Deputada baiana Olívia Santana lança “Mulher Preta na Política” em Paris
Publicado em:
Ouvir - 06:54
A deputada estadual da Bahia, Olívia Santana, do PCdoB, veio a Paris participar do lançamento de seu livro “Mulher Preta na Política” (Editora Malê, 2023). O evento reuniu na Fundação Jean-Jaurès mulheres e ativistas da França interessados no “empoderamento das mulheres, articulando a luta antirracista com a luta feminista e a luta contra as desigualdades de classe social”, conta Olívia Santana.
Olivia Santana é uma ativista antirracista e feminista. Ela começou atuando no movimento estudantil, quando estudava Pedagogia da Universidade Federal da Bahia. Depois foi eleita duas vezes vereadora de Salvador pelo PCdoB e agora está em seu segundo mandato como deputada estadual, tendo sido a primeira deputada preta eleita da Assembleia da Bahia.
O lançamento em Paris de “Mulher Preta na Política" foi organizado pela associação francesa Mulheres na Resistência. O livro, ainda sem tradução para o francês, é um relato pessoal. Na obra, Olivia Santana compartilha mais de 35 anos de sua trajetória nas lutas sociais e na política e faz um convite à participação negra e feminina nos espaços de decisão. “O livro é uma proposta de inspiração, de encorajamento, porque apesar de todos os obstáculos, nós, mulheres negras e todas as mulheres, não podemos recuar”, ressalta a deputada.
A mensagem política antirracista, feminista e de empoderamento das mulheres se faz necessária “na França ou onde quer que estejamos”, acredita a deputada e escritora baiana. A pauta é global. “Este tema é uma realidade que eu vivo, que a gente vive no Brasil. Mas mesmo mulheres negras que vieram para cá (França) também enfrentam situação de discriminação racial. E nós temos que preparar também a escola, o país, os espaços de comunicação, os espaços políticos para receber essa diversidade étnico-racial”, diz.
Racismo, feminicídio e intolerância religiosa no Brasil
A participação feminina e negra, ainda incipiente, vem aumentando nos espaços de poder no Brasil. Ao mesmo tempo, principalmente nos últimos anos, “desde a derrubada da única mulher que chegou à presidência da República no Brasil”, a violência contra as mulheres e racista vem aumentado muito, com recorde de feminicídios e de intolerância religiosa.
“Foram 6 anos de desconstrução, 6 anos em que a extrema direita pregou o racismo como bandeira política, pregou o sexismo, a misoginia. Nós tínhamos um presidente misógino, o presidente Jair Bolsonaro. Tudo o que era absurdo no Brasil, passou a ser naturalizado por metade da população”, lembra Olívia Santana. Segundo ela, esse “caldo ideológico, encorajou mais ainda a intolerância, os feminicídios e a violência contra mulheres e negros”.
A deputada avalia que, apesar da volta ao poder do presidente Lula, que defende uma pauta mais progressista, “você não muda essa chave magicamente”. A grande dificuldade de mudança está no Congresso, que é “majoritariamente de liberais de direita e extrema direita”.
Questionada sobre o acordo do presidente Lula com o Centrão, que já teve como consequência a substituição por homens do bloco de duas das 11 mulheres indicadas pelo petista para seu governo, Olívia Santana ressalta que “essa é uma disputa muito pesada” e diz que “compor a democracia representativa é um ato político, não é uma benesse”. Visando a paridade de gênero e raça na política, a deputada baiana defende como principal pauta a “reserva de cadeiras” para mulheres e pessoas negras.
“As mulheres, que são maioria na sociedade brasileira, precisam se transformar em força política e eleger mais mulheres. São 513 deputados, e apenas 77 mulheres, enquanto aqui na França são 577 deputados e 223 mulheres. É uma potência! Nós precisamos fazer isso no Brasil. Nós queremos reserva de vagas de cadeiras, com o compromisso de chegarmos à paridade até 2030, pelo menos”, espera.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro