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Compositora francesa cria sinfonias, óperas e balés com sons da Floresta Amazônica

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A descoberta da Amazônia mudou radicalmente a vida e a obra de Isabelle Sabrié. A soprano e compositora francesa passou a compor sinfonias, óperas e balés com os sons da floresta que são a base de um novo conceito musical desenvolvido por ela.

A compositora e soprano francesa, Isabelle Sabrié, mora em Manaus desde 2008.
A compositora e soprano francesa, Isabelle Sabrié, mora em Manaus desde 2008. © RFI/Adriana Brandão
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Isabelle Sabrié nasceu em Paris, fez uma formação clássica de cantora lírica, ganhou prêmios como soprano solista, tinha uma carreira tradicional, viajando, fazendo turnês nos quatro cantos do mundo, até que em 2006 ela conheceu a Amazônia. Durante uma turnê à Guiana Francesa, passou três horas passeando pela floresta e ficou encantada. “Foi extraordinário! Eu estava talvez escutando 100 sons ao mesmo tempo e quase conseguia distinguir cada um. Para mim, isso era um milagre”, conta.

Ela faz a comparação entre essa sinfonia da floresta e a paz mundial. “É um sistema que permite a cada um de se expressar sendo ouvido simultaneamente. Eu precisava descobrir como isso funcionava para, como compositora, achar as respostas para a música do século 21.”

Dois anos depois, Isabelle Sabrié se mudou para Manaus, onde começou a dar aulas de canto na Universidade do Estado do Amazonas e pôde escutar e desvendar diariamente os sons da floresta que passaram a ser fonte de inspiração e base de seu trabalho.

Harmonia ritmo espacial

Com suas observações, ela desenvolveu um conceito musical inspirado “no equilíbrio que existe na natureza para as comunicações sonoras” ; a “harmonia ritmo espacial”.

“A primeira vez que percebi isso, eu estava ouvindo sapos. Eram sapos que emitiam sons muito curtos: croac, croac, croac; e bastante regulares. Eu percebi que tinha dois sapos a uma certa distância (à direita e à esquerda) e um outro mais ou menos no meio que entrava (coaxava) exatamente no silêncio entre os dois”. A compositora descobriu assim que a posição dos animais no espaço correspondia à posição deles no tempo e que a natureza tinha um ritmo musical que ela podia reproduzir.

“Para mim, foi um choque. A revelação de uma ordem que era desconhecida da ciência que avançou pouco neste assunto. Os cientistas têm uma definição de ritmo que ainda está em transformação. Musicalmente, isso me permitiu desenvolver um jeito de colocar músicos fora do palco.”

Em suas composições, Isabelle Sabrié mistura os sons da floresta, a sons eletrônicos e instrumentos clássicos. Uma das principais características das interpretações é a colocação dos músicos não somente no palco, mas ao redor do público na plateia.

“Isso cria emoções novas e também relações novas entre os instrumentos e as espécies. E foi isso que a floresta me ensinou. Com tantos sons ao mesmo tempo, para que cada um possa ser ouvido, eles não podem estar na mesma árvore, mas distantes uns dos outros no espaço. Também precisa não falar todos ao mesmo tempo, mas isso nós sabemos”, detalha, completando que “todo mundo tem coisas muito importantes para falar”.

Nova ópera

O novo trabalho que está sendo composto por Isabelle Sabrié vai estrear no próximo Festival Amazonas de Ópera, em 2023. Ela antecipa que metade da história se passa na floresta e a outra metade em uma cidade grande. O personagem principal Marcus, fica louco e a posição dos músicos e dos instrumentos no teatro foi pensada para ilustrar essa loucura sonoramente.

“A espacialização tem uma função dramática. Eu coloquei percussões nos quatro cantos da sala e elas fazem um movimento circular como se fosse a loucura do Marcus: turuummmm, turummmm, rumm,  rumm”, ela imita com a voz. A compositora insiste que “isso é um conceito para o século 21. São as relações que nós temos todo dia. Representa a nossa multivida com a internet”.

A aceleração da destruição da Floresta Amazônica nos últimos anos tem influenciado o trabalho da compositora francesa. Por exemplo, ela incluiu tosses, provocadas pelas queimadas na região, em uma de suas obras.  “Influencia a minhas obras duplamente, pelo (impacto) sons da floresta e pelos dramas, as vidas”, indica.

Isabelle Sabrié, que é escritora, autora do romance “L’Arme d’Amour” (A Arma do Amor, publicado em francês, abordando a neurociência da não-violência e democracia, tem um site onde disponibiliza várias de suas obras sonoras e escritas. Ela recomenda a ouvir suas músicas somente com fones de ouvido para perceber todos os recursos e riqueza da espacialização sonora que ela cria.

Clique na foto principal para ver a entrevista na íntegra.

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