Acessar o conteúdo principal
RFI Convida

Militante travesti integra delegação que veio à Europa por apoio ao processo eleitoral brasileiro

Publicado em:

Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) encerrou em Paris um giro europeu que a levou também a Bruxelas e Genebra. Ela fez parte de uma delegação de dez ONGs brasileiras que vieram à Europa pedir apoio à comunidade internacional para o reconhecimento do resultado das urnas nas eleições de 2 e 30 de outubro no Brasil.

Ativista do movimento LGBT desde 1990, Keila Simpson Souza é travesti, e preside a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
Ativista do movimento LGBT desde 1990, Keila Simpson Souza é travesti, e preside a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). © RFI
Publicidade

Na Bélgica, a delegação brasileira foi ao Parlamento Europeu e participou da reunião do Centro Nacional de Cooperação para o Desenvolvimento (CNCD). Na Suíça, assistiu à 51ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. “O balanço é positivo. Pela primeira vez, acredito, uma travesti integra uma delegação tão importante. (...) A comunidade internacional observa muito o que está acontecendo no Brasil, que é um país importante. Eles estão acompanhando intensamente e ativamente nosso processo e a gente teve diversos apoios”, diz Keila Simpson.

Um dos principais pedidos da delegação, “que representa uma parcela significativa de organizações do Brasil”, no Parlamento Europeu e na ONU foi o apoio ao resultado do pleito, das urnas eletrônicas, seja ele qual for. “Pedimos (para essas instituições) se manifestarem imediatamente após o resultado”, aponta a militante, lembrando que o presidente Bolsonaro questiona a fiabilidade das urnas eletrônicas, ataca o atual sistema eleitoral brasileiro e polariza cada vez mais a política nacional.

Conquistas do movimento trans

Já na França, Keila Simpson, que também é secretária da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais e Intersexo (ABGJT), e diretora-executiva da Associação Nacional de Organizações não Governamentais (ABONG), foi uma das convidadas do Festival de documentário brasileiro “Brésil em Mouvements”, encerrado no último domingo (18).

Em todos os eventos, ela falou dos desafios e conquistas do movimento LGBT, do Brasil de hoje, de democracia e das perspectivas do futuro governo brasileiro que será eleito nas eleições de outubro. Keila Simpson, que é militante desde 1990, destaque entre as conquistas obtidas pelo movimento a lei, assinada no governo da presidente Dilma Rousseff em 2018, que possibilitou a mudança do nome civil nos documentos de pessoas trans. “A partir daí, a gente começou a ser respeitada como a gente se identifica. É um marco importante da nossa luta, da nossa conquista de cidadania. E isso repercute até hoje porque muitas pessoas trans, principalmente mulheres e travestis, acabaram disputando o pleito eleitoral e conseguiram se eleger deputadas e vereadoras”.

Apesar dessa conquista, ela mesma não mudou o nome civil nos documentos. Uma escolha pessoal para não perder “o processo político de me apresentar como travesti. Uma decisão unicamente minha que não é contraditória com o processo pelo qual eu luto. Pelo contrário, só afirma cada vez mais a luta e o respeito das pessoas de terem o direito individual de fazer da sua vida o que bem quiser”, defende.

Ocupar lugares de poder

A missão das ONGs das quais Keila Simpson integra a direção é “formar lideranças na base” para “adentar cada vez mais o processo” e reforçar a democracia no país. A estratégia de ocupar os lugares de poder continua valendo para a eleição atual. “Eu tenho dito sempre, é daqui para frente. Nós não vamos voltar para trás. O que a população trans quer nesse momento? Ocupar cada vez mais os espaços de poder não só legislando para a comunidade que ela representa, mas para toda a comunidade (...) para modificar a realidade da política brasileira.”

Apesar das conquistas, da ampliação dessa participação política, a violência histórica contra a população LGBT persiste e até aumentou no atual processo político brasileiro “Todas as pessoas que estão no Parlamento hoje brasileiro elas sofrem ameaças diárias. São só parlamentares do gênero feminino ou pessoas trans. A política é machista;”

Keila Simpson lembra que a violência é feita para intimidar e aterrorizar, mas o fenômeno não vai impedir esse processo de emancipação. “Todo mundo está se resguardando, mas elas não vão recuar. Essas pessoas são sementes e elas vão germinar. Não adiantou assassinar Marielle Franco. Ela germinou em tantas outras mulheres pelo Brasil”.

Vingança trans é envelhecer

A militância vai continuar, o sistema, a sociedade não vão mudar com a eleição de um candidato mais favorável à causa LGBT e Keila Simpson segue dizendo que a sua maior vingança, dela e de outras pessoas trans, é envelhecer. “Nós temos no Brasil uma expectativa de vida de 35 anos. Qualquer pessoa (trans) que completa 36 anos, 40 anos, já está se vingando do sistema que é um sistema com “C”, cisgenerizado, que trabalha muito para a binariedade de gênero, e se você não se enquadra nessa binariedade você está fora do jogo.”

Ela reivindica o direito de envelhecer em “um mundo mais igual, mais democrático, em um país que dê o direito de envelhecer com segurança e saúde”. Ela conclui dizendo que “resistimos durante 4 anos contra esse governo e vamos continuar resistindo. Não temos a ilusão de que o governo Lula, se ele vencer as eleições, vai ser um governo tranquilo. Mas estamos dispostas a dialogar com alguém que vai ouvir os nossos anseios”.

(Clique na foto para assistir a entrevista completa)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.