considerados mortos, mas terão julgamento póstumo. 

O único membro ainda vivo da gangue de dez terroristas implicados diretamente nos ataques é o francês Salah Abdeslam, de 31 anos. Ele fazia parte do grupo que atirou contra as mesinhas de calçada de cafés e restaurantes no 10° e 11° distritos da capital. Sem nunca ter explicado a razão, ele abandonou o cinturão de explosivos depois do tiroteio e fugiu na mesma noite para a Bélgica.

Abdeslam já cumpre pena de 20 anos de prisão na Bélgica por ter atirado contra policiais e ainda deve ser julgado no ano que vem por envolvimento no atentado do aeroporto de Bruxelas, em março de 2016. Nos interrogatórios, ele sempre se mantém calado, sem explicar suas motivações.

Outro acusado que estará presente no julgamento em Paris é o belga-marroquino Mohamed Abrini, de 36 anos, que acompanhou os suicidas de carro até a capital francesa e participou do fornecimento de armas e explosivos. A maioria dos réus atuou na logística dos ataques.

Já o belga-marroquino Oussama Atar, nascido em 1984, considerado pelos juízes franceses como o mandante, o cérebro da ação terrorista, será julgado em caráter póstumo. Ele teria morrido num bombardeio da coalizão ocidental há quatro anos na região sírio-iraquiana. Atar era um jihadista veterano do núcleo de inteligência do EI. Nas mesmas condições, será julgado um indivíduo misterioso e desconhecido das autoridades francesas, chamado Obeida Aref Dibo. Ele teria morrido na Síria e seria o responsável pelo treinamento dos suicidas.   

Palácio de Justiça foi adaptado para receber 2 mil pessoas

As ruas adjacentes ao Palácio de Justiça de Paris, que fica perto da catedral de Notre Dame, ficarão fechadas para carros, com acesso exclusivo para pessoas credenciadas. Para entrar no tribunal, todos serão revistados.

A sala principal, com capacidade para 550 pessoas, foi construída e equipada especialmente para a ocasião. Mas além desta sala onde os acusados estarão num recinto de alta proteção, outras dez salas vão acolher até 2 mil pessoas – familiares das vítimas que entraram com processos na Justiça, a imprensa, assistentes dos advogados de defesa e do Ministério Público.

Os números relacionados ao processo são impressionantes: mais de 330 advogados, 141 veículos de imprensa credenciados, sendo 58 estrangeiros, 140 dias de audiências. As sessões vão acontecer semanalmente das terças às sextas-feiras e serão filmadas para ficar na história, nos arquivos nacionais, mas nenhuma imagem poderá ser vazada, sob pena de multa e condenação à prisão.

O julgamento deve durar entre oito e nove meses. Cinco juízes irão compor a banca que pronunciará as condenações. Atualmente, a previsão é de que o veredito seja divulgado no fim de maio de 2022.

O presidente dessa corte especial, o juiz Jean-Louis Périès, de 65 anos, tem quarenta anos de experiência. Ele se prepara para essa maratona, considerada como uma prova emocional por colegas da magistratura, há um ano e meio, tempo em que analisou os 542 tomos de documentos anexados ao processo. Ele será assessorado por duas presidentes mulheres, as juízas Frédérique Aline e Xavière Siméoni, esta última conhecida por ter enviado o ex-presidente Jacques Chirac a julgamento quando atuava como juíza de instrução.

Em dezembro do ano passado, o tribunal do júri de Paris divulgou sentenças contra 14 réus julgados pelos ataques contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado judaico em janeiro de 2015. Recentemente a rede terrorista Al Qaeda, implicada nos atentados de janeiro, fez novas ameaças à França.

Por mais duro que seja recordar momentos dolorosos, os franceses fazem questão que nenhum implicado permaneça impune. O julgamento será uma ocasião para encerrar o luto e renovar a confiança na Justiça do país, assim como nos valores da sociedade francesa.

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