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"África precisa ser observada além dos estereótipos”, afirma pesquisador brasileiro

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A África é um continente que reúne grandes riquezas e desafios, mas que é também muito diverso, com culturas e sociedades diferentes. Foi pensando em fazer uma aproximação com os territórios africanos, destacando a complexidade da região, que o pós-doutorando da USP e pesquisador visitante da Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres, Kauê Lopes dos Santos, lançou o livro “Africano: uma introdução ao continente”.

O pesquisador Kauê Lopes dos Santos, autor de "Africano: uma introdução ao continente”
O pesquisador Kauê Lopes dos Santos, autor de "Africano: uma introdução ao continente” © Rodrigo Lopez
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A publicação, resultado de uma ampla pesquisa e de mais de dez anos de viagens do autor pelos países da região, é, segundo ele, uma primeira conversa sobre o continente e uma forma de entender as particularidades históricas dos territórios, observando como cada uma dessas unidades políticas decide seu próprio futuro.

“Temos no mercado editorial brasileiro muitos trabalhos sobre a história do continente africano, muitas vezes produções feitas em outros países, que foram traduzidas para o português, e não há tantos trabalhos acerca da inserção dos territórios africanos no mundo contemporâneo, no início do século XXI, dentro de uma perspectiva mais geográfica e econômica, produzida a partir do Brasil”, explica.

Kauê destaca que um dos fatores que mais chama a atenção nos estudos sobre a África é a visão generalizada do continente, representada especialmente em filmes, desenhos e noticiários, sem destacar as particularidades de cada país. Na maioria das vezes, o foco é na natureza selvagem, como cultura exótica ou como tragédia humana, por conta da pobreza e da disseminação do vírus da Aids, aponta o autor.

“Estamos acostumados a fazer uma leitura generalista da África, como se o continente inteiro fosse para o mesmo lugar. Claro que temos um processo histórico, que foi a colonização desde o final do século XIX, que impactou praticamente todos os territórios africanos, salvo exceções da Etiópia e da Libéria, que não foram colonizadas, mas isso não significa dizer que todos vão trilhar o mesmo caminho rumo ao futuro. É preciso entender que esses países possuem uma soberania e essas lideranças africanas podem pensar nos próprios territórios. O livro mostra que precisamos nos atentar para as particularidades dentro do continente africano”, destaca.

Estudos sobre o continente são generalistas

O pesquisador explica ainda que esse olhar estigmatizado vem também dos estudos sobre a África, muitos produzidos nos Estados Unidos e na Europa, e que acabam sendo usados no Brasil já como uma versão adaptada. Para ele, é preciso olhar de forma mais séria para o continente, de forma a fazer uma leitura mais direta das variadas situações nos diferentes países.

“É preciso um exercício genuíno de observação desse continente, que sempre foi representado de forma tão caricata, pejorativa e descolada da realidade até mesmo pela ciência. Nós temos muita produção acadêmica altamente generalista sobre a África. A gente triangula muito nossas informações no Brasil sobre o que é o continente africano. Ainda estamos em um lugar em que uma pessoa que estudou um país é considerada conhecedora do continente inteiro. E quando aplicamos em outras partes do mundo, vemos que não é verdade. Uma pessoa que estudou Albânia, por exemplo, não vai ser chamada para explicar Europa. Alguém que estudou Japão dificilmente vai ser chamado para falar sobre a Ásia inteira e assim por diante. Na África, especialistas de alguns países ainda são vistos como especialistas de todo o continente”, detalha.

Uma parte da pesquisa que compôs o livro “Africano: uma introdução ao continente” ganhou uma versão francesa, publicada na coleção de estudos africanos pela editora L’Harmattan, e, segundo o autor, é um primeiro passo para seus próximos estudos de economia urbana em diferentes países da África Ocidental.

“Eu tenho um entusiasmo enorme para estudar o continente africano, mas eu tive que fazer alguns recortes. Agora minha ideia é continuar especialmente nos temas que são importantes para construirmos uma leitura de mundo que não tenha, necessariamente, que passar por todas as referências europeias e dos Estados Unidos”, finaliza.

Capa do livro "Africano: uma introdução ao continente"
Capa do livro "Africano: uma introdução ao continente" © Divulgação

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